sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

119. Até...

Caros amigos e leitores, não posso mais dizer "Se é que há algum", pois os comentários não me permitem mentir.

Viajarei para o maior acontecimento do ano da organização Embaixadores do Rei, a saber o Acampamento de Verão do Embaixadores do Rei no Sítio do Sossego.

Sítio do Sossego - 1º Acampamento Batista do Brasil


O Pioneiro da obra dos Embaixadores do Rei entre as Igrejas Batistas Brasileiras, o Pr. Alvin Hatton comprou o Sítio do Sossego em Agosto de 1950 do Prof. Moisés Silveira, então Diretor do Colégio Batista do Rio de Janeiro.
O Primeiro Acampamento foi realizado em 1951, no período de 1º de março, com 18 acampantes de 3 Igrejas Cariocas. Em Julho do mesmo ano, o Segundo acampamento contou com 35 acampantes, representando 8 Igrejas de 3 Estados.
A partir desta data, em todo o verão há o Acampamento Nacional dos Embaixadores do Rei, denominado ANVER-SS, também contamos com o Acampamento de Inverno entre diversas outras atividades.

O Acampamento Nacional de Verão dos Embaixadores do Rei é realizado no Sítio do Sossego (RJ), este sítio constitui o maior patrimônio dos Batistas Brasileiros e reúne diversas atividades. Lá todos os E. R. recebem muita inspiração missionária e, através do sistema de pontuação por acampante, aprendem disciplina, solidariedade, participação em equipe e desenvolvem sua criatividade e dons.
Os Embaixadores do Rei concorrem a medalhas em seus alojamentos. Um a cada cinco embaixadores é escolhido Acampante de Honra de sua cabine e, apenas um ganha o prêmio de AZ do núcleo.
Ainda existe o Concurso Bíblico e o Concurso de Peças Teatrais.
O Sítio conta com uma ótima estrutura. Os acampantes são divididos por idade da seguinte maneira:

Núcleo Aquário: até 10 anos.
Núcleo Arco-Íris: 11-12 anos.
Núcleo Alvorada: 13 anos.
Núcleo Abilene: 14 e 15 anos.
Núcleo Alto da Boa Vista: 16 anos.
Núcleo dos Valentes: 17 anos ou mais e com Curso de Conselheiro.

Dentro dos núcleos, os meninos são divididos entre cabines que variam de doze a vinte acampantes. Cada cabine tem o seu conselheiro e cada núcleo o seu comandante e um pastor. Existe ainda a diretoria do acampamento que cuida das programações, inscrições e supervisiona todo o trabalho. Contamos com líderes nas áreas de esportes e música, enfermeiros, salva-vidas e missionários da Junta de Missões Nacionais e Mundiais testemunhando sobre o seu trabalho nos campos missionários.
Embaixadas de todo o Brasil vêm participar. E a sua, já encarou este desafio? Se não, não perca mais tempo, no próximo acampamento de verão vá com a sua embaixada, e verá que será muito bom para você e seus amigos, lá você fará novas amizades, aprenderá mais um pouco da Palavra de Deus, e aprenderá também a conviver em grupo, pode ter certeza, será muito bom para a sua vida e da sua embaixada.



Vou todos os anos nas 3a e 4a semanas. Por motivos profissionais não pude ir na 3a semana, mas a 4a me espera.

A partir de hoje não postarei mais no blog até o retorno que será no dia 29, mas com o cansaço talvez apenas no dia 1/Fev.

Para saber mais sobre a organização Embaixadores do Rei clique aqui.

Deixo-os com uma maravilhosa composição de Mozart. É um pedido de desculpas pelo tempo sem postar coisa alguma.

118. Do diálogo...

Por que o protestante entrou na igreja católica?

Não é piada...

Para fazer um trabalho da faculdade.

E neste trabalho que pode ser lido ao clicar aqui, aqui, aqui, aqui e aqui conheci José Antônio que agora me deu a honra de ter o nome em uma de suas postagens.

Recomendo, embora discorde de muita coisa...rsrsrsrs

"Liberdade e instinto".

117. Do passado

Conheço pessoas presas ao passado. Pessoas que sofreram grandemente ou que erraram de tal forma que não conseguem se perdoar.

