quarta-feira, 28 de abril de 2010

142. Efeito borboleta

O nome do filme é "Causes" de Joe Brumm e conta de forma simples e criativa a lógica do processo capitalista arrivista presente no mundo todo.

É o primeiro trabalho que conheço de Joe Brumm, mas só pelo fato de usar a teoria do Efeito Borboleta eu já gostei.




Fonte: www.charges.com.br

141. Da identificação.

Escrevi há poucos dias que a principal razão para uma leitura do Antigo Testamento como revelação anterior ao e do Novo Testamento ou ainda como promessa do que seria cumprido no Novo Testamento era a necessidade de identificação com o povo de Deus.

Pois bem, estando um pequeno grupo reunido aqui em casa eu obtive mais uma prova de que é não estou errado.

A certa altura da conversa, uma pessoa me pergunta quais as matérias que mais gosto no Seminário. "Exegese do Antigo Testamento" foi uma parte da resposta ao que ouvi a pessoa dizer:

"Eu adoro o Antigo Testamento.".

Como todo seminarista é a "imagem do cão" (rsrsrsrsrs) não poderia deixar uma frase desta passar e fiz a pergunta capciosa do dia.

"Gosta do Antigo Testamento? Se sente em casa lá?"

A resposta não foi surpresa. De fato, poderia ter escrito a resposta antes da pessoa a ter pronunciado.

"Sinto. Eu vejo Deus mais presente lá. Eu sinto como se fosse parte daquele povo. É Deus falando para mim".

rsrsrsrsrsrsrsrsrs

OK...OK... sei que a pergunta tendenciou a resposta, mas foi hilário, não?

Olha a tal da identificação presente. Antigamente o Deus do povo de Israel falava diretamente com o povo e fazia sinais e prodígios, mas hoje está tímido e os sinais estão escondidos. É ocultação de milagre e não mais milagre, de tal forma que o povo anda tão carente de sentir o "poder de Deus" que tudo é místico novamente.

Os rituais de igrejas evangélicas são direcionados para o místico, para o mistério, para o que é acima de tudo, incompreensível. Líderes religiosos fazem uma mistura de versículos bíblicos utilizando a Bíblia como fonte para suas elucubrações doentias e nisso o povo que não lê e não questiona vai andando em cima do sal, passando pelos portões, batendo cabeça com o sacerdote, derramando azeite, derramando sangue falso ou simplesmente vendo a figura do espiritual em tudo, por que quanto mais parecido com o Antigo Testamento, mais identificados com o povo de Israel e com o Deus que não se escondia, mas que agia e falava diretamente com o povo, ainda que com o povo mesmo ele não falasse, mas sim com alguns poucos escolhidos.


Lembro de 2002 (não sei como...) e de uma charge do talentoso Maurício Ricardo. Algo que sempre gostei no site dele é que jamais ofendeu uma religião. Jamais. Brinca e brinca muito, mas mantém suas brincadeiras com total respeito pelas crenças de todos. É um boa política.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

140. Descoberta!

Investigadores encontram vestígios de madeira que julgam pertencer à Arca de Noé

http://noticias.pt.msn.com/Internacional/article.aspx?cp-documentid=153170669

ok, ok...acharam um pedaço de madeira de 38 milímetros no monte Ararat, local onde segundo o registro bíblico a famosa "Arca de Nóe" teria repousado finalmente após o dilúvio.

O tal pedaço de madeira deve ter uns 4.800 anos segundos os autores da descoberta.

Agora a pergunta:

De qual dos dilúvios este pedaço de madeira pertence? É da 1a narrativa ou é da 2a narrativa?

rsrsrsrsrsrsrs

sexta-feira, 23 de abril de 2010

139. O Inferno de fogo

Há muito tempo eu ouvi a pregação de um pastor que mencionava algumas razões que justificavam (e justificam) a pregação da mensagem do Evangelho. Dentre as razões que ele mencionava estava "o terror do inferno".

É possível rever esta mensagem em muitíssimas pregações hoje em dia. É uma mensagem muito utilizada. Descrevo como funciona:

O responsável pela pregação, pela mensagem, pelo momento de reflexão ou qualquer outra coisa que venha a substituir a palavra "sermão", não precisa de mais do que 10 versículos para conseguir o objetivo a que se dedica. As passagens são do livro "Apocalipse" e de "Mateus". As passagens falam do "lago de fogo" e do "pranto e ranger de dentes". Cada passagem é dirigida a um grupo específico em um momento específico, mas isso não importa para o pregador. "O texto fala para nós!" E por falar para nós é que o texto diz o que se quer que ele diga. Se falasse para aqueles a que foi destinado, talvez falasse coisa diferente. Enfim, fala e fala do inferno e do terror que deve ser o tal local inóspito e do sofrimento que as pessoas sofrerão por toda a eternidade. Quem ouve fica aterrorizado com tal visão e deseja a todo custo se salvar (entendemos aqui a "salvação" como os grupos a entendem, ou seja, a aceitação de Jesus como salvador livra do inferno de fogo). Quem já é salvo sente a necessidade de salvar outras pessoas, afinal, é tão fácil! Basta pregar e pregando as pessoas conhecerão o que as espera e optarão por fugir do caminho mal, se arrepender, se converter, aceitar a Jesus e viver no Céu e não no lago de fogo.

