sábado, 24 de outubro de 2009

091. Camões

Se há alguém que ande comigo, embora que apenas virtualmente e pelas minhas pobres elucubrações, este é Camões.

Ele chorou. Agora choro eu. (pelo menos tento, embora as lágrimas não venham)

Quando de minhas mágoas a comprida


Luís Vaz de Camões

Quando de minhas mágoas a comprida
Maginação os olhos me adormece,
Em sonhos aquela alma me aparece
Que pera mim foi sonho nesta vida.

Lá numa saudade, onde estendida
A vista pelo campo desfalece,
Corro pera ela; e ela então parece
Que mais de mim se alonga, compelida.

Brado: - Não me fujais, sombra benina!
Ela, os olhos em mim c'um brando pejo,
Como quem diz que já não pode ser,

Torna a fugir-me; e eu gritando: - Dina...
Antes que diga: - mene, acordo, e vejo
Que nem um breve engano posso ter.



***

Tanto de meu estado me acho incerto

Luís Vaz de Camões

Tanto de meu estado me acho incerto,
Que em vivo ardor tremendo estou de frio;
Sem causa, juntamente choro e rio;
O mundo todo abarco e nada aperto.

É tudo quanto sinto um desconcerto;
Da alma um fogo me sai, da vista um rio;
Agora espero, agora desconfio,
Agora desvario, agora acerto.

Estando em terra, chego ao Céu voando;
Nu~a hora acho mil anos, e é de jeito
Que em mil anos não posso achar u~a hora.

Se me pergunta alguém porque assim ando,
Respondo que não sei; porém suspeito
Que só porque vos vi, minha Senhora.

***

E o mais lindo de todos, talvez porque sinto nele alguma esperança:

Ditoso seja aquele que somente

Luís Vaz de Camões

Ditoso seja aquele que somente
Se queixa de amorosas esquivanças;
Pois por elas não perde as esperanças
De poder nalgum tempo ser contente.

Ditoso seja quem, estando absente,
Não sente mais que a pena das lembranças,
Porque, inda mais que se tema de mudanças,
Menos se teme a dor quando se sente.

Ditoso seja, enfim, qualquer estado,
Onde enganos, desprezos e isenção
Trazem o coração atormentado.

Mas triste de quem se sente magoado
De erros em que não pode haver perdão,
Sem ficar na alma a mágoa do pecado.

Fonte: Rua da Poesia

090. Ainda a solidão...

Lacrimae Rerum

Noite, irmã da Razão e irmã da Morte,
Quantas vezes tenho eu interrogado
Teu verbo, teu oráculo sagrado,
Confidente e intérprete da Sorte!

Aonde são teus sóis, como coorte
De almas inquietas, que conduz o Fado?
E o homem por que vaga desolado
E em vão busca a certeza, que o conforte?

Mas, na pompa de imenso funeral,
Muda, a noite, sinistra e triunfal,
Passa volvendo as horas vagarosas...

É tudo, em torno a mim, dúvida e luto;
E, perdido num sonho imenso, escuto
O suspiro das cousas tenebrosas...

De Antero de Quintal

Fonte: Rua da Poesia

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

089. Sozinho

Por que?

Por que parece que estou sozinho? Parece que de fato estou. Vejo em alguns rostos o mesmo interesse pela possibilidade de alcançar os conteúdos mais profundos e escondidos que tiram o ar e dão angústia que tenho e mantenho.

Mas são ilusões. Não estão entretidos e dispostos na busca como eu estou.

Alguns decidiram não buscar enquanto outros não estão cientes nem da existência de uma busca que pode ser feita.

Qual busca? A busca pelo conteúdos mais profundos, eu já escrevi.

Quais conteúdos?

Aqueles que estão escondidos, eu já escrevi.

Quais? Tem certeza de que quer saber? Pode acontecer ao leitor (se é que há mais algum) de que ao ser informado também queira adentrar na busca inalcançavel. Por apenas um motivo eu não recomendo: VOCÊ ESTARÁ SOZINHO.

Agora sei o quão sozinho estou. De fato, já estava quando da criação deste blog, mas é que a cada nova descoberta e a cada nova conversa com as pessoas à minha volta, mais sozinho sei que estou.

A cada conversa há uma nova decepção.

É interessante, pois vejo as pessoas conversarem e se alegrarem e viverem sem as preocupações que me acometem.

É incrível saber que as pessoas estão bem hoje, assim como sempre estiveram sem a necessidade de responder as perguntas mais inquietantes da vida.

A maioria é como gado, (para usar uma expressão muito utilizada pelo prof.Osvaldo), e não pesam. Se contentam em ser levadas por um grupo que mantém o aprisco sempre fechado.

Como conseguem? Como podem conversar acerca do novo celular, ou do novo carro, ou das dificuldades no trabalho, ou da falta de tempo para estar com a família ou sobre o que mais se converse (não sou sociável ao ponto de saber), sem que se importem com as maravilhosas obras de Kant, Heidegger, Schleiermacher e outros mais?

Talvez a resposta seja: do mesmo modo que eu vivi até hoje sem conhecimento dessas obras.

Mas tenho a meu favor o fato de que por mais que não soubesse da existência desses autores, já havia em mim a insatisfação.

O vetor de força que me mantém onde estou é a insatisfação.

Insatisfação que não me permite aceitar as explicações fáceis, as respostas prontas, o cotidiano mecanicista de nascer, crescer, estudar, trabalhar, casar, procriar e morrer.

Ao mesmo tempo há a infelicidade de saber que acordei. E infelicidade, pois ainda não consegui me acostumar com a ideia.

Tem que haver mais. Mas este "tem" é apenas pela insatisfação de querer achar algo.

Sei que estou só, pois não vejo as pessoas buscarem sair desta máquina chamada vida programada.

De que adianta saber se Moisés existiu ou não? Para uma pessoa comum? Nada. Nada muda.

É incrível.

Talvez a resposta seja a do autor/es de Eclesiastes e viver a vida seja a única coisa que importe.

Talvez ele/s esteja errado.

Talvez haja mais.

Quem saberá? Apenas aquele que buscar poderá responder ou não esta questão. Mas, ainda que não responda, pelo menos ele saiu da vida programada. Ele quebrou a máquina que o mantinha preso na ilusão.