Eu sou uma dessas pessoas. Tenho uma memória emocional que me impede de esquecer fatos considerados marcantes de alguma maneira.

Às vezes o cérebro refaz as conexões entre neurônios e as sinapses estabelecem redes (Edgar Morin) que trazem lembranças boas e algumas que gostaria de esquecer.

É totalmente natural.

Esta pequena máquina fantástica que é o cérebro não nos permite esquecer e ainda bem que é assim.

Ainda bem que podemos lembrar daquela pessoa que foi especial quando ainda nem sabíamos o significado de amizade. Ainda bem que podemos lembrar de uma gargalhada que causamos. Ainda bem que somos seres de memória.

Nossa memória é ativa e, ativada, por estas conexões com o mundo. Às vezes sorrimos porque uma imagem aparentemente banal e sem sentido nos lembrou algo que foi gostoso de viver. Às vezes choramos (aqueles que têm lágrimas) por que uma coisa boba nos lembrou algo que gostaríamos de esquecer.

O recordar é natural de nossa máquina biológica. Já pensou se esquecessemos tudo? Se não lembrássemos que aquela planta não pode ser comida, pois causa dores; que aquele penhasco é perigoso, pois ao cair lá as pessoas não voltam; que aquela coisa brilhante e quente que ilumina a noite pré-histórica pode causar uma espécie de dor incrível na pele...

Somos adaptados para lembrar. Então porque o recordar causa dor?

Simples.

Significados. Atribuímos significados a um fato. E os significados atribuídos podem ser originados do pensamento racional ou apenas de um sentimento. Quando descobri o lado imundo das organizações religiosas (descobri trabalhando nelas) fiquei tão triste que todas as vezes que vou a alguma reunião meu cérebro avisa do perigo de estar ali. Muitas vezes ele avisa, mas eu ignoro e a reunião é proveitosa. Daí vem a importante questão de aprender a lidar com sua memória.

Há muito tempo conheci uma mulher que sofreu extremo descaso quando criança pela madrasta. Ela, agora com mais de cinquenta anos me contava da dor que sentia quando lembrava da madrasta. Era algo palpável e as lágrimas molhavam o rosto vermelho. Em meu afã de bom cristão e com o pensamento besta de ter de dizer a alguém que o perdoar é uma ordem divina não pude perceber a intensidade da dor que aquela mulher demonstrava. Quando ela negou o perdão à madrasta, me senti irado com ela, aliás como todo "bom cristão".

Tempos mais tarde aquela madrasta adoeceu gravemente. E para calar este "bom cristão" foi aquela mulher magoada pelo desprezo que esteve cuidando com amor ímpar daquela doente terminal. Foi aquela mulher que cuidou da casa dela, que a alimentou, que a limpou e que esteve com ela até a hora derradeira.

A lembrança e a mágoa nunca foram apagadas, mas quando aquele ser humano precisou de ajuda o passado ficou para trás. A dor não foi esquecida, mas o passado não foi forte suficiente para destruir o presente e o futuro.

Tive extremo orgulho daquela mulher. Cristã. Sem ser cristã como concebemos.

Este "bom cristão" calou-se envergonhado. Me arrependi de ter dito o que disse àquela mulher. Ela sabia muito mais de perdão do que eu. Lembrar desta história me deixa embaraçado, mas me deixa feliz de saber que aprendi.

Talvez o perdão seja isto. Mesmo lembrando de algo que foi doloroso jamais permitir que a dor seja tão forte que nos paralise. Jamais deixar de fazer o bem por causa do passado. Jamais permitir que as lembranças de algo nos tornem infelizes. Não é um esquecer. É uma gradativa percepção que o que aconteceu é passado. Assim a passagem bíblica parece tão compatível:

"Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo." 2 Coríntios 5.17

Em uma determinada cena do filme "A paixão de Cristo" do diretor Mel Gibson, Jesus cai como criança e sua mãe, Maria, o pega nos braços. Quando está sendo levado para o Gólgota ele cai novamente e é novamente recebido por Maria. Jesus diz: "Eu renovo todas as coisas.". Na época em que vi o filme detestei isso. "Não está na Bíblia!", "Acréscimo!", "Heresia!". Hoje acho lindo.