Desculpem o longo parágrafo. Está tudo aí. Só não coloquei as passagens utilizadas, por que quero me ater a outras passagens. Aquelas presentes no folheto.

Folheto? Outro? Pois é...

Lembram da segunda-feira catastrófica? Aquela da chuva? Pois foi nesta segunda que recebi um folheto com o título desta postagem.

Estava no ônibus. Janelas fechadas. Abafado. Calor insuportável. Ruas alagadas. Trânsito caótico. Entra um senhora falando que a chuva não impede ninguém de fazer a vontade do "Senhor". Entrega folhetos à todos os presentes. Quando chega a minha vez de receber o tal folheto, ela diz, sem me olhar nos olhos:

"Uma palavra de despertamento...".

O folheto era branco com letras vermelhas. Tenho-o aqui a minha frente. Há a imagem de um homem aparentando indiferença. Este homem tem chifres. Abaixo dele estão pessoas com expressões de dor. Há fogo em toda a imagem. Há um borrão que parece ser um morcego. Se é, não sei. Parece. Sou fã do Batman, então o apreço pelo folheto sofre uma drástica queda. Estão escritas as seguintes palavras:

20.000 GRAUS
E SEM UMA GOTA DÁGUA

O INFERNO DE FOGO
ALMAS PERDIDAS TORTURADAS
QUEIMANDO PARA SEMPRE!

Isto é o que está escrito na capa. Dentro do folheto há um texto longo que não vou transcrever aqui. Resumo-o com a fala da senhora que o entregou. É uma palavra de despertamento contra o inferno.

O autor tem a coragem de dizer que "Um dia, no INFERNO, você não terá que ser incomodado por algum cristão tentando entregar-lhe um folheto evangelístico.".

E trata diretamente com o leitor. Usa "você" e dispara uma série de acusações, previsões, alertas e apelos recheados com várias passagens bíblicas.

Esta postagem é justamente para analisar o folheto e suas passagens.

Qual primeiro? Folheto ou passagens?

Passagens? Ok.

A primeira passagem utilizada é a de Lucas 16.23-24. O texto não está presente no folheto, mas eu o escrevo aqui:

23 E no inferno, ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu ao longe Abraão, e Lázaro no seu seio.
24 E, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de mim, e manda a Lázaro, que molhe na água a ponta do seu dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama.

Esta versão é propícia. Vamos lá.

Em qual língua o Novo Testamento (NT) foi escrito? Grego. No grego existia a concepção parecida com a atual para o inferno? Não. O que existia então? Existia o termo "Hades". Está escrito "inferno" no texto bíblico? Depende. No grego não está escrito o termo "inferno". O termo traduzido pela Bíblia de Jerusalém como "Mansão dos mortos" é "Hades". Então por que o termo "inferno" é usado?

Duas razões:

1a) O termo foi empregado como oficial tendo em vista que Jerônimo (347-420) o utilizou na Vulgata, a tradução da Bíblia para o Latim e esta se tornou a versão oficial da Igreja Católica. De fato, a Vulgata tem no versículo 22 o seguinte final: "foi sepultado no inferno".

2a) Há uma constante identificação de figuras religiosas de outras épocas com figuras atuais. Há uma necessidade de pensar da forma que o "antigo povo de Deus" pensava. Esta necessidade de identificar-se com os cristãos primitivos pode ser uma tentativa de se aproximar do evento cristológico ou do próprio Deus do Antigo Testamento (AT) através da adoção de práticas comuns.

Bem, Hades não é Inferno. Hades é a morada dos mortos. Para todos os mortos. Se há uma separação entre os bons e os maus, então já não é Hades. É uma mudança de entendimento de um conceito, mas se mudar o entendimento é natural e o significado do termo no contexto em que era utilizado não é necessário, então por que usar o texto? Escreve-se qualquer coisa que atenda as necessidades e ponto final.

Não é inferno. Não volto a este versículo. Se fosse um folheto intitulado "O Hades de Fogo" eu continuaria com o versículo. Mas não é.

Próximo!

Mateus 23:33. O texto está escrito no folheto. Eis:

"Serpentes, raça de víboras; como escapareis da condenação do inferno?".

Outra ótima tradução.

São palavras de Jesus, mas Jesus não falou isso. Ele utilizou a palavra geena no final. E o que era a geena? Era o local utilizado pelos habitantes como um depósito de lixo. Jogavam o lixo naquele espaço aberto e levantavam monturos (isso mesmo).

É fácil imaginar este local. Basta lembrar dos lixões que existem hoje. Todos os detritos em decomposição (não havia reciclagem na época) liberavam gases tóxicos que facilitavam a combustão dos materiais, logo, é um local onde o fogo sempre queimava. Há a teoria de que era o local usado para queimar o lixo também, mas não posso apresentar por que não sei as referências necessárias.

