quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

106. Absurdo...

Recebi os dois comentários abaixo. O primeiro na postagem 034. Do Apocalipse e o segundo na postagem 080. Daniel. São:

Anônimo disse...

Norman Cohn, como voce mesmo afirma, é historiador, não teólogo!! Como pode um historiador ser base para estudo de teologia? O Prof. Dionísio é o mesmo que você cita no item 80, pelo visto, racionalista! Como pode um racionalista, que não crer nem que Daniel existiu (um personagem literário, como você disse), ensinar teologia e fé? Lamentavel esse tipo de ensino nos seminários e faculdade teológicas. Vejo que você está absolutamente perdido, orientado por pessoas sem fé, que não tem conhecimentos espiritual, mas racional (historiadores, racionalistas etc). Por isso você diz que tinha "medo", e que esses racionalistas tiraram seu "medo"... Será que eles não tiraram a sua fé? Você precisa deles para crer na Bíblia, para crer em Deus? Ou sera que na verdade voce nunca teve fé! Pense com mais seriedade nessas questoes, analise melhor suas leituras.

Anônimo disse...

Absurdo voce como estudante de teologia aceitar a postura de um racionalista, como citei no item 34! Se a Biblia pode ser interpretada pela historia não ha necessidade de fe, ela se torna um livro comum, sem sentido para a cristandade. Acho que voce esta perdido, sem fe, sem saber em que acreditar! O ensino racionalista nos seminarios e faculdade teologica tem confundido a cabeça dos alunos e levado a posturas ceticas, nao cristãs. Analise melhor sua leitura, enxergue nas entrelinhas e vera a verdadeira intenção dos racionalistas, destruir a biblia, a palavra de Deus, tirar-lhe o crédito, e voce assina embaixo!

Infelizmente não sei o nome do autor ou autora dos comentários, mas mantenho a opção de postagem anônima, pois me são mais importantes os comentários do que os nomes e como não poderia deixar de ser, vou respondê-lo ou respondê-la, seja quem for. Tratar-te-ei como homem, mas se és mulher, me desculpe, não tenho como saber. Não comentei antes por que estava sobrecarregado com trabalhos e provas. Agora que tenho tempo, respondo.

Comentarei os dois comentários juntos, pois o próprio autor faz a ligação entre eles.

Norman Cohn, como voce mesmo afirma, é historiador, não teólogo!! Como pode um historiador ser base para estudo de teologia?”

Norman Cohn é historiador mesmo, mas quem disse que ele é base para o estudo da Teologia? Todas as vezes que recebo algum comentário em alguma postagem, eu releio a postagem para lembrar o que escrevi e em momento algum eu coloquei o renomado historiador como base para estudo da Teologia. Se alguém o fez, por favor, avise que está cometendo um pequeno erro.

Agora, com relação à relação da Teologia com a História, bem, neste ponto a Teologia têm de ceder espaço.

A Teologia não pode dizer que detém a verdade absoluta e abdicar dos conhecimentos que as ciências humanas podem proporcionar.

É preciso haver a transdiciplinaridade. A Teologia não vai baixar a cabeça para a História, Psicologia, Filosofia ou qualquer outra ciência. Mas ela não o fará, porque estas ciências não pedem que ela faça isto. A transdiciplinaridade consiste justamente do andar em conjunto das diversas ciências. Até onde vai a Filosofia? Até onde vai a História? Até onde vai a Teologia? E como elas podem se ajudar?

Se pensarmos a Teologia como ciência (ciência?) auto-suficiente, então somos de todos os mais “miseráveis de todos os homens” (Estou usando a expressão e não o versículo).

