quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

101. De dentro do Furacão

SHAULL, Richard. De dentro do Furacão: Richard Shaull e os primórdios da Teologia da Libertação. São Paulo: Ed. Sagarana; CEDI; CLAI; Progr. Ec. De Pós-Grad. Em Ciências da Relig., 1985. p.53-65.

O livro “De dentro do Furacão” foi organizado por ex-alunos de Richard Shaull. Estes ex-alunos compõem hoje uma distinta classe de teólogos que muito têm contribuído para o pensamento da Teologia da Libertação na América Latina. Richard Shaull representou para estes teólogos o início do envolvimento entre Igreja e movimentos sociais, causando uma verdadeira revolução nas mentes, igrejas, seminários e no país. Tal revolução rendeu a Shaull a advertência para que não retornasse ao Brasil, mas retornou. Quando finalmente deixou o país, os ex-alunos já estavam envolvidos em suas próprias revoluções. É sobre a revolução de Shaull que este diminuto esboço se propõe a tratar.

O capítulo “Revolução” do livro citado está dividido em três partes. Abordaremos apenas uma parte, a saber, “A revolução” por ser esta a que apresenta mais concretamente a ideia de Shaull com relação ao ato revolucionário em si e suas conseqüências.

A primeira parte, “A revolução” originalmente foi uma conferência pronunciada para um auditório de estudantes nos EUA em 1955.

Shaull inicia sua palestra afirmando que todos estão “assentados sobre um vulcão”, ou seja, que o clima de incertezas e a precariedade dos sistemas atuais (filosóficos, econômicos, teológicos) formam um quadro instável no qual a erupção estava prestes a acontecer. A erupção certamente é a revolução que ele considera como inevitável.

Por se dirigir a um público formado por americanos, Shaull apresentará uma visão trágica e verdadeira das diferenças entre os EUA e os países subdesenvolvidos com destaque para as dificuldades enfrentadas pelos pobres e pelos oprimidos. Em todas as comparações os EUA são destacados como privilegiados, mas Shaull faz questão de demonstrar que tal posição deve gerar uma percepção da opressão que leve os abastados a se sensibilizarem com os explorados.

Ele ainda adverte a respeito da influência do cinema americano que incentiva o homem comum a querer usufruir dos mesmos bens que são mostrados nos filmes, como geladeiras, televisões, carros e etc. De fato, o homem comum é descrito por Shaull como um indivíduo que anseia por dignidade e responsabilidade que lhe são proporcionadas pela posse de poder. Ele também exige privilégios que o possibilitem participar do controle das forças econômicas e políticas. Quem puder satisfazes o anseio deste homem terá o seu apoio político, assevera Shaull.

O capitalismo é lembrado por Shaull que faz questão de identificar o capitalismo moderno, dos EUA e o capitalismo primitivo dos países subdesenvolvidos. Nestes, o sistema primitivo garante que quando o chefe da casa adoece, a família passa fome. É a exploração que tanto incomoda Shaull.

Em seguida ele apresentará a tese do Dr. Karl Mannheim denominada “A grande sociedade” que aborda o fim do mundo paroquial de pequenos grupos e o surgimento da sociedade em que todos os problemas são comuns e todos os indivíduos estão correlacionados. A passagem de um estilo de vida para outro causou uma “aguda desorganização” que promoveu os problemas como a pobreza e a superpopulação em determinadas áreas.

Depois Shaull apela para a consciência das classes privilegiadas. Estas são “sensíveis e esclarecidas” e por isso “tornam-se conscientes do sofrimento ao seu redor e não conseguem mais calar”, ingressando em forças revolucionárias como o comunismo.

Por fim ele apresentará a “revolução da alma”, descrita como a revolução do homem contra as ideias religiosas e suas ligações com o passado. Shaull apresentará duas conseqüências para esta revolução. A primeira é a antítese entre a fome espiritual e a atitude negativa contra todas as religiões causada pelo impacto da “escravidão moral” denunciada por Nietzsche e pelo péssimo exemplo do Ocidente no Oriente. A segunda é o desespero do homem que busca uma fé que dê sentido e ordem à sua vida e ao mundo.

Para Shaull é evidente que vivemos numa época de revoluções e nos eximirmos da responsabilidade de Igreja é permitir que os pobres continuem a mendigar o pão, os oprimidos continuem a chorar e os poderosos continuem a controlar. Shaull apresenta claramente a situação caótica em que vivemos, mas não incute medo ao fazê-lo. Ele apresenta todos os problemas que temos diante de nós como oportunidades de trabalho em que cristãos realmente demonstrarão seu valor.

É nas situações de crise que Shaull enxerga a ação divina e não é possível para ele haver cristão que não esteja envolvido em alguma forma de transformar o mundo atual num mundo de todos.

Shaull afirma que para libertar o Cristianismo de dentro das “quatro paredes de seus lindos templos” e fazê-lo sair “ao mundo a fim encará-lo de frente, é preciso um esforço tal que a maioria de nós não deseja enfrentar.”. É preciso a revolução dentro de nós.

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