E as pessoas que se alimentavam dos detritos? Ser condenado a estar num local desses deveria ser terrível, mas é do "inferno" que o texto fala? Não. É do depósito de lixo da cidade. É da geena.

Próximo!

Salmos 9:17 Texto do folheto:

"Os ímpios serão lançados no inferno, e todas as gentes que se esquecem de Deus."

Salmos? Sim. AT então. Se é AT, então é de uma perspectiva não cristã. É judaica. Judeu acredita no Inferno? Não. Na época do AT havia sequer a ideia de inferno? Não. Então é do "inferno cristão" que o texto se refere? Uma leitura do texto como está no folheto prejudica demais o entendimento da passagem e compromete a resposta.

O termo usado no hebraico é "XEOL", também conhecido como "Seol" ou "sheol". Para os judeus, o Xeol era o lugar para onde todas as pessoas desceriam, não importando se tivessem sido boas ou más durante a vida. Era o local onde não havia mais nada. Era o local de sono, de repouso. Só. Várias passagens demonstram como o povo do AT entendia o termo. Colocam na boca de Jacó a expressão da descida para o Xeol: "Não, é em luto que descerei ao Xeol para junto do meu filho.". É algo certo. Não era algo que poderia escolher. Era algo tido como definitivo e imutável.

Então não é "inferno". É Xeol e este não é o inferno. É o mundo dos mortos de um povo há 2600/2700 anos separados de nós!

Próximo!

As demais passagens utilizadas falam da esperança escatológica, mas não mencionam o inferno, limitando-se a usar "fogo eterno" e "lago de fogo", mas não mencionam o inferno. Como já sabemos que Jesus utiliza uma imagem comum àquele povo para apresentar sua mensagem, não vejo por que abordar as demais passagens. São apenas mais repetições metafóricas.

Claramente o texto não se sustenta com as passagens apresentadas.

Agora o folheto.

É no mínimo desrespeitoso entregar a alguém um texto que diz: "Você estará gritando e implorando uma gota de água para refrescar sua língua ressecada! MAS SERÁ TARDE DEMAIS!".

E pior ainda!

Sem que saiba qualquer coisa a meu respeito, recebo o apelo: "Meu amigo, eu apelo a você, em nome de Jesus, que abandone sua vida pecaminosa e perversa e clame por uma vida nova em Jesus Cristo.".

Meus amigos não dizem que tenho uma vida pecaminosa e perversa. Não dizem por que não têm motivos. Liberdade eles têm. Como se pode esperar alguma simpatia de alguém a quem se diz que leva uma vida de pecado e de perversão?

Talvez o que mais falte aos cristãos seja o amor mesmo. Amor que consegue ser educado na entrega de um folheto. Amor que não julga as pessoas. Amor que trata as pessoas com carinho. Amor que não exige qualquer atitude das pessoas. Amor que é simples. Simples como um "Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei." (Mateus 11.28).

O des-amor atual é aquele que acusa. Que julga. Que castiga.

Quanto mais as pessoas tentam ser cristãos como aprenderam, mais distantes ficam de Jesus.

Não agem assim por que são maus. Agem assim por causa do amor. Mas este amor é convertido em des-amor. É por que amam o cristo e querem livrar as pessoas do inferno que acusam, julgam e castigam. Por isso não fico ofendido quando recebo um folheto deste. Fico triste de saber o quão distante ainda estamos.

Talvez um dia o terror do inferno não seja maior do que o terror de maltratar o outro e o des-amor não esteja mais encoberto nas densas trevas da leitura doutrinária, sendo possível ver e entender na palavra "Hades", o Hades, na palavra "Geena", a Geena e na palavra "Xeol", o Xeol.

Talvez um dia ter de impregnar alguém de terror não seja mais necessário. Afinal, é uma mensagem de amor ou de medo?

quarta-feira, 21 de abril de 2010

138. Wordle

Entrei na onda do Wordle.

Eu gosto da nuvem de palavras por ser tão caótica que me impele a buscar um sentido. É esta mesma a tarefa que escolhi para minha vida. Buscar um sentido em meio ao caos de muitos textos, tradições, fragmentos e arrumar isto numa exegese que faça sentido e me satisfaça ao fazer.

Tem quem ache perda de tempo.

Tem quem ache legal.

Eu acho ótimo!

Clique na nuvem para ver melhor...

Wordle: 03

137. Dos folhetos evangélicos

E tudo começou sem qualquer intenção de se fazer algo sério.

Recebi um folheto, postei aqui no blog algumas considerações com relação ao que li naquele pedacinho de papel e conversei com minha amiga Iara. Pronto. Virou uma troca de e-mails e agora tenho quase a certeza de ter escolhido o tema de minha monografia.

Pretendo estudar a linguagem utilizada pelas diferentes denominações evangélicas e apresentar uma descrição da forma como as igrejas se enxergam, no que se baseiam, quais os textos utilizados no emprego de diversos termos e finalizar com uma análise da linguagem utilizada pelo meio evangélico e o discurso de guerra.