Há alguém que ande ao meu lado?



terça-feira, 20 de outubro de 2009

088. Bear Grylls

Um dos programas mais interessantes da TV (por assinatura) é Man versus Wild (Homem versus Natureza), traduzido no Brasil como À prova de tudo.

No programa o ex-membro das forças especiais inglesas Bear Grylls tenta demonstrar técnicas de sobrevivência em locais de extremo risco.

Todos os locais visitados pela produção do programa são pontos turísticos conhecidos no mundo e apresentam índice elevado de turistas e até guias perdidos.

O programa é muito interessante porque Bear se limita a apresentar dicas práticas (simples) essenciais para a sobrevivência, desde como montar um abrigo contra o frio, chuva ou calor até uma filtro de água com um buraco na areia, uma camisa e um cantil.

Bear pode ser considerado um McGyver na natureza.

O mais legal da atuação de Bear é que ele demonstra claramente que é preciso estar disposto a tudo para sobreviver. E por estar disposto a tudo, Bear não escolhe cardápio e sua dieta é hilária!

Então, alguns vídeos selecionados para apreciação do leitor (se é que há algum), mas aviso: APENAS PARA QUEM TEM ESTÔMAGO PARA ASSISTIR.

Menu ao estilo Bear Grylls:

Couvert


Entrada

Prato principal



Sobremesa

E para beber?

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

089. Do Apocalipse II

Recebi o seguinte comentário na postagem 34.Do Apocalipse.

Anônimo disse...

então acha q tudo existe por acaso?se acredita no deus q te deu a vida,deve acreditar no da biblia.tudo esta acontecendo e poucos estão se importando e é assim q poucos se salvarão!!!

15 de Outubro de 2009 15:26

Muito obrigado pelo seu comentário.

Gostaria de saber se és homem ou mulher, pois assim saberia como tratá-lo ou tratá-la, se por senhor ou senhora, mas tudo bem. Usarei o masculino, se estiver errado, peço que me desculpes.

Reli a minha postagem. Procurei em todo o texto alguma parte em que tivesse escrito que a crença no acaso seja a razão da existência de tudo que se dá no mundo e do mundo em si.

Não encontrei.

Em momento algum do texto escrito há sequer uma menção ao acaso.

Apresentei as histórias e crenças antigas que levaram ao surgimento da crença atual no apocalipse como evento final da existência humana no planeta.

Não toquei no “Apocalipse” enquanto livro bíblico. Só fiz uma referência e até muito comedida, mas confesso que colocar o título com letra maiúscula foi uma provocação que passou despercebida.

Eu li o livro destacado na postagem porque o medo que me tomava diante do cataclismo iminente pintado nas igrejas era forte. Ler o livro foi um alívio e eu não o li buscando encontrar alívio. Tive receio de comprá-lo e ler nas páginas apenas a confirmação de que “O FIM ESTÁ PRÓXIMO!”.

Li para encontrar respostas depois de saber que um dos povos antigos, os persas, também esperavam o fim de tudo com uma batalha sem precedentes na história do universo.

Acompanhe o meu raciocínio.

Um cristão crê que num momento que ninguém sabe qual o fim chegará com a volta de Jesus à Terra. Ele virá para julgar todos os seres. Depois do julgamento, alguns estarão salvos (poucos segundo tua afirmação) e alguns (muitos seguindo a lógica do teu raciocínio) estarão perdidos. O inimigo principal de Deus será enfrentado pelas hostes celestiais que o derrotarão e o lançarão no lago de fogo. Após a derrota do inimigo, os salvos viverão para sempre em paz num mundo perfeito (Céu).

O que temos nas linhas acima?

Um homem crê que em algum momento o ser supremo virá à Terra e julgará os homens. Alguns estarão salvos e outros estarão perdidos. O ser supremo extirpará o mal e os que eram maus antes de sua vinda. O mal que existe será erradicado e os bons viverão numa terra perfeita onde o mal já não existe.

Percebe como as histórias são semelhantes? É claro que são. É a esperança do homem comum escrita na parede, na neve, no pergaminho, no papiro, no papel, na tela do computador...

É o homem que vê o mal a todo o momento e pensa que a situação deve ter um fim, pois não pode ser que aquele que faz o bem seja destruído da mesma forma que aquele que faz o mal.

A crença no apocalipse é o discurso do homem que não suporta mais a injustiça e dor que o maltrata e que assola o mundo. Este homem (não que haja um homem a quem responsabilizar, pois não é assim que os mitos são construídos, mas utilizo a figura humana que representa, ainda que insuficientemente, a coletividade) não tem força para lutar contra aquele que tira os limites de sua terra (“Não mudes o limite do teu próximo, que estabeleceram os antigos na tua herança, que receberás na terra que te dá o SENHOR teu Deus para a possuíres marco da sua terra.” Deuteronômio 19.14), aquele que mata (“Não matarás”. Êxodo 20.13), aquele que adultera (“Não adulterarás”. Êxodo 20.14), aquele que furta (“Não furtarás.” Êxodo 20.15) e assim por diante.

A arma de quem não tem força é a voz, ou será que o caro leitor (agora sei que há ao menos três, embora que talvez não sejam mais...) acredita que tudo foi soprado? Que não há elemento humano quando o texto se refere à vida humana?

Afirmar que a crença no apocalipse é voz de quem não tem força não elimina o possível caráter de revelação das crenças. Alguém pode afirmar que crê em algo por que uma divindade a revelou uma informação que aos demais mortais não foi revelada. Sem problemas. Só não queira que eu acredite no que este alguém dirá como sendo a verdade das verdades. Se a divindade revelou para X, por que não revela para Y? E este Y sou eu.

“Mas a divindade revelou a um homem para que este revelasse aos outros”. Sem problemas. No caso da bíblia foi o autor do Apocalipse, certo? Não. O autor do “Apocalipse” se serve das mesmas crenças persas. Então eu pergunto (já estava com saudade de escrever isto), a divindade revelou a quem? Aos persas, aos judeus ou aos cristãos judeus/gentios? Ou a divindade revelou a todos e cada um fez a sua interpretação da revelação?

Se você acredita que a divindade revelou aos persas, então jogues fora o cristianismo e seja zoroastriano.

Se você acredita que a divindade revelou aos judeus, então jogues fora o cristianismo e seja judeu, mas vá buscar o surgimento da leitura apocalíptica judaica na Mesopotâmia e, provavelmente você vai chegar ao Zoroastrismo.