A Teologia, sempre acostumada a ser sistemática e, portanto dogmática, não gosta de pedir ajuda às outras ciências. Gosta de resolver sozinha, mas é hipócrita. Por que nas famosas Bíblias de estudo, é comum ver os resultados arqueológicos que comprovam X ou Y história bíblica. Então a Arqueologia para favorecer e abalizar as ideias ditas cristãs é útil, mas para apresentar outra possibilidade de interpretação de histórias bíblicas é do “demônio”? Hipocrisia. Se for utilizada para um fim, porque não pode ser utilizada para outro? Afinal, o fim último não é validar ou invalidar a veracidade de uma história, mas sim conhecer o evento. O que se passou? Como se passou? Quando se passou? Com quem se passou? Entre outras perguntas cabíveis. Se as descobertas arqueológicas desfazem um significado atribuído a uma história ou objeto, o que se fará? Mudar a história e o objeto para que o significado permaneça ou entender que talvez (TALVEZ) o significado não corresponda à realidade dos novos conhecimentos.

Alguns exemplos simples que podem justificar o extenso parágrafo acima:

Baltazar é filho de Nabônides, não de Nabucodonosor, e nunca teve o título de Rei; “Dario, o medo”, é desconhecido dos historiadores e não há lugar para ele entre o último rei caldeu, Nabônides e Ciro, o Persa, o qual já havia vencido os medos (549 a.C.) quando conquistou o Império Babilônico; Nabucodonosor não levou para o exílio Joaquim e nem os utensílios do Templo de Jerusalém

Estes exemplos estão no texto do prof. Dionísio e correspondem a uma leitura atenta da Bíblia e a descobertas arqueológicas apresentadas por H. H. Rowley e H. Donner.

Bem, com base nestas descobertas é preciso reavaliar as informações presentes no livro bíblico, ou então jogar o trabalho da arqueologia fora. Desde que a pesquisa seja séria e os resultados sejam avaliados ao extremo, eu não vou ignorar o achado arqueológico.

Construir uma teologia que não esteja em constante diálogo com as demais ciências é arriscar-se a errar gravemente uma interpretação de algum texto bíblico.

“O Prof. Dionísio é o mesmo que você cita no item 80, pelo visto, racionalista!”

Com relação ao prof. Dionísio ser ou não racionalista, não posso afirmar ou nem negar. Precisaria saber qual a tua definição de racionalismo e, com base nela saber do próprio prof. Dionísio se existe identificação.

Como não estou autorizado a falar do professor e não sei se ele aprovaria, silenciarei com relação a esta questão.

“Como pode um racionalista, que não crer nem que Daniel existiu (um personagem literário, como você disse), ensinar teologia e fé?”

E qual é o problema de um racionalista ensinar alguma disciplina da grade curricular de Teologia? Acaso o Racionalismo não trouxe apenas à razão tudo aquilo que se dizia saber? Tudo passou a ser questionado e não vejo problema nisso. Imaginemos a situação, que é muito comum, aliás, em várias igrejas no contexto religioso brasileiro:

Na igreja X as mulheres têm de usar um véu. A doutrina baseada na leitura bíblica afirma que as mulheres precisam do véu. Os líderes religiosos defendem a posição de acordo com a revelação do Espírito Santo presente na Bíblia.

Na igreja Y as mulheres não têm de usar um véu. A doutrina baseada na leitura bíblica afirma que as mulheres não precisam do véu. Os líderes religiosos defendem a posição de acordo com a revelação do Espírito Santo presente na Bíblia.

Bem, se não uso a razão, como saber em qual igreja o Espírito Santo fala? Ou será que ele fala nas duas? Se falar, então por que os dois estão na luta por fiéis?

Se a razão for utilizada, então tenho de pensar que pode existir a possibilidade de alguma igreja estar errada ou das duas estarem erradas ou então das duas estarem corretas e só o Espírito Santo sabe dizer por que deixa as duas se digladiarem. Mas usando a razão, eu não posso provar a ação divinal, então o que farei? Analisarei os textos bíblicos nos quais as duas igrejas se baseiam e decidirei qual considero certa e qual considero errada. Razão. Racionalismo. Servindo a Teologia. A contribuição do Racionalismo para a Teologia está em afirmar que o homem pode conhecer. Que o conhecimento não é privativo aos deuses, como, por exemplo, na Grécia. Tudo o que acontecia era da vontade dos deuses e não adiantava ao homem tentar interferir, pois todas as ações estavam destinadas ao fracasso. Não são essas as famosas “tragédias”? O homem em seu esforço máximo para tomar o controle da própria vida, mas sempre frustrado pelos caprichos incompreensíveis da divindade?