Por isso gosto da cerimônia do batismo cristão. Principalmente o por imersão. A pessoa entra na água como em um túmulo e se deita com a ajuda de um pastor. É a representação da morte do velho homem. A água cobre todo o corpo da pessoa como se fosse enterrada e logo após, em menos de dois segundos, ela é levantada rapidamente pelo pastor e diáconos representando seu novo nascimento. Chego a me arrepiar quando lembro disso e é inevitável não lembrar do meu batismo.

Os cristão acreditam de tal forma nesta morte e novo nascimento que a vida anterior ao batismo é muitas vezes deixada para trás definitivamente. O que faziam (se considerado impróprio agora) é deixado no esquecimento. A nova criatura com Cristo é completamente nova. Restaurada de tudo. "Eis que tudo se fez novo". Nova carne. Novo espírito. Novo pensar. Novo ser.

Conquanto reconheça as imperfeições do batismo, no que se refere ao ritual sou completamente envolvido por seus significados.

Algumas pessoas se fazem novas não por estarem com Cristo, mas por conseguirem pensar em si mesmas como merecedoras de esquecer o passado. Acho justo. Aquele que se batiza também se julga assim e o demonstra com a vontade de ser uma nova pessoa. A diferença entre ambas é que um escolheu o caminho por si e o outro por Cristo, mas os dois fazem do passado e das dores uma lembrança sem força vital. O que importa é como me portarei daqui em diante.

Nos dois casos foi necessário que a própria pessoa se perdoasse. Aqueles que se batizam esperam o perdão de Deus por intermédio do Cristo. Tenho visto muitos que acreditam piamente no perdão divino, mas vivem atormentados por anos por não conseguirem se perdoar. Vejo um todos os dias no espelho.

Abre parêntesis, escrevo mais para mim do que a maioria imagina, pois tenho consciência de meus pecados, fecha parêntesis.

Acreditar que um ser perfeito pode perdoar, mas que se é tão sujo ao ponto de querer desaparecer e não se suportar é contraditório. Para rebater este argumento gosto da passagem de Jesus descrita em Mateus 9.1-8. Vendo um homem paralítico ser trazido numa cama Jesus diz: "Filho, tem bom ânimo, perdoados te são os teus pecados.". Os escribas dizem que ele blasfema e Jesus diz: "Por que pensais mal em vossos corações? Pois, qual é mais fácil? dizer: Perdoados te são os teus pecados; ou dizer Levanta-te e anda?".

Pelas palavras de Jesus o mais difícil é perdoar. Mas ele perdoa.

Crer num Deus de amor também é crer que se pode ser perdoado, então não há razão para se enxergar como o pior ser do mundo. Se você acredita que Deus te ama, então como não podes se amar? E como podes não se perdoar? O que há em teu passado que seja mais forte do que o Deus que você acredita?

Gosto da passagem de Jesus por que a dificuldade em relação ao passado está presente. Não é algo fácil de lidar e pode ser algo do nosso passado ou do passado de alguém próximo de nós. Mas é possível.

Se a dor de tuas lembranças é corrosiva, então já passou da hora de se perdoar. Já passou da hora de enfraquecer estas lembranças. Estamos longe da realidade do maravilhoso filme "Brilho eterno de uma mente sem lembranças" e agradeço por isso. Seria muito mais fácil, mas seria fugir da natureza de nosso aparelho psíquico.

Prefiro lembrar, sorrir, sofrer e superar, pois isto me torna o homem que sou. Isso é viver.

Como está a sua vida? Você está vivendo ou se escondendo do passado de fantasmas tristes?

Ao finalizar a leitura deste texto talvez nada fique para ti, mas lembre-se pelo menos disto:

O que quer que seja só existe enquanto tu acreditas. Deixas de acreditar e vês quão rápido as dores somem.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

116. Existe solução?

Olhe para o caos do mundo.

Para vê-lo basta olhar para os lados e principalmente para baixo. Para onde ninguém mais olha.

Há solução? Não sei...mas canto!