Seguindo tal planejamento agora sou um caçador de folhetos. Espero que me entreguem folhetos onde quer que eu vá. Infelizmente, muitas das pessoas imbuídas desta tarefa dita evangelística devem achar que já sou um caso salvo ou perdido completamente, pois entregam os papéis a 10 pessoas que vão à minha frente e quando estou próximo...viram para o lado!

Enfim, sou um caçador de folhetos agora e procuro em todo lugar. Passando pelas ruas do bairro do Estácio, vi um folheto no chão. Por mais cansado que estivesse, tive de parar e pegar o folheto do chão. Nele estava escrito:

"SEXTA-FEIRA DO MANTO SAGRADO"

07:00, 10:00, 15:00 e às 19:30

"Você que tem algum problema seja ele, na saúde, familiar, econômico, sentimental ou em qualquer área de sua vida. Venha nesta SEXTA-FEIRA para tocar no MANTO SAGRADO e verdadeiramente serás livres."

Por fim há o endereço da igreja. Não postarei aqui. Não preciso de problemas.

Manto sagrado? hum...interessante.

Não sei exatamente qual a passagem que utilizaram para validar a ideia de ter um manto sagrado numa igreja evangélica, afinal, não são os protestantes ainda mais iconoclastas que a Igreja Católica? Não são os evangélicos que afirmam não adorar qualquer pessoa ou artefato senão o próprio Cristo Deus?

O convite é para "tocar no manto". Bem, o caro leitor que é muito inteligente e sabe tudo de Bíblia lembrou que existe uma passagem com estas palavras. Qual é? Exatamente! Mateus 09.20! A mulher que sofria há 12 anos com o fluxo de sangue e que apenas toca na orla da roupa de Jesus e fica curada.

Fica muito mais fácil estudar o ritual agora que sabemos sua origem.

E uso a palavra ritual, por que de fato é um ritual e um ritual mágico e quase pagão.

O tal manto torna-se sagrado por alguma razão que não se sabe. Teria de estar presente numa das reuniões para saber se esta informação é compartilhada, mas não tive oportunidade para estar na tal igreja.

Tem-se um manto que é sagrado. Sua origem? Desconhecida. Sabe-se que é sagrado. Isso basta. Por ser sagrado tem poderes mágicos. Poderes que resolverão tudo na vida. Meus problemas estarão resolvidos se eu tocar no manto.

Mas que manto é este? É o sagrado ora bolas! E pare com esta argumentação sem sentido!

Mas de onde vem este manto?

Você não sabe? A mulher estava doente por 12 anos com um fluxo de sangue que não a deixava e ela tentou se aproximar de Jesus e...

Simples não é? Com uma narrativa fantástica (por ser fantasiosa) Não se responde uma questão essencial, mas se mantêm um ritual mágico.

Para que ninguém fique chateado pelo fato de chamar de ritual mágico a este ritual, esclareço que o manto é apresentado para aqueles que têm problemas de qualquer origem e há uma promessa de liberdade ao tocar o manto. Este é o ponto principal da reunião.

Ao contrário do que acontece na passagem bíblica, o manto não é apenas um detalhe. O manto desbanca a figura de Jesus. Escrevo aqui o texto para a questão ficar clara:


20

E eis que uma mulher que havia já doze anos padecia de um fluxo de sangue, chegando por detrás dele, tocou a orla de sua roupa;

21

Porque dizia consigo: Se eu tão-somente tocar a sua roupa, ficarei sã.

22

E Jesus, voltando-se, e vendo-a, disse: Tem ânimo, filha, a tua fé te salvou. E imediatamente a mulher ficou sã.


Pronto. Qual o papel que o manto de Jesus tem na paráfrase? É a roupa que ele usa a fonte da cura daquela mulher ou é a fé de que Jesus pode curá-la? A roupa é vista como extensão de Jesus, mas não como um artefato de poder para fora de Jesus. Sem Jesus, é só manto. Com Jesus é ele, é extensão dele.

Mas onde está Jesus agora? Não se pode mais tocar nele. Não se pode mais sentir sua carne aqui. Então é mais fácil usar um pedaço de roupa e atribuir a este pedaço alguns poderes mágicos. Se para isso for necessário usar o Jesus e a passagem bíblica, então que se use mesmo. O que importa não é o texto, mas sim que a igreja atual aja conforme o povo que esteve com Jesus.

OPA!!!

Então o texto não é importante. Não é por que uma simples análise do texto garante que ele não serve como base para sustentar a prática corrente. O texto é usado e lido como se quer para garantir que o processo de identificação com o povo antigo, visto como referencial para os cristãos atuais, permaneça.

As pessoas precisam se identificar com algo. E no caso dos cristãos, é necessário se identificar com o Israel de Deus justamente para ser o Israel de Deus, logo, o que está em jogo não é se o manto tem poderes ou se é um acessório sem importância no texto bíblico ou ainda se é feita uma exegese correta do texto. O que está em jogo é a própria identidade de um povo, no caso, de uma igreja.

Se é necessário que haja um discurso que não se preocupa com o texto bíblico, que faz promessas infundadas, que adota práticas ditas pagãs, que usa uma inversão de foco para garantir a identidade de um grupo, então pergunto: Que tipo de identidade é essa?