É claro que a experiência sensível não pode ser ignorada, mas se não fosse para usar esta razão, então porque eu a teria? E mesmo a experiência sensível é também interpretação. De fato, tudo é interpretação. O que não significa que a realidade não pode ser obtida. Se alguém furar a mão vai sangrar, mas neste caso existe uma causa que pode ser pensada.

Já sou eu a escrever sem saber qual o teu conceito de racionalista.

E só para constar, ninguém me ensina Teologia. Apresentam-me teologias e eu vou construindo a minha. Ensinar? Não.

Pior ainda é tentar ensinar a fé. Isto só acontece nas igrejas. Os professores que se prezam estão pouco se importando em tentar “ensinar uma fé” ao aluno. A fé é pessoal. Ela é construída e ao mesmo tempo é encanto. É algo que permito acontecer e ao mesmo tempo ela não pede permissão. Parece confuso e é mesmo. Minha ideia de fé ficará para outra postagem, mas afirmo que ninguém me ensina fé. Ensinaram-me na igreja. Lá me disseram que fé é isso e aquilo. Que fé é compromisso. Que fé é a única forma de agradar a divindade. Que fé é tudo! Menos uma escolha pessoal. Que é escolha pessoal ninguém jamais me avisou. Preveniram-me de que se eu não tivesse fé, era por que eu não me permitia acreditar. Bem, se eu tenho de me permitir acreditar, então eu sou convencido por mim mesmo e não pela ação das pessoas da divindade, logo, há um problema. Por que na Bíblia está escrito que é o Espírito quem convence (João 16.7 e 8; I Coríntios 2.03,12. 3) Então eu devo mudar a interpretação dos versículos ou devo mudar a interpretação de que a fé é decisão minha? Se for minha, já não cabe a explicação do Espírito. Se for dele, então eu nada posso fazer e se não acredito a responsabilidade não é minha.

“Lamentavel esse tipo de ensino nos seminários e faculdade teológicas.”

Lamentável? Discordo. É lamentável não ter este tipo de “ensino” nas igrejas. Ensino que estimule o indivíduo a pensar. Que estimule a pessoa e decidir por si e não pelas pirraças de uma interpretação de líderes religiosos atuais ou antigos. São dignas de pena as pessoas que têm sua liberdade tolhida e que não podem ser o querem porque estão amedrontadas pelo inferno dogmático e porque lhes fizeram enxergar como verdade que os sonhos, desejos e aspirações humanas não devem ser comparados com os “sonhos” da divindade. São pessoas frustradas por não poderem ser o que queriam. Atormentadas por fantasmas eternos. Eu tenho o fantasma que me atormenta. Leia a postagem 005. Do despertar da consciência e saberá qual é.

“Vejo que você está absolutamente perdido, orientado por pessoas sem fé, que não tem conhecimentos espiritual, mas racional (historiadores, racionalistas etc).”

Que estou perdido é óbvio. É o nome do blog. Faltou dizer que estou só e em dúvida. Que sou orientado por pessoas sem fé, é um baita engano seu. Como podes dizer que meus professores não têm fé? Acaso tu os conheces? Acaso estás com eles a cada minuto do dia? Todos os meus professores pertencem a igrejas. Todos são membros atuantes. Todos criam seus filhos na igreja. Isto conta para saber se eles têm fé? Por que é sempre o primeiro argumento que escuto: “nem está na igreja”. Se não conta para provar a fé de cada um, então o que conta? E pergunto, porque parece que para ti importa saber se eles têm fé. A mim não importa. Estou a analisar os conteúdos e não a fé de cada um. Sei que a postura teológica de cada um influencia na transmissão de conteúdos, mas mesmo assim cabe ao aluno discernir o grau de influência.

É como situação e oposição.