Sob Pressão

Pressão, me derrubando com um empurrão
Derrubando você nenhuma pessoa pede isso
Sob pressão - que incendeia um edifício inteiro
Divide uma família em duas
Coloca pessoas nas ruas
Tudo bem!
É o terror de saber
A que ponto chegou o mundo.
Observando alguns bons amigos
Gritando 'Deixem-me sair!'
Rezo para que o amanhã - me deixe mais animado.
Pressão sobre as pessoas - pessoas nas ruas
O.k.
Dando pontapés por aí -
Chuto meu cérebro pelo chão
Estes são os dias em que nunca chove mas transborda
Pessoas nas ruas
Pessoas nas ruas
É o terror de saber
A que ponto chegou o mundo
Observando alguns bons amigos
Gritando "Deixem-me sair!"
Rezo para que o amanhã - me deixe mais animado
Pressão sobre as pessoas - pessoas nas ruas
Afastei-me disto tudo como um homem cego
Sentei num muro mas isso não funciona
Continuo fornecendo amor
mas ele está tão rachado e despedaçado
Porquê - Porquê - Porquê?
Amor, amor, amor, amor
A insanidade sorri, sob pressão estamos pirando
Não podemos dar a nós mesmos mais uma chance
Por quê não podemos dar ao amor mais uma chance
Por quê não podemos dar amor...
Dar amor, dar amor, dar amor, dar amor...
Pois o amor é uma palavra tão fora de moda
E o amor te desafia a se importar com
As pessoas no limite da noite,
E o amor desafia você a mudar nosso modo de
Nos preocupar com nós mesmos
Esta é nossa última dança
Esta é nossa última dança
Isto somos nós mesmos
Sob pressão
Sob pressão
Pressão

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

115. Do erro.

Errar é fácil. Saber o que é certo e não o fazer é uma definição simples e boa para erro. Está escrita, embora não como definição no livro de Tiago cap.4 vers.17 da seguinte maneira: "Aquele, pois, que sabe fazer o bem e não o faz comete pecado.".

Esta definição, no entanto, pode ser confusa, uma vez que tentar determinar o que é certo e o que é errado pode complicar muito a vida tendo em vista a multiplicidade de influências internas e externas.

Um exemplo prático: crianças com 12 anos de idade não podem se casar no Brasil. É errado. Alguns afirmam ser pedofilia mesmo com o consenso do menor de idade. Com relações às questões jurídicas, deixo para meu amigo Carlos.

Analisemos a questão apenas no âmbito cultural. Durante a antiguidade e até no período dos primeiros pais da Igreja o casamento era comum a jovens desta idade, como pode ser percebido nas palavras de Justo L. Gonzalez ao se referir à irmã de Basílio de Cesaréia e Gregório de Nissa. Diz ele que “Aos doze anos Macrina já era uma mulher formosa, e seus pais deram os passos que naquela época eram costume, para preparar seu casamento." (GONZALEZ, 2007, p.126).

Ora, se algo é errado, então é errado em qualquer data e qualquer ocasião. Mas se é possível perceber que o casamento de pessoas com apenas 12 anos não era errado e agora é então houve mudança. Se há mudança então o “erro” não é tortuoso em si, mas carrega um significado atribuído por alguém em determinado tempo. Assim, a frase correta seria “Se algo é considerado errado, então será errado enquanto existirem aqueles que aceitem o significado imputado”.

Acredito que seja melhor deixar bem claro que não sou favorável ao casamento de pessoas com apenas 12 anos. Nem com 13, 14, 15, 16, 17...

A questão é que o erro representa apenas aquilo que em algum momento foi determinado como inconveniente para outro alguém ou para si mesmo.

Mesmo com as muitas diferenças culturais é possível definir o erro?

Compartilho em parte a visão de um professor. Aquilo que faz o outro sofrer é errado. Complemento que aquilo que faz o outro sofrer injustamente é errado, bem como aquilo que nos faz sofrer injustamente seja errado.

Sofrer injustamente?

Se entendermos o sofrer como “passar por algo que causa dor”, existirão muitas ocasiões em que o sofrimento pode ser natural e até necessário.

Um exemplo de sofrimento natural pode ser encontrado em Gregório de Nissa, já que falamos da irmã, quando afirma que “quem não se casa não precisa passar pela dor de ver sua esposa em dores de parto, nem pela dor maior de perdê-la.” (GONZALEZ, 2007, p.133).