Esse é um problema para a própria igreja, mas que não se resolve com um toque no manto.

terça-feira, 20 de abril de 2010

136. Televisão

“Eu vi muita televisão quando criança, o jeito foi fazer televisão para depois dizer que foi tudo pesquisa” (Mat Groening – Criador de “The Simpsons”).

Zapping, audiência, concorrência, comercialização, sedução, criatividade, curiosidade, slogans, programação, mídia, chamada, promoções, intervalo, fascínio, propaganda, novela, anúncio, mídia televisivo, baixaria, teaser, neste, quadro, grade, peoplemettres, ibope e ibope, publicidade, canais, mercado, espectador, sonho, consumo, identificação, informação, interatividade, notícia, produção, redação, locução, edição, computação gráfica, gerente, direção, Deus, zapping.

O texto acima parece desalinhado, mas para os profissionais de Comunicação e os estudantes da área, os termos empregados formam uma melodia clara, da qual a maioria dos telespectadores comuns não reconhece os acordes. Uma melodia da televisão.

Televisão? Este é um blog sobre Teologia! Não. Não é um blog sobre Teologia. É um blog. Neste blog escrevo principalmente acerca da Teologia, mas este blog é sobre a verdade que eu vejo. Verdade que pode estar errada, pois ainda está em construção e o processo é demorado, mas a apresento como enxergo. Agora enxergo TV. Falarei da TV.

O objetivo de um curso de Comunicação Social é mudar o olhar dos alunos quanto aos meios de comunicação, tal mudança, no entanto não consiste em positiva ou negativa, provocando aceitação ou negação da TV, rádio, jornal, internet ou outros tantos, mas sim despertar uma visão crítica do que é veiculado, ensinando a perceber sutis mensagens subliminares que permeiam as informações transmitidas e atingem os indivíduos, no caso deste texto, especificamente os telespectadores.

É notória a necessidade dos seres humanos de receberem informações, de conhecerem o novo e a disposição dos mesmos ao recepcionarem aqueles que trazem tais informações. O próprio Mercúrio era recebido com festas e folgas. O papel que a TV ocupa é parecido com o da figura mitológica do semideus; estando presente em quase todos os locais do mundo, a TV torna-se o maior veículo de comunicação existente, passando à frente do rádio, substituído pela imagem, e da Internet não disponível para todos, principalmente por questões financeiras.

É de conhecimento comum no meio evangélico que o pastor evangélico Billy Graham já foi visto na TV por mais de um bilhão de espectadores, marca que expressa a facilidade na transmissão de informações da TV.

Tal abrangência e rapidez fizeram a TV adotar o conceito de que a informação é preciosa e pode se utilizada como moeda, assim como nos tempos antigos. Se a informação é preciosa e riqueza é igual a força ou poder, a TV se tona o mais poderoso veículo de comunicação do mundo e quem a controla detém o poder mundial. Esta não é uma tese nova. Já foi abordada diversas vezes em filmes blockbuster, como “O Amanhã nunca morre” em que o 007 tem de enfrentar justamente um magnata da mídia.

Num mundo assolado por males como a fome, a violência e o desemprego, a TV vem suprir necessidades básicas utilizando como alucinador um mundo novo de informações. A questão é: a TV, e agora me refiro aos responsáveis pela mesma, estaria à altura de tal responsabilidade?

Partindo desta questão, a TV passa de aparelho no meio de tantas salas espalhadas pelo mundo, para objeto de estudo. Estudo que para iniciá-lo deve-se compreender o que a TV representa na vida, não de cada pessoa, pois seria impossível, mas sim na vida de um todo.

Pergunta-se qual o papel da TV na vida. A maioria dos responsáveis diria que nenhum. Alguns diriam ter alguma influência e poucos assumiriam o papel real. Qual papel seria esse?

A resposta é simples e impressionante, como a TV gira em torno de audiência e comercialização, a troca da concessão federal por entretenimento e informação sofre alterações pelo desejo do mercado, o que é veiculado fica restrito ao fato de dar audiência, e esta só é conseguida se o telespectador identificar-se com o programa, ou seja, estabelecer uma relação de proximidade. Com esta identificação o papel da TV varia de pessoa para pessoa, mas todas se sentem próximas, como se pudessem confiar, e realmente confiam no pequeno aparelho que lhes acorda pela manhã e lhes embala o sono à noite.

Investida da autoridade que as igrejas, os partidos e as escolas perderam, a televisão faz soar a voz de uma verdade que todo mundo pode compreender rapidamente.

Com um discurso rápido e tendo como ponto forte a imagem que passa a ideia de que se vê o que realmente é da forma que está ou que esteve acontecendo, a TV torna-se amiga de todos. Com as variedades de seus programas, torna-se interativa e tem-se uma piada quando se quer rir, uma canção quando se quer cantar ou uma informação quando se quer saber, mesmo que não se queira saber tudo, mas só um pouco.

Esta relação de intimidade do público com a TV possui uma falha, sendo um compromisso baseado no segredar, o telespectador não informando o que assiste na TV e a TV não revelando o que o telespectador faz enquanto a assiste, ambos confiam um no outro, mas a TV não cumpre tal acordo se os segredos do seu público puderem gerar audiência.