O presidente falava tão mal da situação. Era oposição. Agora é situação e segue as mesmas medidas inauguradas pela situação da qual antes tanto reclamava. É preciso ter discernimento para não misturar a razão com os sentimentos. Gostar de fulano e por isso aceitar seus erros é uma coisa bem diferente de gostar de fulano e adverti-lo de suas práticas erradas e isso se (SE) as práticas estiverem mesmo erradas conforme um código mútuo.

Por favor, defina “conhecimento espiritual”. Só escrevo acerca desta se souber a tua definição.

“Por isso você diz que tinha "medo", e que esses racionalistas tiraram seu "medo"... Será que eles não tiraram a sua fé? Você precisa deles para crer na Bíblia, para crer em Deus? Ou sera que na verdade voce nunca teve fé!”

Querido, (perdão pela intimidade), acredito que não tenhas entendido o que eu escrevi. Eu tinha medo antes. Quando era catequizado pela igreja. Eu não tenho medo agora. O teu “por isso” não tem sentido. E os racionalistas que tu vês não tiraram nada. Eles nem sabiam que eu tinha medo. Eles me apresentaram conteúdos. Eu analisei e o medo foi extinto. Eles não tiraram minha fé. A fé que eu tenho é minha. Assim como a falta de fé que eu tenho também é minha.

De acordo com tua apresentação, medo é sinônimo de fé? Então enquanto eu estava apavorado com o fim do mundo era um crente. Agora que o medo se foi eu sou descrente? Bela fé esta tua. Fé que é medo. Fé que aprisiona. Fé que mantêm todos nas igrejas/currais.

E onde foi que eu escrevi que não creio na Bíblia ou em Deus? Só porque eu não entendo mais uma passagem bíblica como a tradição ensina quer dizer que eu sou ateu? Se isso te deixa tranqüilo, eu ainda acredito na Bíblia. Só que possivelmente a minha crença não é a mesma que a tua.

Afirmo que não conheço livro mais maravilhoso de ser estudado do que a Bíblia. Quando eu engrossava as fileiras dos “crentes”, a Bíblia era lida com o temor de ser quase intocável. De fato, era intocável, afinal, “E, se alguém tirar quaisquer palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte do livro da vida, e da cidade santa, e das coisas que estão escritas neste livro.” Apocalipse 22.19.

Hoje a Bíblia é muito mais agradável de estudar. Posso mexer aqui e ali sem o temor de ser atingindo por um raio e de maneira alguma perdi o respeito e admiração que tinha por ela. Apenas modificaram-se os conceitos, mas respeito e admiração ainda os tenho.

Com relação a Deus, bem, pergunta para ele.

Se eu algum dia tive fé? Tive. A ponto de cometer o maior erro da minha vida justamente por que a fé me indicava fazer. E quero ver quem contestará que foi um ato de fé.

“Pense com mais seriedade nessas questoes, analise melhor suas leituras.”

É um conselho? Agradeço. E é o que eu mais faço. As leituras são levadas a sério, assim como as aulas e como as conversas e os comentários no blog. Pense comigo. Se um comentário me fez escrever este texto, então provavelmente eu leve as coisas a sério. As partes engraçadas (raras eu sei, diria até inexistentes) no blog são para descontrair mesmo. Não se vive só de teologia.

“Absurdo voce como estudante de teologia aceitar a postura de um racionalista, como citei no item 34!”

Absurdo? Desculpe, mas quem és para dizer se o que eu faço ou não é absurdo ou não? OPS! Estavas falando que é absurdo para ti somente? Ah, se é assim então tudo bem. Concordo. Absurdo mesmo. Intragável.

Eu aceito ou não a postura teológica, histórica, filosófica, de quem eu quiser. E concordo se eu quiser. Absurdo é não ouvir as diferentes posturas que existem por aí. Não sei se és protestante ou católico, mas um exemplo que diz respeito às duas posturas é cabível. A postura teológica de Lutero não foi muito apreciada pela Igreja Católica. Vais me dizer que ele estava errado? E que todos que aceitaram a postura também estavam e estão errados? Se é assim tem muita gente perdida e nem sabe. Mas por que ficar em Lutero? Judaísmo. A postura de Jesus não foi muito bem aceita pelos judeus e vais me dizer que Jesus estava errado? Se Jesus estava errado, então pegue aquela “muita gente” e multiplique por milhões. E aí?