Se você acredita que a divindade revelou aos cristãos judeus/gentios então seja cristão, mas vá buscar o surgimento da leitura apocalíptica cristã e provavelmente você vai chegar ao judaísmo que te levará à Mesopotâmia e aqui está você novamente no Zoroastrismo.

Se você acredita que a divindade revelou a todos, mas cada um fez a sua interpretação da revelação, então jogue tudo fora e depois pegue tudo e seja o que quiser, pois se você está escolhendo a interpretação que lhe agrada, então você não está escolhendo revelação enquanto processo metafísico, mas sim palavras humanas, elemento humano.

Eu fiz a minha escolha por enquanto, mas se eu me dei ao trabalho de pesquisar tudo isso, que não interessa a ninguém, então talvez eu me importe...

Agora, se o caro leitor vai utilizar a Bíblia para rebater meu texto, ainda que de fato não tenha utilizado, mas apenas mencionado, então é com a Bíblia que conversaremos. O que me diz destas passagens bíblicas?

"Os olhos do homem sábio estão na sua cabeça, mas o louco anda em trevas; então também entendi eu que o mesmo lhes sucede a ambos”

“Assim eu disse no meu coração: Como acontece ao tolo, assim me sucederá a mim; por que então busquei eu mais a sabedoria? Então disse no meu coração que também isto era vaidade”.

“Porque nunca haverá mais lembrança do sábio do que do tolo; porquanto de tudo, nos dias futuros, total esquecimento haverá. E como morre o sábio, assim morre o tolo!”. Eclesiastes 02.14,15,16.

Pois, quem sabe o que é bom nesta vida para o homem, por todos os dias da sua vida de vaidade, os quais gasta como sombra? Quem declarará ao homem o que será depois dele debaixo do sol?” Eclesiastes 06.12

Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças, porque na sepultura, para onde tu vais, não há obra nem projeto, nem conhecimento, nem sabedoria alguma”. Eclesiastes 09.10

Bíblia por Bíblia.

Diga-me, quem está certo? O autor de Eclesiastes ou o autor do Apocalipse?

Não escrevo estas coisas para causar desespero em alguém. Calma! Se você se sentiu ofendido, peço perdão. Mantenha a calma, eu posso estar completamente errado em tudo o que escrevi. Não digo que tenho a verdade em minhas mãos.

Com relação à frase “se acredita no deus q te deu a vida,deve acreditar no da biblia.”, bem, não sei se entendi a tua intenção. É um questionamento da minha crença na divindade? É um questionamento acerca de qual a divindade em que eu creio? É um questionamento ou uma ordem? Até que me respondas, não posso contrapor esta questão. E isso não é uma fuga, não fujo. Se me responderes, mesmo como anônimo (sem problema algum) eu te oferecerei a minha réplica.

088.Mudança

Mudei o visual do Blog por questões estéticas e de postagem. Fica muito mais fácil postar tirinhas, vídeos e textos sem precisar reconfigurar tudo.

Mas, infelizmente o conteúdo é o mesmo...rsrsrs

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

087. A solução para o mundo!


Hagar, o horrível.

086. Missão Transformadora

Uma matéria que não me agrada neste 4º período na Colina é Fundamentos da Missão. Não tenho problemas com a professora, até porque é a primeira vez que a vejo, mas tenho dificuldades em aceitar alguns conceitos importantes na disciplina.

As dificuldades são novas e são minhas. Ter dificuldades em aceitar um conteúdo é comum numa faculdade séria de Teologia. Aceitar não implica em absorver um conteúdo sem antes realizar a crítica. Sem crítica não há Teologia, pode haver bate-papo e até dogmatismo, mas não Teologia.

A maioria dos alunos que chegam a uma sala de aula do curso de Teologia já traz anos de Escola Bíblica Dominical na mochila, mas ao contrário do que possa parecer, isto é péssimo!

Os conceitos que cada aluno traz são entendidos pela maioria como verdades absolutas e assim, sujeitá-los à crítica necessária é uma tarefa árdua que requer esforço e boa vontade do aluno que deve permitir-se sofrer. O “deve permitir-se sofrer” só é obrigatório se a intenção do aluno no curso é percorrer os caminhos da Teologia. Se o objetivo do aluno é conseguir um diploma então não há um “deve”, só que não me venha dizer estuda Teologia.

Esta questão do “deve” ou não é mais complexa do que estas parcas linhas deixam transparecer. Não acredito mais que a compreensão de um conceito se dê por puro milagre, caracterizando um não-entender que se torna entendimento-sem compreensão. A compreensão já é emergência (Morin) da hermenêutica que já é a interpretação. Sem os meios necessários para a realização da arte da hermenêutica, como há entendimento? E se todos fazem hermenêutica o tempo todo, então já temos os meios necessários, o que não implica que tenhamos a totalidade dos dados. Meios e dados são coisas diferentes.

Meios são os sentidos, o aparelho biológico, o aparelho espiritual (Morin) e etc.

Dados são as informações que estão dispostas no mundo.

Sendo assim, ser tomado pela iluminação que permitirá o entendimento de algo é ignorar o funcionamento do ser humano enquanto ser vivo. Parece radical, mas se realmente acreditarmos que alguém nos sopra no ouvido uma visão que é totalmente independente do homem enquanto ser vivo que age na história, então se ignora o elemento humano.

Este é o meu problema com a matéria Fundamentos da Missão. Os autores escolhidos para a matéria, um em especial, David J. Bosch tenta transmitir conceitos que não condizem com a análise dos dados. Se eu tivesse lido o livro “Missão Transformadora “ na época em que ainda acreditava criticar era uma tarefa desnecessária ao ser humano, então concordaria com tudo que li nas 64 páginas lidas até agora.

Concordaria justamente porque são os velhos conceitos de que a Igreja tem uma missão no planeta e que os cristãos devem levar esta mensagem imediatamente. Não concordo mais.

Confesso que Deus, Jesus, Igreja, Missão, Céu e Inferno (entre tantos outros conceitos) estão muito confusos em minha mente. Estou com meus meios analisando os dados e ainda não cheguei a uma conclusão. Só sei que não concordo com uma leitura que não seja historiográfica da Bíblia. Sou totalmente a favor do Método Histórico Crítico e portanto da diacronia e não posso mais ler um texto bíblico e entendê-lo como algo que deve ser aplicado às circunstâncias da vida atual, simplesmente por que o texto não foi escrito para nós! (Pedras voarão, mas quem não tiver pecado que atire a primeira).