Um exemplo de sofrimento necessário pode ser encontrado em duas postagens, a saber, http://soperdidoeemduvida.blogspot.com/2009/07/005-do-despertar-da-consciencia.html e http://peroratio.blogspot.com/2009/07/2009394-entre-profundamente-triste-e.html.

Infelizmente a maioria das pessoas não olha para o mal que causa. Cada um sente a sua dor e por isso ignora a dor do outro, mesmo quando esta chaga é aberta por mãos que deveriam cuidar.

Agora me lembro da mulher adúltera da passagem de João 8.1-11. “Ela pecou!”, “Ela contrariou nossas leis!”, “Ela nos ofendeu!” e com pedras em punho esperavam cumprir a lei e restaurar a ordem ou simplesmente testar Jesus. E Jesus talvez não se importando com o teste ou apenas fornecendo a melhor resposta possível diz “Aquele que de entre vós está sem pecado seja o primeiro que atire a pedra contra ela”.

“Aquele que está sem erro.”.

Parece ser um olhar para o outro. Parece ser cuidado. Parece ser o entendimento de que por mais que alguém tenha dito que algo era “ERRO” a vida humana vale mais. Parece o pensar que talvez o que é considerado erro por mais que seja falha talvez deva ser perdoado. Parece o saber que uma pessoa não pode ser definida por seus erros.

Lembro de uma esposa de um renomado pastor que o abandonou. Não fugiu com outro, apenas deu fim ao casamento. Tempos depois ela apareceu na igreja que eu freqüentava. Pedras foram erguidas e uma delas soou perto do meu ouvido. Dizia: “Como é que tem coragem de voltar aqui?”. Absurdo. A igreja não seria o local ideal para que ela estivesse? De acordo com a frase citada provavelmente não.

Retiro ainda mais alguns exemplos.

Que falar do grande Ambrósio de Milão? O mesmo homem que disse:

É muito melhor guardar almas para o Senhor, do que ouro. Porque quem enviou os apóstolos sem ouro, sem ouro reuniu também as igrejas. A igreja não tem ouro para armazená-lo, mas para entregá-lo, para gastá-lo em favor dos que têm necessidades....Melhor é conservar os vasos vivos que os de ouro. (GONZALEZ, 2007, P.141).

Foi o mesmo que não permitiu que cristãos fossem punidos por terem queimado uma sinagoga judia. Resultado? Judeus tiveram sua sinagoga destruída e não reconstruída, cristãos culpados não foram condenados e ficaram impunes e o germe do poder e prevalência do Cristianismo em relação às outras religiões.

Que falar de Agostinho de Hipona? O mesmo homem que estruturou a fé da igreja com sua obra extensa e grandiosa chegando a ser considerado logo após Paulo como aquele que direcionou a Igreja e que lindamente disse:

Quando pensava em me consagrar por inteiro ao teu serviço, Deus meu, ...era eu quem queria fazê-lo, e eu quem não queria fazê-lo. Era eu mesmo. E por que não queria de todo, nem de todo não queria, lutava comigo mesmo e me rasgava em pedaços. (GONZALEZ, 2007, p.163)

Foi o mesmo que disse a Jerônimo:

Rogo-te que não dediques teus esforços à tradução dos livros sagrados para o latim, a menos que sigas o método que seguiste antes, em tua versão do livro de Jó, ou seja, acrescentando notas que mostrem claramente em que pontos tua versão difere da Septuaginta, cuja autoridade é inigualável... Além disso não vejo como, depois de tanto tempo, alguém possa descobrir nos manuscritos hebraicos alguma coisa que tantos tradutores e bons conhecedores da língua hebraica não tenham visto antes. (GONZALEZ, 2007, p.161).

A tradução em que Jerônimo trabalhava seria conhecida como A Vulgata, versão que foi consagrada pelo Concílio de Trento em 1546 e que após uma revisão realizada após o Concílio Vaticano II foi definida como a Bíblia oficial da Igreja Católica e utilizada em sua liturgia.