A condição de “ter audiência” isenta a TV da culpa, se é que a tem, de revelar os segredos que quem lhe pediu sigilo, o interessante é que nenhum telespectador pede por tal sigilo (é algo que soa natural), e poucos se sentem ofendidos por serem vistos na TV, mesmo que seja para escárnio, tem-se como exemplo as comuns pegadinhas nos programas atuais.

O ponto a ser abordado com cuidado é quem está por trás da TV em quem se confia? Quais os interesses daqueles que dominam o veículo que nos fascina e sabe os nossos segredos?

Os EUA, detentores da maioria dos satélites em órbita, comandando as ondas e possuindo o monopólio da informação, demonstram força através do controle das informações que o restante do mundo deseja, e poderiam ser considerados como os detentores do poder, mas analisando a variedade dos canais, a TV americana disputa entre si a audiência de forma muito mais arisca que os demais países, enquanto no Brasil uma emissora detém mais da metade da audiência do país.

Não sendo uma questão tecnológica, pois os investimentos das emissoras são compatíveis podemos afirmar que foi ensinada uma forma de ver TV e um estilo como o certo.

A TV que faz circular tudo o que pode ser convertido em assunto e despreza tudo aquilo que não interessa ao público, criou um quadro de programação intrínseco na história de cada um. Exemplo disso é que a maioria da população sabe exatamente os horários das novelas, ou dos jornais ou ainda o significado do “PLIM-PLIM”.

Implantada tal ideia em cada indivíduo, tem-se um telespectador fiel. O passo seguinte é criar novos hábitos e necessidades a ponto de se tornarem essenciais. Os programas passam a ser produtos e a TV se torna um sonho que fala de consumo.

Sempre de forma discreta, os telespectadores passam a ser conhecidos pelo poder de compra que possuem. Eis então revelados os interesses daqueles que estão por detrás da televisão, mudar cada indivíduo para que as necessidades dos patrocinadores e anunciantes sejam saciadas.

A TV no desejo de comercializar é capaz de criar, renovar, transformar, mudar e alterar o curso natural de tudo que pode ser transformado em notícia. Curso natural? Parece até uma falsa ideia. Mas existe algo mais natural do que alguém dizer o que viu? Infelizmente os donos do poder influenciam criando falsos axiomas.

Se os problemas são resolvidos em casa, como diz o ditado, lá existe um aparelho de TV mudando conceitos. Se forem resolvidos no trabalho, lá se comenta o que foi visto nos telejornais e isto quando não se têm aparelhos de TV nos locais de trabalho, algo muito comum hoje em dia, e assim por diante em todas as áreas do cotidiano.

Para obterem sucesso, os donos do poder formam exércitos de profissionais altamente qualificados que tem por obrigação conhecer o íntimo de cada telespectador em cada situação para agirem da forma certa, no momento certo em que o indivíduo cai na falácia que lhe é apresentada.

A TV, no entanto na luta para tentar mostrar a maior variedade de produtos e informações a serem consumidos, enfrenta um obstáculo, o efeito zapping.

Tendo por característica a rapidez, a TV criou um desejo no público pela velocidade e agilidade no trato com as informações, tal rapidez foi adquirida pelos telespectadores com a invenção do controle remoto, objeto pequeno e de simples manuseio, o controle, como diz o próprio nome, além de trazer praticidade, pôs “o controle” da programação nas mãos do telespectador. Num instante menor que o segundo, o possuidor do controle vê o que diversas emissoras estão transmitindo, e em um curtíssimo espaço de tempo, está a par de uma quantidade de informações muito grande.

Mas utilizando-se desta velocidade, que é reflexo da TV, o telespectador corta, tomando o papel de editor de imagens e sons, o que já apresenta uma versão resumida dos fatos, absorvendo menos do que o que foi considerado essencial para ir ao ar. Desta forma, não se sabe nada e acha-se que se entende tudo. Talvez se saiba o que aconteceu e não o porquê. Talvez nem sequer o que aconteceu de fato.

Da mesma forma vêem-se rapidamente produtos brilhantes e coloridos que vão e vem sem chamar atenção. A TV luta contra o que implantou para poder comercializar os produtos que a mantém. Esta é uma questão interessante. A TV luta contra aquilo que criou. Uma geração de mini donos da grade de programação. Quem pensa que a luta das emissoras é contra as concorrentes está muito enganado. A luta é contra o telespectador, eterno insatisfeito que não se mantém mais fiel a qualquer emissora.

Outro ponto importante é que num momento que dura de um frame a um segundo não há tempo para analisar a informação, e quem pode afirmar que o que foi visto é verdade, ou simplesmente o que querem que seja visto?

Nunca saberemos ao certo se o que estamos vendo no filme é exatamente o que ficou registrado.

As informações são aceitas como verdades. Não há análise e abrem-se possibilidades para entendimentos equivocados e opiniões tendenciosas. As tragédias humanas viram comerciais, mas se as vítimas pudessem falar o que diriam? Não se sabe, mudou-se de canal.