Um exemplo para facilitar a compreensão:

4. Os discípulos dos rabinos eram apenas seus alunos, nada mais. Os discípulos de Jesus são também seus servidores (douloi), algo inteiramente estranho ao judaísmo tardio (Rengstorf 1967:448). Eles não se limitam a curvar-se ante seu conhecimento maior; obedecem a ele. Jesus não é apenas seu mestre, mas também seu Senhor. Ele lhes diz: “O discípulo não está acima de seu mestre, nem o servo acima de seu senhor” (Mt 10.24)”. (BOSCH, 2002,p.60).

O leitor seria capaz de me informar qual a relação entre o texto e o versículo citado? No texto bíblico Jesus não está se referindo a ele ou aos seus discípulos, então Bosch já está errado, mas vamos usar a frase errada mesmo (para quê?). O versículo utilizado aqui para atribuir certeza e poder à afirmação do autor realmente serve ao seu propósito? Não. O versículo contraria a declaração anterior! O versículo coloca o servo e senhor em igualdade, mas o enunciado afirma que os discípulos de Jesus não se limitavam a curvarem-se diante do mestre, mas também o obedeciam, fazendo de Jesus mais do que um mestre, um Senhor. Não há igualdade, então não há razão do versículo estar ali. É incrível.

Em determinado momento o autor parece ser bem honesto quando afirma acerca dos possíveis “profetas de Q”:

Se, no que se segue, refiro-me a eles (juntamente com Theissen, Schottroff e outras) como um grupo distinto e identificável de pregadores, faço isso como um espécie de extrapolação imaginativa a partir da tradição e não como uma tentativa de caráter historiográfico. Tal abordagem poderá ajudar-nos a avaliar o caráter singular desse segmento da tradição protocristã.” (BOSCH, 2002, p.621).

Percebeu a “extrapolação imaginativa”? Mas desta maneira tudo é possível! Se imaginar é o que fazemos para facilitar a compreensão, então um abraço para a compreensão do sentido que o autor/autores/autora/autoras do texto bíblico teve. Com a extrapolação o que há é intentio-lectoris e o texto pode assumir o sentido que o leitor quiser, até aquele que não está no texto. (este é um dos preferidos dos líderes religiosos).

Questionei a professora que ministra a disciplina acerca disso.

A resposta foi interessante. Disse ela que:

A leitura que a Missiologia faz da Bíblia não é historiográfica. Mas isso não traz problemas, pois a missão é a ferramenta que se usa quando a igreja está constituída.”.

Doeu em mim.

A ferramenta que se usa quando a Igreja está pronta é uma leitura não diacrônica da Bíblia e tudo bem?

É por esta e outras que fico feliz de ler a Bíblia e o mundo sem ninguém soprando no meu ouvido a interpretação que julga correta.

085. Grandes Atores

Uma das cenas do filme "Lisbela e o Prisioneiro" com a engraçadíssima participação de André Mattos tentanto dar conselhos para sua filha acerca do casamento e da noite de núpcias.



084. Tenho orgulho de ser nordestino II

Há quem diga (eu) que nas veias de um nordestino não circula sangue. Corre rapadura, farinha e fuba.


Dos gêneros nordestinos, o "Repente" muitas vezes chamado de "Embolada", embora sejam parecidos, repente se faz com violão e embolada com pandeiro, é um dos mais criativos e interessantes. Os repentistas ou emboladores ficam nas ruas com os violões ou pandeiros e versam a respeito do cotidiano. São tiradas rimas de improviso, sejam elas a tratar bem ou mal do time de futebol, da rua, da política, dos políticos e até da mãe do outro repentista/embolador que, naquele momento do repente/embolada, é apenas um adversário.


Conheci o Repente da famosa Literatura de Cordel. O que começou como manifestação oral passou a manifestação escrita (e não é sempre assim?) e então gênero literário que expressa a cultura popular.


O nome "Cordel" provavelmente deriva do fato dos livretos serem expostos em barbantes.



O primeiro livreto que li foi "A peleja do cego Aderaldo com Zé Pretinho", que marcou minha imaginação e inaugurou o gosto pelo repente. Graças à internet, tenho hoje a possibilidade de publicar aqui uma obra que não tenho em mãos há mais de 20 anos!! (Internet é coisa ruim? Por favor...). Obs. Não é um repente racista! Se o leitor (se é que há algum) não tenha paciência para ler tudo, deixo então um vídeo de 5:29 com uma dupla de emboladores que é a mais famosa do Brasil. Caju e Castanha cantando "Futebol no Inferno" (HILÁRIO).

A PELEJA DO CEGO ADERALDO COM ZÉ PRETINHO

Autor: Fimino Teixeira do Amaral

Apreciem meus leitores
Uma forte discussão
que tive com Zé Pretinho
Um cantador do sertão
O qual no tanger do verso
Vencia qualquer questão

Um dia determinei
A sair do Quixadá
Uma das belas cidades
Do estado do Ceará
Fui até ao Piauí
Ver os cantores de lá

Hospedei-me em Pimenteira
Depois em Alagoinha
Cantei em Campo Maior
No Angico e na Baixinha
De lá tive um convite
Pra cantar na Varzinha

Quando cheguei na Varzinha
Foi de manhã bem cedinho
Então o dono da casa
Me perguntou sem carinho:
Cego, você não tem medo
Da fama de Zé Pretinho?