Postura diferente é apenas postura diferente e eu lerei, ouvirei, lerei e analisarei cada uma que estiver ao meu alcance. Se para ti é um absurdo, então fico ainda mais surpreso. Sabe o significado de absurdo? Eu escrevo aqui para ti, direto do dicionário Priberam: “contrário ou repugnante à razão”.

Logo tu que não gostas que aceitem posturas racionalistas me escreve uma dessas? Ou “absurdo” para ti tem outro significado?

“Se a Biblia pode ser interpretada pela historia não ha necessidade de fe, ela se torna um livro comum, sem sentido para a cristandade.”

A Bíblia não pode ser interpretada pela História. A História apresenta uma reconstrução plausível de eventos passados. Quem utiliza essa reconstrução e interpreta (agora sim) a Bíblia é o homem.

O homem, que tem fé ou não, interpreta aquilo que lê na Bíblia. A fé não é uma substância que sozinha interpreta o que quer que seja.

O homem interpreta segundo a fé que professa? Claro. Mas a fé que professa já é uma escolha do homem. Então antes do homem há o homem e não a fé.

E a Bíblia é um livro comum. Comum como todos os demais. O material é o mesmo de todos os demais livros. Tem algumas que até reservam espaço para anotações. É uma agenda religiosa quase.

Mas a Bíblia também é livro sagrado. Sagrado porque foi sacralizado em Nicéia. E não digo que não era sagrado antes. A questão é que não estava fechado como está hoje. Então não era tão sagrado quanto muita gente pensa hoje. Já ouviu falar em Midrash? E em Alegoria?

São duas técnicas muito antigas de interpretação. E uma delas permitia ao intérprete mexer no texto sagrado. Então, antes de escrever que a Bíblia não pode ser interpretada pela História sem perda de sentido para a cristandade, procure essas duas técnicas. Mas aviso, só procure estes termos se a tua fé for realmente capaz de não ser abalada, pois é Nitroglicerina pura. Se mexer, explode. E no caso, o atingido pelo impacto da explosão é quem mexe.

E por que um livro comum não poderia ter sentido para a cristandade? Com certeza teria para o Cristianismo.

“Acho que voce esta perdido, sem fe, sem saber em que acreditar!”

Copiou o nome do blog? Pelo menos agora quase acertou, mas ainda faltou o “só”.

“O ensino racionalista nos seminarios e faculdade teologica tem confundido a cabeça dos alunos e levado a posturas ceticas, nao cristãs.”

Não. O conteúdo (sei que chamas de ensino, mas prefiro usar a palavra “conteúdo”) não confunde a cabeça dos alunos. O que confunde os alunos é viver no dualismo entre a realidade aprendida como verdade absoluta na igreja e a realidade de saber que aquela realidade doutrinal não necessariamente era a verdade absoluta aprendida nos seminários.

Imagine viver a vida inteira tendo como certo a composição da Bíblia por “40 autores divinamente inspirados” e sem mais nem menos saber que há um processo de construção dos livros bíblicos que dura mais de mil anos. O pobre estudante vai até o líder religioso e tem a resposta que estão tentando tirar-lhe a fé, assim como você escreveu. O estudante sai do gabinete pastoral reconfortado com a explicação, (esta hipótese é só no caso de estudantes serem atendidos pelos pastores, o que já seria uma vitória) mas quando chega ao seminário, ele tem três possibilidades de escolhas. (1) Analisar a fundo tudo que é dito e verificar a plausibilidade do conteúdo ou (2) ignorar tudo ou (3) desistir de estudar Teologia. E, infelizmente, vi dois terços dos alunos que começaram no primeiro período da faculdade desistirem. Dos que estão muitos ignoram. Muito interessante que poucos são os que levam a sério o que é estudado. Deve ser por isso que a corja de líderes religiosos continua por aí a enganar as ovelhas, que são ovelhas, ou seja, animais e não pessoas.

E eu sou cético com relação a muitas coisas e não deixei de ser crente.