Os erros dos dois grandes da “Era dos Gigantes” como intitula Gonzalez representam razões suficientes para invalidar o restante da obra desempenhada?

Talvez precisemos apenas de um novo olhar. Como o olhar de Jesus. Um olhar que enxergue além dos erros e veja a pessoa. Não um olhar mutilado em que a razão é encoberta e o erro acaba oculto, mas um olhar que vê o erro, mas que este não se torna o “chumbo” que impede a visão do ser humano.

Dizem que “Errar é humano e Perdoar é divino”. Não sei. Gosto da corrente de pensamento que vê em Jesus alguém tão humano que só poderia ser divino. Pelo meu parco entendimento é apenas quando o de mais humano brota que o divino é percebido, como a sabedoria do Antigo Testamente que enxergava no comer, beber e gozar a vida ao lado da mulher amada como porção dada pela divindade nesta vida. Fazer estas coisas era viver a vida dada pela divindade.

Se alguém me disser que o que escrevo aqui é errado, perguntarei:

Errado para quem?

E principalmente:

Por quê?

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

114. Um longo caminho.

Não posso dizer que foi um longo caminho. É certo que o caminho foi árduo e demorado, mas não posso dizer que "foi". Não foi. É.

Levei muito tempo para chegar onde estou e sinto que ainda não cheguei ao final. Sinto que as dúvidas se multiplicam e que as certezas dobram.

O estudo da Teologia não pode ser responsabilizado por eu ter tomado um determinado caminho. Quando ainda estava na igreja e frequentava os cultos, EBD's e demais atividades já sentia o erro em algum lugar, mas não conseguia perceber.

O estudo da Teologia apenas mostrou uma possibilidade que encontrar os erros e acertos. Como bem disse, após uma de suas aulas da matéria de "Hermenêutica", o professor Dr. Osvaldo Luiz Ribeiro, "se você ouviu tudo isso e nada aconteceu pode ir embora para casa, mas se ouviu e era tudo o que você sempre quis ouvir, então...". Eu sempre quis ouvir. E ouvi.

Sempre sou surpreendido quando vejo pessoas que cresceram comigo na Igreja.

Muitas estão lá ainda e estas me intrigam. Como conseguem?

Outras tantas estão fora. Sem estudos de Teologia.

E pergunto-me:

Como podem abandonar tudo tão facilmente?

É uma questão errada. Se foi facilmente ou não eu não posso saber a não ser que pergunte. Mas sei que abandonaram tudo ou quase tudo. Abandonaram aquilo em que foram educadas desde o nascimento.

Fico surpreso de ver estas pessoas no estado em que se encontram.

Algumas abrem sorrisos espontâneos e bonitos de serem apreciados. Ontem mesmo recebi dois desses sorrisos e fiquei contente por estas pessoas estarem bem ou pelo menos por parecem bem.

Outras exibem um semblante descaído. Triste. Pergunto o que há e a resposta é tímida e inaudível.

Em meu longo caminho quase tenho a presunção de dizer que sei a razão da felicidade e da tristeza, mas me contenho. Seria errado, por mais certo que estivesse.

A questão é que parei, li, pensei e gastei muito tempo parando, lendo e pensando e fui aos poucos chegando às conclusões que se tornaram em decisões e ações, afinal, acreditei piamente em muita coisa durante muito tempo e abandonar seria extremamente difícil. E foi.

Mas e estas pessoas? Às vezes por causa de um namoro, por causa de um trabalho, por causa de uma briga abandonam tudo em que sempre acreditaram. É claro que a intensidade do sentimento no namoro justificaria, assim como a necessidade do dinheiro conseguido pelo trabalho executado e, de igual maneira, a dor da briga justificaria. E digo que as razões são justificadas por que cada um sabe a alegria e a dor que sente.

Não posso dizer que não se deve abandonar algo por um motivo X, mas que se deve abandonar por um motivo Y.

A pergunta é: será que acreditaram em algum momento em tudo aquilo que ouviram durante anos?

Não me cabe julgar, mas é extremamente interessante como algo profundamente aterrador para alguns, é banal para outros.