Eu lhe disse: Não senhor
Mas da verdade eu não zombo
Mande chamar esse preto
Que eu quero dar-lhe um tombo
Ele vindo um de nós dois
Hoje há de arder o lombo

O dono da casa disse:
Zé Preto pelo comum
Dá em dez ou vinte cegos
Quanto mais sendo só um;
Mandou ao Macumanzeiro
Chamar José do Tucum

Chamou um dos filhos e disse
Meu filho, você vá já
Dizer a José Pretinho
Que desculpe eu não ir lá
E ele como sem falta
À noite venha por cá

Em casa do tal Pretinho
Foi chegando o portador
Foi dizendo: Lá em casa
Tem um cego cantador
E meu pai manda dizer
Que vá tirar-lhe o calor

Zé Pretinho respondeu:
- Bom amigo é quem avisa
Menino, dizei ao cego
Que vá tirando a camisa
Mande benzer logo o lombo
Que eu vou dar-lhe uma pisa

Tudo zombava de mim
Eu ainda não sabia
Que o tal José Pretinho
Vinha para a cantoria
Às cinco horas da tarde
Chegou a cavalaria

O preto vinha na frente
Todo vestido de branco
Seu cavalo encapotado
Com um passo muito franco
Riscaram de uma só vez
Todos no primeiro arranco

Saudaram o dono da casa
Todos com muita alegria
O velho bem satisfeito
Folgava alegre e sorria
Vou dar o nome do povo
Que veio pra cantoria

Vieram o capitão Duda
Tonheiro Pedro Galvão
Augusto Antônio Feitosa
Francisco Manuel Simão
Senhor José Carpinteiro
Francisco e Pedro Aragão

O José da Cabeceira
E seu Manuel Casado
Chico Lopes, Pedro Rosa
E Manuel Bronzeado
Antônio Lopes de Aquino
E um tal de Pé Furado

José Antônio de Andrade
Samuel e Jeremias
Senhor Manuel Tomás
Manduca João de Ananias
E veio o vigário velho
venta de gato

Disse mais: eu quero ver
Pretinho espalhar os pés
E para os dois cantores
Tirei setenta mil réis
Mas vou inteirar oitenta
Da minha parte dou dez

Me disse o capitão Duda
– Cego, você não estranha
Este dinheiro do prato
Eu vou lhe dizer quem ganha
Pertence ao vencedor
Nada leva quem apanha

Nisto as moças disseram:
Já tem oitenta mil réis
Porque o capitão Duda
Da parte dele deu dez
Se encostaram a Zé Pretinho
E botaram mais três anéis

Então disse Zé Pretinho:
De perder não tenho medo
Este cego apanha logo
Falo sem pedir segredo
Tendo isto como certo
Botou os anéis no dedo

Afinemos os intrumentos
Entremos em discussão
O meu guia disse a mim:
O negro parece o cão
Tenha cuidado com ele
Quando entrar em questão

Eu lhe disse: seu José
Sei que o senhor tem ciência
Parece que és dotado
Da Divina Providência
Vamos saudar o povo
Com a justa excelência

P- Sai daí, cego amarelo
Cor de ouro de toucinho
Um cego da tua forma
Chama-se abusa vizinho
Aonde eu botar os pés
Cego não bota o toucinho

C- Já vi que seu Zé Pretinho
É um homem sem ação
Como se maltrata outro
Sem haver alteração
Eu pensava que o senhor
Possuísse educação

P- Esse cego bruto hoje
Apanha que fica roxo
Cara de pão de cruzado
Testa de carneiro mocho
Cego, tu és um bichinho
Que quando come vira o cocho

C- Seu José, o seu cantar
Merece ricos fulgores
Merece ganhar na sala
Rosas e trovas de amores
Mais tarde as moças lhe dão
Bonitas palmas de flores

P- Cego, creio que tu és
Da raça do sapo sunga
Cego não adora a Deus
O Deus de cego é
esturra
Pedindo socorro
Sai dizendo: eu morro
Meus Deus que fadiga
Por uma intriga
Eu de medo corro…

C- Se eu der um tapa
Num negro de fama
Ele come lama
Dizendo que é papa
Eu rompo-lhe o mapa
Lhe rasgo de espora
O negro hoje chora
Com febre e com íngua
Eu deixo-lhe a língua
Com um palmo de fora

P- No sertão eu peguei
Um cego malcriado
Danei-lhe o machado
Caiu eu sangrei
O couro eu tirei
Em regra de escala
Espichei numa sala
Puxei para um beco
E depois dele seco
Fiz mais de uma malha

C- Negro és
engolideira
Peça a noite inteira
Que eu não lhe abreque
Mas este moleque
Hoje dá pinote
Boca de
boieiro
Tu queres dinheiro
Eu dou-te chicote

P- Cante mais moderno
Perfeito e bonito
Como tenho escrito
Cá no meu caderno
Sou seu subalterno
Embora estranho
Creio que apanho
E não dou um caldo
Te peço, Aderaldo
Reparta do ganho

C- Negro é raiz
Que apodreceu
Casco de judeu
Moleque infeliz
Vai pra teu país
Senão eu te surro
Dou-te até de murro
Tiro-te o
giba
Cara de borrego
No bico de um carcará
Quem a cara cara compra
Caca caca Cacará

Houve um trovão de risadas
Pelo verso do Pretinho
O capitão Duda disse:
Arrede, pra lá negrinho
Vai descansar teu juízo
O cego canta sozinho

Ficou vaiado o Pretinho
Aí eu lhe disse: me ouça
José, quem canta comigo
Pega devagar na louça
Agora o amigo entregue
O anel de cada moça

Desculpe José Pretinho
Se não cantei a seu gosto
Negro não tem pé, tem gancho
Não tem cara tem é rosto
Negro na sala de branco
Só serve pra dar desgosto

Quando eu fiz estes versos
Com a minha rabequinha
Procurei o negro na sala
Já estava na cozinha
De volta queria entrar
Na porta da
camarinha

Fontes: Youtube e Jangada Brasil .

083. Besouro

Fiquei impressionado com o trailer. É mais um filme brasileiro que promete.

Fonte: Jacaré Banguela

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

082. Quando me tornar um Senhor do Mal...

Recebi hoje (ou li hoje) o e-mail de um amigo (Daniel, que ainda está muito longe de se tornar um Senhor do Mal) e achei engraçado. Não sei quem é o autor ou a fonte. Se alguém souber...

As 100 coisas que farei quando me tornar um Senhor do Mal

1. Minhas Legiões do Terror terão capacetes com visores de acrílico, e não placas tampando o campo de visão.

2. Meus dutos de ventilação serão pequenos demais para alguém rastejar por eles.

3. Meu nobre meio irmão, do qual usurpei o trono, será morto, não mantido anônimo em uma cela esquecida em minha masmorra.