“Analise melhor sua leitura, enxergue nas entrelinhas e vera a verdadeira intenção dos racionalistas, destruir a biblia, a palavra de Deus, tirar-lhe o crédito, e voce assina embaixo!”

Querido, analisar a leitura é o que mais faço tanto o que leio quanto como leio. Já escrevi isto acima. As entrelinhas são examinadas à exaustão. E tu? Já analisastes as entrelinhas da Bíblia? E por “entrelinhas” eu me refiro ao texto pelo texto. Permita-me fazer uma sugestão, experimente ler o texto e não permitas que a Tradição leia por ti. Verás um mundo tão diferente que te perguntarás se é mesmo a Bíblia. Ou então não perguntarás, sei lá.

Antes de entrar no seminário eu compartilhava as mesmas ideias, a saber, que queriam destruir a Bíblia. Hoje eu vejo quem quer destruir a Bíblia. A maioria dos meus professores dedica a vida a estudar a Bíblia e fazem o possível para preservá-la. Mas querem, assim como eu, conservar a Bíblia e não uma leitura dogmática.

O que os outros lêem na Bíblia, não me interessa mais, a não ser que seja uma leitura diacrônica a ou acrônica. Aí sim me interessa.

Quero eu ler a Bíblia. Quero eu saber o que está escrito lá. E eu discordo de muitas leituras que meu professores fazem. Algumas leituras minhas são de arrepiar os cabelos de alguns. Então eu sou “pior” do que eles? Eles criaram um monstro? Sou monstro por querer saber exatamente o que o profeta Isaías disse? Ou pelo menos tentar saber? Não sou um monstro descrente herege destinado ao inferno.

Sou apenas um ser humano que acredita ser possível através do estudo sério, entenda-se utilizando todas as ferramentas disponíveis e sem pré-concepções (na medida em que for possível), compreender pela razão o (s) sentido (s) que um determinado autor quis transmitir em algum texto, sempre no campo da plausibilidade e nunca da certeza absoluta.

Para ter a certeza absoluta, só perguntando ao autor. Em se tratando da Bíblia, os autores não estão acessíveis.

Por que ao autor? Por que eu acredito que o sentido de um texto só é dado pelo autor do texto, ou seja, para saber o que o texto significa, é preciso saber do autor o que ele quis dizer. (intentio-auctoris).

Parece sensato para mim. Eu não sei tua definição do Racionalismo, então te perguntei. Simples. Se o texto falasse por si, eu não perguntaria. Se a minha fé falasse sem a necessidade de minha interpretação, eu não te perguntaria. Se alguma divindade falasse, eu não te perguntaria.

Os fatos são: o texto tem várias possibilidades de significados, minha fé ou a falta dela não se pronunciaram e os deuses estão calados.

Quem me resta? O autor. Então pergunto.

E para a Bíblia? Pergunto a quem? À Tradição que diz simplesmente transforma o texto em alegorias? Aos líderes religiosos que seguem as alegorias? Aos professores (racionalistas ou não) que darão as suas interpretações ao texto?

De jeito nenhum!

Eu vou perguntar ao autor e para isso preciso das ciências. Preciso da ajuda da História. Preciso da ajuda da Literatura. Preciso da ajuda da Filosofia. Preciso da ajuda da Epistemologia. Preciso da ajuda de muitas ciências e eu não tenho vergonha de pedir ajuda.

A minha teologia (ainda em construção) dialoga com todas estas e com todas aquelas que puderem ajudar a erguê-la de forma honesta. Mesmo que errada aqui ou ali, será honesta para saber que não é a verdade absoluta e que precisa de reparos. Mas a teologia não é um corpo. Eu faço a teologia. Se a quero honesta, então eu tenho de ser honesto. E estou tentado fazer isto.

Eis o que as teologias por aí precisam, de reparos e de honestidade. Mas enquanto se enxergar a ajuda como tentativa de destruição, será impossível.

Não sou exemplo e pode ser que ao concluir algumas etapas de meus estudos eu retorne a ser o que era antes. Mas até lá, vou vivendo uma etapa de cada vez.

Obrigado pelo comentário.

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