Tudo na TV tem um propósito. Nada acontece por acaso, seja uma imagem ou um som, sempre há uma razão que explica a ação. Para entender, deve-se ver, perceber, observar, notar e questionar. Recomendo o excelente Observatório da Imprensa. Mas a ele cabe a mesma cautela. É mídia. Cuidado!

A TV pode ser utilizada de muitas formas importantes na vida global proporcionando à humanidade usufruir muito mais do que momentos de lazer, descontração e informação. A TV pode ser uma ferramenta utilizada para educar e ajudar, revelando a verdade e não só a aparente verdade.

O criador do desenho animado “The Simpsons”, simplesmente viu televisão durante toda a sua vida, e resolveu transmitir tudo o que aprendeu em forma de desenho, hoje, cada episódio vale US$1,6 milhão.

A TV como concessão que é, pertence a quem detém as ondas de transmissão, mas quem está por trás na aceitação ou recusa é o telespectador como você ou/e eu.

Qual o papel da TV na sua vida? O que você assiste? E principalmente, por quê?

quarta-feira, 7 de abril de 2010

135.Rio...

Gravei este vídeo. Rua Conde de Bonfim, na Praça Saens Penã por volta da 00:00 de Segunda Feira.

134. E chove...

Saí de casa às 05:30 de segunda feira para ir à FABAT. Cheguei lá exatemente às 20:29. Normalmente o percurso consome 1h30min...

Muito mais, não é mesmo?

Não.

Saí da FABAT às 21:40...não havia transporte, chovia demais, centenas de pessoas na Praça Saesn Penã no bairro da Tijuca. De fato, nunca vi aquela praça com os pontos tão cheios. Centenas de pessoas espremidas em pontos de ônibus e marquises.

Esperei que algum ônibus ou van aparecessem, mas nada. Os poucos ônibus que conseguiram chegar não me serviam. As vans, pouquíssimas, saíram lotadas, com pessoas de braços e costas a sair pelas janelas.

Fiquei no ponto. Vi a Rua Conde de Bonfim se tornar um rio. Vi sacos de lixo passando pela rua, blocos de concreto serem arrastados, esqueletos de armários descendo a rua e indo em direção aos bairros mais baixos, como o Estácio. Soube de um senhor, que por lá estivera, que muitos carros enguiçaram e os ônibus não tinham manobrar, ou seja, nada de esperança.

22:00, 23:00, 00:00, 01:00, 02:00...encharcado, com frio (por que os pontos de ônibus da cidade foram projetados da forma que são? Não conseguem proteger as pessoas da chuva!) e a lutar contra as baratas. (????) Com os bueiros a transbordar, as baratas não ficariam lá então era um festival de tapas e de pessoas se coçando, mulheres gritando de nojo e susto (sem qualquer conotação machista. Se um homem tivesse gritado, eu colocaria "pessoas gritando") com baratas subindo pelas pernas, entrando em roupas, cabelo...

Enfim, vencido pela fome que me atormentava o corpo sinalizou. Dor de cabeça. Já eram várias horas sem beber ou comer nada. Saí do ponto e andei pelas ruas da Tijuca com água no joelho e em alguns locais na cintura! Encontrei uma padaria ainda aberta e tentar limpar o estrago da chuva. Pude comer algo do dia anterior que estava frio e sem gosto. Parei em outro ponto de ônibus. Conversei com algumas pessoas que estavam na mesma situação. Algumas foram até a padaria que indiquei para terem um banquete como o meu, outras simplesmente foram embora para o trabalho, já que não havia mais tempo de voltar para casa.

Um senhor me disse que viera andando da Central. Uma mulher veio andando da Lapa. E muitas outras histórias foram se somando até que a risada sobrou. Disso eu gosto no perfil brasileiro. Sempre sorrimos. Sempre gargalhamos de nós mesmos. Embora isso seja terrível por que com o riso nos acomodamos, ainda assim diminuimos a dor do momento.

Algumas dores, no entanto, não passam tão facilmente. Vi agora há pouco que no Bairro de Santa Teresa alguns bombeiros localizaram uma criança soterrada. Falaram com ela. Chegaram a tocar a mão da criança, mas outro implacável deslizamento ocorreu e a criança faleceu. Seus poucos 08 anos de idade conferem uma tristeza que abala a qualquer um. FORÇA! Aos bombeiros que lutam nas frentes, a todos os envolvidos com as ajudas e a todos nós que vemos uma cidade considerada quase referência de um país no mundo ser castigada por uma chuva que já dura 48 horas.

Ouvi alguns dizerem que "com a natureza não se brinca". Não vamos fechar os olhos para a realidade do que está acontecendo agora. A chuva era inesperada? Sim. Mas lembro que Cuba enfrentou um furacão sem que uma pessoa morresse. É preciso estar preparado. Educação par a população que joga lixo nas ruas e atrapalha o escoamento da água e investimento do Governo para garantir a segurança da população.

São 113 mortos até agora. Mais de 60 desaparecidos. Uma multidão de pessoas desabrigadas. Escolas e universidades paradas. Bairros sem energia. Bairros isolados. Pessoas isoladas.