4. Fuzilamento não é bom demais para meus inimigos.

5. O Artefato que é a fonte de meu poder não será mantido na Montanha do Desespero, além do Rio de Fogo guardado pelos Dragões da Eternidade. Será mantido em uma caixa forte convencional. Isso também se aplica ao objeto que é minha única fraqueza.

6. Não irei me gabar da situação de meus inimigos antes de matá los.

7. Depois de raptar a linda princesa, iremos nos casar imediatamente em uma discreta cerimônia civil, não um espetáculo de três semanas de duração durante as quais a fase final de meu plano será implementado.

8. Não incluirei um mecanismo de autodestruição a não ser que seja absolutamente necessário. Se o for, não será um grande botão vermelho escrito “Perigo, não aperte”. O grande botão vermelho “Não Aperte” irá disparar uma saraivada de balas em qualquer um estúpido o bastante para apertá lo. Ao mesmo tempo, botões “LIGA/DESLIGA” não serão claramente indicados em meus painéis.

9. Não levarei meus inimigos para interrogatório no centro de meu castelo. Um pequeno hotel, na periferia de meu Reino servirá perfeitamente.

10. Serei seguro de minha superioridade. Assim, não sentirei necessidade de prová la, deixando pistas na forma de charadas ou permitindo que meus inimigos mais fracos permaneçam vivos, para mostrar que não representam ameaça para mim.

11. Um de meus conselheiros será uma criança de cinco anos. Qualquer falha em meus planos que ela seja capaz de detectar será corrigida antes da implementação.

12. Todos os inimigos mortos serão cremados. Os corpos levarão repetidos tiros de munição de grosso calibre. Ninguém será deixado para morrer no fundo de um penhasco. O anúncio de suas mortes, bem como a respectiva celebração do evento, serão adiados até depois dos procedimentos acima mencionados.

13. O herói não terá direito a um último beijo, último cigarro ou qualquer tipo de último pedido.

14. Nunca usarei nenhum dispositivo com um contador digital. Se achar que tal dispositivo é essencial, o marcarei para ativação quando o contador chegar em 117 e o herói estiver começando a pensar em um plano para desativá lo.

15. Nunca usarei a frase “Antes de matá lo, há uma coisa que desejo saber”.

16. Quando empregar pessoas como conselheiros, ocasionalmente irei escutar seus conselhos.

17. Se um jovem e atraente casal entra em meu Reino, irei monitorar cuidadosamente suas atividades. Se descobrir que são felizes e apaixonados, os ignorarei. Entretanto, se as circunstâncias os forçaram a ficar juntos, contra sua vontade, e se passam todo o tempo implicando e criticando um ao outro exceto em ocasiões quando estão salvando a vida um do outro, momento em que há toques de tensão sexual no ar, ordenarei imediatamente sua execução.

18. Não irei ter um filho. Apesar de suas risíveis e mal planejadas tentativas de usurpar meu podem sempre falharem, isso pode se tornar uma distração fatal em um período crucial.

19. Não terei uma filha. Ela iria ser tão bonita quando má, mas uma simples olhada para a expressão no rosto do herói e ela irá trair o próprio pai.

20. Apesar de ser uma forma comprovada de aliviar o stress, não irei soltar risadas maníacas. Com essas risadas, quando ocupado, é muito fácil deixar de perceber pequenas nuances e acontecimentos que um indivíduo mais atento pode identificar e responder a altura.

21. Irei contratar um estilista talentoso para criar uniformes originais para minhas Legiões do Terror, ao contrário de certos modelos baratos que os fazem parecer tropas nazistas, legiões romanas ou hordas de selvagens mongóis. Todos foram eventualmente derrotados e quero que minhas tropas tenham uma inspiração moral mais positiva.

22. Não importa o quão tentador seja a perspectiva de poder ilimitado, não irei absorver qualquer campo de energia maior que minha cabeça.

23. Irei manter um estoque especial de armas de baixa tecnologia e treinar minhas tropas em seu uso. Assim, mesmo que os heróis consigam destruir meu gerador de energia e/ou desativar as armas de energia padrão, minhas tropas não serão sobrepujadas por um bando de selvagens armados com lanças e pedras.

24. Irei manter uma estimativa realista de minhas forças e fraquezas. Mesmo que isso tire parte da diversão do trabalho, pelo menos nunca irei dizer a frase ‘Não, não pode ser! EU SOU INVENCÍVEL!!!” (após a qual, normalmente a morte é instantânea.)

25. Não importa o quão bem funcione. Jamais irei construir qualquer tipo de equipamento que seja completamente indestrutível exceto por um pequeno e virtualmente inacessível ponto vulnerável.

26. Não importa o quão atraentes certos membros da rebelião podem ser. Provavelmente em algum lugar há alguém igualmente atraente que não está tentando desesperadamente me matar. Assim, pensarei duas vezes antes de ordenar que uma prisioneira seja levada a meus aposentos.

27. Nunca construirei uma única unidade de nada importante. Todos os sistemas essenciais terão painéis de controles e fontes de força redundantes. Pela mesma razão, sempre carregarei pelos menos duas armas carregadas, todo o tempo.

28. Meu monstro de estimação será mantido em uma jaula bem segura, da qual ele não poderá escapar e na qual não poderei cair por acidente.

29. Irei me vestir com cores claras e alegres, isso deixará meus inimigos confusos.

30. Todos os magos incompetentes, escudeiros, bardos sem talento e ladrões covardes em meu Reino serão executados. Meus inimigos certamente desistirão e abandonarão sua cruzada se não tiverem um parceiro cômico ao lado.

31. Todas as camponesas ingênuas e peitudas que servem bebidas em tabernas serão trocadas por garçonetes experientes e profissionais, que não irão dar apoio ao herói ou servir de par romântico para seu ajudante.

32. Não terei um ataque de fúria e matarei o mensageiro que me trouxe más notícias só para mostrar o quão mal realmente sou. Bons mensageiros são difíceis de achar.

33. Não exigirei que as mulheres em postos de comando em minha organização usem tops de aço inoxidável. A moral da tropa fica bem melhor com um código de vestimenta mais casual. Ao mesmo tempo, roupas feitas inteiramente de couro serão reservadas para ocasiões formais.

34. Nunca vou me transformar em uma cobra. Isso nunca funciona.

35. Não irei deixar crescer um cavanhaque. Nos velhos tempos fazia com que você parecesse diabólico, hoje o torna um membro frustrado da Geração X.

