sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

109. Valentes!!! Disposição!!!



Geralmente eu não atribuo muita importância a regulamentos. São sempre repetitivos. Se você leu o do ano 1950 então já sabe o que estará escrito no de 2010, no entanto, por força de obrigação tenho de ler o regulamento do ANVER-SS/10 (Acampamento Nacional de Verão dos Embaixadores do Rei – Sítio do Sossego /2010).

O regulamento é muito parecido com os anteriores, mas uma frase despertou minha atenção. O parágrafo inteiro está destacado abaixo:


O Núcleo dos Valentes não é “PRÉ- MILITARISMO”. A organização Embaixadores do Rei visa o desenvolvimento físico, social e espiritual do menino. O Núcleo dos Valentes com suas atividades visam levar o Embaixador a ser um grande Líder da Organização.


“O Núcleo dos Valentes não é “PRÉ- MILITARISMO”.”.


Não sou militar. Meu pai, minha mãe e minha irmã também não são. Tenho pouquíssimos amigos militares. Então não falo em defesa de qualquer interesse próprio, senão o de fazer perceber como o autor da frase destacada está equivocado.

Vamos começar pelo básico, a saber, o próprio Núcleo dos Valentes (NV).

A idade para ingressar no NV é de 17 anos, ou seja, apenas um ano antes da apresentação obrigatória ao serviço militar. Coincidência.

Os ERs lotados no NV não ficam acampados em construções de tijolos como os demais ERs. Eles ficam num local chamado “Fim do Mundo”, que é uma clareira no meio da mata, sendo possível o acesso apenas por trilhas.

Nesta clareira, os ERs constroem suas cabanas com materiais retirados da própria mata. Cabanas feitas com troncos, galhos, cipós e folhas.

Nesta clareira os ERs comem. Eles cozinham em fogueiras e não necessitam vir ao refeitório que os demais ERs, não Valentes, utilizam.

O nome do Núcleo é uma alusão ao grupo formado pelo personagem bíblico Davi e intitulado “Valentes de Davi” de acordo com a passagem bíblica de 1 Crônicas 11.10. Estes Valentes eram homens poderosos e de guerra. Suas proezas nas batalhas são descritas e por elas são conhecidos como se pode conferir em 2 Samuel 23. 9-38.

No NV os ERs aprendem como sobreviver na mata. Como construir abrigo. Como construir uma balsa. Como fazer fogo. Como cozinhar. E aprendem que a união é essencial para a sobrevivência num local difícil. Falo por experiência própria. Acampei no NV em 98. Construí um abrigo, uma balsa, fiz fogo, não cozinhei apenas vi cozinharem e comi a “gororoba” que foi feita e aprendi o valor da união.

Estes conhecimentos são ensinados na escola? Na rua? Na faculdade? Na igreja? Ou este tipo de conhecimento é muito comum às instituições militares?

Há quem diga que a validade do conhecimento não está vinculada à instituição responsável pela propagação do mesmo. Concordo. Mas quem negará que são as instituições militares as mais familiarizadas com estas práticas?

No NV os ERs necessitam obrigatoriamente de roupas camufladas.

Eles se embrenham na mata e fazem exercícios de orientação e localização. Usam bússolas. Usam mapas. Usam sinalizadores. Falam em códigos.

E os líderes? Afinal, os ERs não podem ficar sozinhos no acampamento. A maioria dos líderes é composta por militares ou ex-militares. Alguns levam barracas específicas para acampamento.

E o que mais os ERs fazem no NV? Eles estudam a Bíblia, têm as devocionais, os cultos no núcleo, participam das atividades principais do acampamento e pagam flexões. Sim. Os Valentes pagam flexões. Sempre. Muitas. Assim como no exército. O famoso“PAGA DEZ!” é muito ouvido pelos Valentes.

Então se eles aprendem de pessoas que são ou foram militares os conhecimentos que as instituições militares ensinam num ambiente parecido com uma área militar, como é possível que o NV não seja pré-militarismo? Esta é a questão primeira.

Há de se entender que o termo “Militarismo” tem alguns significados. O primeiro, de acordo com o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, significa:


1. Preponderância do exército na governação do Estado.



2. Os oficiais militares.


O segundo significado é mais amplo e está no senso comum. Trata-se de uma ideologia que afirma que a sociedade é mais bem estruturada quando dirigida ou “guiada por conceitos incorporados na cultura, na doutrina ou no sistema militares”.