O diálogo entre estas diferentes pessoas em seus diferentes caminhos seria incrível para todos. Poderia não ser agradável, mas conheceríamos as razões de cada um. Sem acusações. Apenas argumentos sendo colocados, analisados, debatidos e aceitos

É um sonho. Talvez distante. Talvez não.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

113. Para os que pensam...

... para os que amam...

Tenho tanto sentimento)

Tenho tanto sentimento

Que é freqüente persuadir-me

De que sou sentimental,

Mas reconheço, ao medir-me,

Que tudo isso é pensamento,

Que não senti afinal.

Temos, todos que vivemos,

Uma vida que é vivida

E outra vida que é pensada,

E a única vida que temos

É essa que é dividida

Entre a verdadeira e a errada.

 

Qual porém é a verdadeira

E qual errada, ninguém

Nos saberá explicar;

E vivemos de maneira

Que a vida que a gente tem

É a que tem que pensar.

Fernando Pessoa

...e para os que vivem esta vida dividida...

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

112. Do ano novo e suas comemorações...

Nunca atribuí muita importância para as festas de Natal e Ano Novo. Não que não entenda o sentido e a importância da festa natalina e que não me alegre com o recomeçar da vida após um ano em que todas as "promessas" não foram cumpridas.

A questão é que sempre entendi estas datas como comerciais demais. Nunca acreditei em Papai Noel. Crente não acredita num bom velhinho. Acredita em Jesus e seu nascimento em Belém. Esta forma de enxergar o Natal garante a total imcompreensão com os shoppings lotados e as inúmeras propagandas na TV e com a falta de intimidade com o famigerado HO, HO, HO.

A questão é que estas festas sempre estão presentes. Fazem parte do calendário cristão mundial, então não há como fugir delas.

Tentei um caminho inverso, a saber, compreender qual a importância destas datas.

É claro que não vou falar do óbvio aqui. Não vou falar que o Natal é o nascimento do salvador da humanidade. Este conceito já é marretado nas cabeças das crianças à exaustão.

Do Natal, nada falarei.

Das festividades de Ano Novo, destas falarei.

O que se faz para comemorar a passagem de um ano para o outro? Se reune com a família, com os amigos, faz-se um banquete, veste-se de branco ou com roupas novas...há a contagem regressiva, os fogos de artifício, as saudações ao santos, as orações às divindades...e muitas outras formas de comemorar esta passagem de um ano para outro.

Pergunto: O que de fato muda com a passagem de 2009 para 2010 ou de 1900 para 1901?

Sabe qual a resposta? Nada. Absolutamente nada muda. Ok, ok...algum mais espertinho quererá dizer que mudam os calendários...

Mas e a vida? A vida não muda. As escolhas (promessas de ano novo) feitas nesta época do ano teriam a mesma validade ou importância se feitas na metade do ano passado ou na metade do ano novo. Correto?

Não. As escolhas não teriam a mesma validade e importância e por uma razão simples. Elas são escolhas de um indivíduo em um determinado momento. Se o momento não favorece a escolha, ela não será significativa. Quem atribui significado às datas são as pessoas.

Se uma pessoa não se importa com o Natal o que se pode dizer da importância do Natal? Nada. Falemos de como os Judeus comemoram o Natal?

Pode-se apresentar argumentos, mas o significado está na pessoa. Qual o significado que o Hanukká tem para mim por exemplo? Eu o compreendo e é muito interessante. Mas daí a comemorá-lo...

Se o significado está na pessoa e não na data em si, então cada pessoa tem um significado para o seu Ano Novo.

Meu pai acredita e disse isso no culto realizado no dia 31, que é a data representativa da esperança em Deus.

Minha mãe acredita que é a data que representa as bençãos de Deus.

Não sei no que minha irmã acredita. Sei que ela gosta.

E no que eu acredito? Eu vou até os antigos e me sinto em casa. Mais ou menos. Gosto da interpretação deles.

Pois bem, qual é a interpretação dos antigos?

Quando falo dos antigos, falo dos egípcios.

Os egípcios ou aqueles que habitavam a região onde hoje é o Egito, viviam em função do Rio Nilo.

Quando o fluxo do Nilo era normal a vida brotava em todas as regiões próximas. O Nilo trazia a abundância de alimento. Os animais chegavam à região. As pessoas podiam plantar e criar animais.