36. Não irei prender membros do mesmo grupo no mesmo bloco da masmorra. Muito menos na mesma cela. Se são prisioneiros importantes, irei manter a única chave da cela comigo, ao invés de deixar uma cópia com cada guarda do destacamento da prisão.

37. Quando meu tenente de confiança disser que minhas legiões do Terror estão perdendo uma batalha, eu acreditarei nele. Afinal, ele é meu tenente de confiança.

38. Se um inimigo que acabei de matar tem irmãos ou filhos em algum lugar, irei encontrá los e executá los imediatamente, ao invés de esperar que cresçam nutrindo sentimentos de vingança contra mim.

39. Se eu não tiver escapatória a não ser me envolver em uma batalha, certamente não liderarei na frente de minhas Legiões do Terror, nem irei procurar o líder adversário entre o exército inimigo.

40. Não irei ser cavalheiresco ou bom esportista. Se possuir uma super arma contra a qual não há defesa, a usarei assim que for possível, ao invés de mantê-la guardada.

41. Assim que meu poder estiver estabelecido, irei destruir todos aqueles inconvenientes dispositivos de viagem no tempo.

42. Quando capturar o herói, terei certeza de também capturar seu cachorro, macaco, furão ou qualquer outro bichinho bonitinho de dar nojo, capaz de desamarrar cordas e roubar chaves, que por acaso ele tenha como mascote.

43. Irei manter uma saudável dose de ceticismo quando capturar a linda rebelde e ela disser que está atraída por meu poder e boa aparência, e alegremente trairá seus companheiros se eu deixá la tomar parte em meus planos.

44. Só irei contratar caçadores de recompensa que trabalhem por dinheiro. Aqueles que trabalham por prazer tendem a fazer coisas tolas como equilibrar as chances, para dar ao outro cara uma disputa justa.

45. Terei um claro entendimento sobre quem é responsável pelo que em minha organização. Por exemplo, se meu general fracassou, não irei sacar minha arma, apontar para ele, dizer ‘e este é o preço do fracasso’ então subitamente apontar e matar um subalterno qualquer.

46. Quando um conselheiro disser “Meu Lorde, ele é somente um homem. O que apenas um homem pode fazer?” Eu responderei: “Isso!” e matarei o conselheiro.

47. Se descobrir que algum fedelho começou uma cruzada para me destruir, irei chaciná lo enquanto ele ainda é um fedelho, ao invés de esperar que cresça e se torne um adulto.

48. Tratarei qualquer monstro que eu venha a controlar através de mágica ou tecnologia com respeito e ternura. Assim, se perder o controle sobre ele, não virá imediatamente atrás de mim por vingança.

49. Se descobrir a localização aproximada do único artefato que pode me destruir, não irei mandar todas as minhas tropas para recuperá lo. Ao contrário, mandarei as tropas atrás de alguma outra coisa, e discretamente colocarei um anúncio de ‘procura se, gratifica se bem’, em um jornal local.

50. Meus computadores principais terão seu próprio sistema operacional, que será totalmente incompatível com IBM PCs ou Macs.

51. Se um dos guardas de minha masmorra começar a esboçar preocupação com as condições na cela da linda princesa, ele será imediatamente transferido para uma função com menos envolvimento com pessoas.

52. Irei contratar um time de arquitetos e pesquisadores de alto nível para examinar meu castelo e me informar de quaisquer passagens secretas e túneis abandonados que eu não tenha conhecimento.

53. Se a linda princesa que capturei disser “Nunca irei me casar com você! Nunca! Está ouvindo? Nunca!” eu direi: “Tudo bem.” E a executarei.

54. Não farei uma barganha com uma criatura demoníaca e depois tentarei desfazê la apenas porque me senti com vontade.

55. Os mutantes deformados e malucos psicóticos terão seu lugar em minhas Legiões do Terror. Entretanto antes de mandá los em uma importante missão secreta que demande tato e sutileza, verificarei se há alguém mais igualmente qualificado, e que atraia menos atenção.

56. Minhas Legiões do Terror serão treinadas em tiro básico. Qualquer um que não consiga aprender a acertar algo do tamanho de um homem a 10 metros de distância, será usado como alvo.

57. Antes de utilizar qualquer tipo de artefato ou máquina capturada, irei ler cuidadosamente o manual de instruções.

58. Se for necessário fugir, não irei parar para fazer uma pose dramática e dizer uma frase profunda.

59. Nunca irei construir um computador inteligente que seja mais esperto do que eu.

60. Pedirei a meu conselheiro de cinco anos de idade que tente decifrar qualquer código que eu estiver pensando em adotar. Se ele o decifrar em menos de 30 segundos, não será usado. Nota: Isso também se aplica a passwords.

61. Se meus conselheiros perguntarem “Por que está arriscando tudo nesse plano louco?” Não irei prosseguir até ter uma resposta que os satisfaça.

62. Irei projetar os corredores de minha fortaleza para que não haja alcovas ou suportes estruturais protuberantes que possam ser usados como abrigo por intrusos durante um tiroteio.

63. Lixo será eliminado em incineradores, não compactadores. E eles serão mantidos acesos, sem aquele nonsense de chamas que se ativam através de túneis de acesso, em intervalos previsíveis.

64. Irei me consultar com um psiquiatra e me curar de todas as estranhas fobias e bizarros hábitos compulsivos que possam se mostrar uma desvantagem.

65. Se for obrigatório que existam terminais de computador de acesso público, os mapas que mostram meu complexo terão uma sala claramente marcada como Sala de Controle Central. Essa sala será a Câmara de Execução. A sala de controle central de verdade estará indicada como Câmara de Contenção de Transbordamento do Esgoto.

66. Meu teclado de segurança na verdade será um scanner de impressões digitais. Qualquer um que observe um usuário digitar seu código e consequentemente tente digitar a mesma sequência irá ativar o alarme central.

67. Não importa quantos curtos circuitos há no sistema, meus guardas serão instruídos a tratar cada câmera de segurança com defeito como caso de emergência total.

68. Pouparei a vida de alguém que tenha me salvado no passado. Isso só é razoável se estimular outros a fazê lo. Entretanto a oferta só é válida uma única vez. Se querem que os poupe novamente, é melhor que salvem minha vida mais uma vez.