Acredito que o autor da frase destacada no regulamento deve estar se referindo ao segundo significado, até por que seria imprudência falar mal do exército no ANVER, uma vez que muitos conselheiros são militares ou ex-militares.

Pois bem, se é do segundo significado que se trata, então a situação complica, pois a maioria dos ensinamentos são provenientes da cultura, da doutrina e do sistema militar.

Se faz oportuno prestar atenção ao símbolo oficial do Núcleo dos Valentes que foi colocado na parte superior da postagem.

Um braço forte segurando uma cobra num cenário camuflado. Lembro-me da famosa frase do Exército brasileiro: Braço Forte, Mão Amiga (http://www.exercito.gov.br/).

Eu tenho orgulho de ter participado do NV. Aprendi muito. Aprendi coisas que me fascinaram. Hoje eu tento transmitir aos ERs que demonstram interesse.

Mas não se trata de mim. Fascinar-me ou não, de maneira alguma é um argumento.

A questão segunda é que o ANVER é pré-militar e pré-militarismo.

No acampamento o ER segue uma rotina rigorosa. Há muita diversão, mas os horários devem ser cumpridos à risca. O ER levanta as 06h00min da manhã. O nome do despertar é “Alvorada”. O ER faz exercícios pela manhã. Os ERs participam de reuniões de núcleo. Fazem “guerra” (competição) entre núcleos. Estes são dirigidos por “Líderes de Cabine” e por um “Comandante do Núcleo”. Cada núcleo tem tarefas a cumprir designadas pelos diretores da semana. Qualquer semelhança com o Exército não é mera coincidência.

A questão terceira é que a Organização Embaixadores do Rei (OER) é pré-militar e pré-militarista.

Para ingressar na OER o garoto precisa aprender o juramento, o hino, o significado do nome ER, a divisa e o tema da organização. É o mínimo para que ele seja chamado de “embaixador”.

Uma vez dentro da OER o garoto seguirá por oito anos ou mais num sistema de postos. Ele estuda alguns manuais e é graduado. Ganha insígnias condizentes com o posto alcançado. E aprende que precisa estudar e trabalhar para chegar ao posto máximo da organização. Mais militar... impossível.

Este sistema é absorvido de tal maneira por garotos de nove, dez, onze e doze anos que mesmo quando a idade da liberdade, a saber, a adolescência chega, ele não questiona o sistema de postos. E será que questionará no futuro? Sendo moldado para a vida militar?

Ingressei na OER com apenas oito anos. Hoje sou conselheiro. Passei por quase todos os núcleos no ANVER (apenas não acampei no Aquário, mas já tive o prazer de ser comandante deste núcleo) e reconheço que muita coisa precisa ser modificada, mas dizer que um núcleo não é aquilo que ele é e que não faz aquilo que faz, não ajuda em coisa alguma.

É preciso que todos tenham consciência que a Organização Embaixadores do Rei é pré-militar e pré-militarista, pois só assim poderemos pensar como deve ser a organização, o que precisa ser feito, o que precisa ser mudado, o que deve permanecer...

Eu amo esta organização. E ter sido Valente foi essencial para que eu me tornasse o homem que sou.

O que peço a todos é que não criem uma imagem fantasiosa para encobrir as falhas (e acertos) da organização.

"Quantas mais tragédias terão os nossos jovens que sofrer antes que os adultos aceitem o fato de que a inocência não é preservada pela ignorância?"



Susan Hayman

4 comentários:

  1. rsrsrs ... Quando vc já não puder mais atuar/trabalhar na igreja, poderá vir para cá.

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  2. rsrsrsrsrsrsrsrsrssrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrs

    Muito obrigado!

    Sempre é bom saber que existem portas abertas em outras igrejas, mas você pode convidar protestantes assim? E logo este protestante?

    rsrsrs

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  3. Mas você é um protestante genuíno ... protesta contra tudo ... rsrsrs

    teria orgulho de ter um protestante assim em nossas fileiras .....

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  4. Este "fileiras"...sabes que é linguagem militar.

    Estás a convocar protestantes para guerra?

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