Quando havia a seca do Nilo a vegetação morria, os animais fugiam ou morriam, as pessoas passavam fome, adoeciam e morriam.

Quando havia a cheia do Nilo as águas, símbolo do caos, destruíam tudo à volta. A plantação, as moradias, os animais, a vegetação e trazia também as grandes feras do Nilo. Era o caos.

Com o tempo e com a observação do cotidiano, as pessoas puderam decifrar as épocas do Nilo. E o calendário foi formado de acordo com a época de cheia do Nilo.

Com mais tempo e, são centenas e centenas de anos, as pessoas puderam aprender como domar, na medida do possível, as enchentes do Nilo.

O calendário ficou preciso.

Mas antes de aprenderem como conter as forças do poderoso deus egípcio, embora naquela época ainda não fosse um deus como hoje se entende, o momento em que o Rio Nilo secava e a vida parecia acabar era entendido como o fim do mundo.

Os habitantes da região acreditavam que o mundo ordenado estava desmoronando. Que a vida estava cessando e que era necessário fazer algo para reverter este desastre. Provavelmente os deuses estavam enfurecidos por alguma razão. E o deus Nilo estava se retirando do meio deles.

E o que fazer quando o mundo parece acabar?

Agradar os deuses e implorar misericórdia. Para tanto, a melhor maneira seria trazer ofertas para os deuses. Ofertas a serem colocadas no Nilo seco ou para formarem um grande banquete com todos os habitantes presentes. Misericórdia a ser implorada por todos que lembram os grandes benefícios dados ao longo de todo o tempo em que o Nilo estava ótimo.

É interessante que estes festivais religiosos aconteciam quando a época de retorno do Nilo estava próxima.

Eles acreditavam que ao realizar a cerimônia o mundo era ordenado novamente. E que não mais acabaria e realmente não acabava. Eles reiniciavam o mundo a cada ano.

Hoje se não fizermos um banquete o mundo não acabará. Se não houver fogos de artífico na Praia de Copacabana o mundo não acabará. Se não estivermos vestidos de branco o mundo não acabará. Se não saudarmos os santos e as divindades (atrevo-me a dizer) o mundo não acabará.

A questão é que o mundo e a vida permanecem. Continuam. Independentemente do que fizermos. Podemos tentar melhorar as condições, prolongar o tempo até, mas nenhum de nossos rituais têm o mesmo significado que os antigos entendiam como verdade absoluta.

E qual o significado de nossos rituais hoje?

Eu entendo que estamos fazendo exatamente a mesma coisa que os antigos. Estamos reiniciando o mundo. Não o planeta ou a região em que vivemos.

Reiniciamos o pequeno mundo em que vivemos. O mundo das relações. O mundo das relações com os amigos que se reúnem nesta época. O mundo das relações com os familiares que se reúnem nesta época. O mundo das relações com pessoas das quais lembramos e às quais enviamos cartões coloridos com desejos de felicidades.

É este mundo de relações que é reiniciado quando viajamos para estar com pessoas queridas. Quando afirmamos que é preciso estar com estas pessoas no começo do ano para celebrar as conquistas do ano anterior e compartilhar os desejos futuros.

Não tenho absolutamente nada contra aquelas pessoas que vão às praias super lotadas e ficam na companhia de pessoas que não conhecem. Acredito que estas pessoas estão iniciando um mundo com estas pessoas. Mas esta é uma visão bem otimista. A verdade é que muitos estão embriagados a ponto de não se lembrarem do que fizeram ou de com quem estavam. Com relação a estes eu me pergunto:

Que mundo eles iniciam ou reiniciam?

Qual é o significado das comemorações para estas pessoas? Acredito que elas apenas aceitam os significados passados como certos.

Por que comemorar algo se não entendo o significado? E por que tentar beber ao ponto de não me lembrar do que aconteceu no dia da comemoração?

Conversei com um colega no dia 30. Ele iria à praia. Ele também encheria o carro de gelo e cerveja. E comemoraria. Algum problema com isso? Nenhum.

Eu prefiro entender e comemorar ou não o reinício de alguns mundos, mas eu não sou exemplo para ninguém.

Então é aqui?

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