69. Todas as parteiras serão banidas de meu reino. Os bebês nascerão em hospital supervisionados pelo Estado. Órfãos serão colocados em lares adotivos, não abandonados na floresta para serem criados por criaturas selvagens.

70. Quando meus guardas se separarem para procura por intrusos, eles sempre andarão em grupos de pelo menos dois. Serão treinados para que se um desaparecer misteriosamente no meio da patrulha, o outro iniciará imediatamente um alerta e chamará por reforços, ao invés de ficar procurando o colega pelas esquinas.

71. Se eu decidir testar a lealdade de um assistente, para descobrir se ele pode ser promovido a homem de confiança, terei um grupo de atiradores de elite por perto, caso a resposta seja não.

72. Se todos os heróis estão ao lado de um mecanismo esquisito e me desafiando, usarei uma arma convencional, ao invés de disparar minha super arma invencível contra eles.

73. Não concordarei em deixar os heróis partirem livres, se vencerem uma competição, mesmo que meus conselheiros digam que está tudo arranjado e que é impossível para eles ganhar.

74. Quando criar uma apresentação multimídia de meu plano, feita para que meu conselheiro de cinco anos de idade possa facilmente entender os detalhes, não irei chamar o disco de “Projeto Overlord” e deixá lo solto em minha mesa.

75. Irei instruir minhas Legiões do Terror para atacar o herói em massa, ao invés de ficarem em volta dele esperando enquanto um ou dois atacam de cada vez.

76. Se o herói correr para meu telhado, não irei atrás dele em uma tentativa de atirá lo do alto. Também não lutarei com ele na beira de um despenhadeiro. (No meio de uma ponte de cordas sobre um rio de lava derretida não vale nem a pena considerar.)

77. Se tiver um surto de insanidade e decidir oferecer ao herói a chance de rejeitar um emprego como meu Braço Direito, irei reter sanidade o suficiente para esperar que meu atual Braço Direito saia da sala antes de fazer a oferta.

78. Não direi para minhas Legiões do Terror “E ele deve ser trazido vivo!”. A ordem será: “E tentem trazê lo vivo se for razoavelmente viável”.

79. Se acontecer de minha máquina do Juízo Final possuir um botão de reversão, assim que tiver sido usada irei derretê la e cunhar uma edição especial limitada de moedas comemorativas.

80. Se minhas tropas mais fracas falharem na tentativa de eliminar o heróis, mandarei minhas melhores tropas, ao invés de perder tempo mandando tropas progressivamente mais fortes, a medida em que ele se aproxima de minha fortaleza.

81. Quando lutar com o herói no alto de uma plataforma em movimento, o tiver desarmado, e estiver a ponto de acabar com sua vida, e ele olhar para algo atrás de mim e se jogar no chão, me jogarei imediatamente no chão também, ao invés de fazer uma expressão inquisitiva e olhar para trás para ver o que ele viu.

82. Não irei atirar em nenhum de meus inimigos se eles estiveram de pé em frente a um suporte crucial de uma estrutura pesada, perigosa e precariamente equilibrada.

83. Se estiver jantando com o herói, colocar veneno em sua taça, e subitamente tiver que sair da sala por alguma razão, pedirei novos drinques para nós, ao invés de tentar decidir se ele trocou ou não os copos.

84. Não deixarei que prisioneiros de um sexo sejam vigiados por membros do sexo oposto.

85. Não implementarei nenhum plano cujo passo final sejam horrivelmente complicado, como “alinhe as 12 Pedras do Poder no altar sagrado então ative o medalhão no momento do eclipse total”. Ao invés disso, meu plano será ativado com a frase “aperte o botão”.

86. Terei certeza de que minha Máquina do Juízo Final está devidamente dentro das regras de instalação, e corretamente aterrada.

87. Meus tonéis de produtos químicos perigosos ficarão tampados quando fora de uso. Também não irei construir passagens e escadas sobre eles.

88. Se um grupo de subordinados falhar miseravelmente em sua missão, não lhes darei uma grande bronca por sua incompetência, e em seguida enviar o mesmo grupo para tentar de novo.

89. Depois de capturar a super arma do herói, não vou imediatamente dispensar minhas legiões e relaxar minha guarda pessoal porque acredito que qualquer um que possua a arma é invencível. Afinal, o herói tinha a arma e eu a tomei dele.

90. Não vou projetar uma Sala de Controle Central em que todos os terminais >deixem o operador de costas para a porta principal.

91. Não irei ignorar o mensageiro esbaforido e obviamente agitado até que minha cavalgada ou outro entretenimento pessoal termine. O que ele tem a dizer pode ser importante.

92. Se chegar a falar com o herói ao telefone, não irei ameaçá lo. Ao contrário, direi que sua perseverança me deu uma nova visão da futilidade de minhas ações malvadas, e que se ele me deixar em paz por alguns meses de quieta contemplação irei provavelmente voltar para o caminho do Bem. (heróis são incrivelmente fáceis de se enganar, quanto a isso).

93. Se eu decidir realizar uma execução dupla do herói e de um subordinado que tenha falhado ou me traído, farei com que o herói seja executado primeiro.

94. Quando efetuando uma prisão, meus guardas não deixarão que parem e peguem um objeto aparentemente inútil, por puro valor sentimental.

95. Minhas masmorras terão sua própria equipe médica qualificada, completa com guarda costas. Assim se um prisioneiro ficar doente e seu colega de cela disser ao guarda que é uma emergência, o guarda chamará um grupo de trauma, ao invés de abrir a cela para dar uma olhada.

96. Minhas portas serão projetadas para se que alguém destrua o painel de controle do lado de fora, a porta feche, e se destrua o painel do lado de dentro, a porta abre. Não vice versa.

97. As celas de minhas masmorras não conterão objetos com superfícies reflexivas ou nada que possa ser transformado em cordas.

98. Qualquer conjunto de dados de importância crucial será acondicionado em arquivos de 1.45Mb, para não caberem em um único disquete.

99. Quando tiver capturado meu adversário e ele disser “Olhe, antes de me matar, pelo menos me conte sobre o que você planeja fazer.” Eu direi “não” e atirarei nele. Pensando bem, vou atirar nele e depois dizer “não”.

100. Finalmente, para manter todos os meus súditos contentes e descerebrados, irei prover a cada um acesso Internet ilimitado, grátis.

Então é aqui?

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