Tenho 4 opções para sair do bairro em que vivo para ir à faculdade. As 4 opções estão interditadas pela Defesa Civil. Ainda bem que as aulas foram canceladas. Não teria como chegar lá. O Rio de Janeiro está mergulhado no caos.

04:40 UMA VAN!!!!

Um motorista audacioso e uma cobrador disposto resolveram tentar e conseguiram atravessar o Alto da Boa Vista. Vieram e levaram a van superlotada. No caminho não havia energia no Alto. Várias árvores caídas fizeram com que mudássemos o caminho, saíssemos da van para que ela conseguisse subir na calçada e assim foi a viagem. Em determinado momento a van parou sem possibilidade de continuar. Uma árvore, caída em fios de alta tensão impedia a passagem totalmente. Teríamos de descer o Alto da Boa Vista no escuro, na chuva e a pé. Chega. Descemos da van. 7/8 caras. Tiramos os galhos e afastamos a árvore que permaneceu lá , mas agora com a possibilidade de passagem da van. Voltamos para a van e descemos o Alto. A chuva e o vento eram tão fortes que eu tremia quando voltei à van.

Cheguei em casa as 05:50.

08h e 10min depois de ter saído da FABAT.

Agora sim, muito mais.

sábado, 3 de abril de 2010

133. Ferir e magoar

Eu digo que sou herege.


Digo mesmo. É mais fácil para as pessoas olharem para mim como herege do que como um cristão às avessas. Calma! Não sou tão às avessas assim. Não fumo, não bebo, não jogo (jogos de azar), não tenho relacões extra conjugais, não uso drogas, leio a Bíblia, vou à igreja (mais ou menos como você pode estar pensando) e etc...todas aquelas regras de conduta e que caracterizam (mas não deveriam) um cristão como se conhece hoje são seguidas por mim. Mas sou às avessas. Sabe por que? Por que não fumo, não bebo, não jogo, não me drogo, não tenho relações extraconjugais, leio a Bíblia e vou à Igreja por que quero e não por que alguém me obriga.

A fé que tantos dizem ser a razão motivadora para estas atitudes não é a razão que me faz agir assim. Daí, surge uma questão que muito converso com uma amiga da faculdade: um cristão é um ser moral por ser cristão? Os ateus não são seres morais por que não têm fé em uma divindade? Conheço inúmeras pessoas maravilhosas que não professam a mesma fé que os cristãos e que até "dão de 10 a 0" nos cristãos.

Convenhamos que atualmente ser cristão não é sinônimo de ser uma pessoa íntegra. Estava em uma sala de espera de um consultório médico quando as pessoas começaram a falar mal de outras pessoas por quem foram enganadas, furtadas, prejudicadas. Com profunda vergonha ouvi um comentário no decorrer da conversa. Um senhor, ao se referir à pessoa que o ofendera, disse: "E é da Igreja!".

Caí. Fiquei no chão um tempo. Não com o corpo, é claro, mas com a mente e principalmente com meu orgulho de Cristão. Envergonhado, fiquei lá...MAS DECIDI NÃO FICAR PARADO!

Falei em alto e bom som: "Eu sou da Igreja! Essa pessoa aí não é! Ela diz ser!".

Em poucos segundos as pessoas resolveram sair para fumar ou comer e fiquei só. Conquanto tenha descoberto uma forma de nunca mais esperar em salas de espera, foi meio constrangedor. Sabia que as pessoas estavam saindo por minha causa. Mas na época isso não me abateu. Defendi a Igreja, defendi a fé! "Guerreiro do Senhor!". Ridículo.

O ponto que quero demonstrar é a sempre presente disposição dos cristãos para defenderem a fé ou a igreja. Somos constantemente convocados para a "Guerra Santa" que se trava contra todos que pensam diferente. Se alguém falar mal da igreja é melhor que esteja preparado, pois cristãos que se prezem andam com espadas na cintura e não têm medos de usá-las! E por "espada", não me refiro à Bíblia, embora esta também seja usada para ferir e magoar.

E justamente por falar em ferir e magoar que volto-me para o assunto chave desta postagem.

Nunca vi o filme ou o musical "Jesus SuperStar" de Tim Rice e Andrew Lloyd Weber. Não vi por que a imagem de um superstar não era das melhores e a imagem de Jesus era a melhor. Fazer uma comparação entre os dois já era uma falta de respeito. Não esqueçam que sempre fui fundamentalista...

Pois bem, vi duas cenas de uma adaptação portuguesa produzida por Felipe La Feria e Antonio Leal.

Uma pessoa muito querida me enviou um link para a canção "Gethsemane", traduzida como "Monte das Oliveiras", interpretada pelo cantor Gonçalo Salgueiro. Vi o vídeo. Imediatamente o fundamenlista que eu pensei ter morrido há anos retornou como uma erupção vulcânica. Não é exagero. A ira se acendeu sobremaneira e fui infeliz com a pessoa que me mandou o vídeo. Disse que havia ficado ofendido e passamos muito tempo conversando acerca do vídeo, das razões de minha ofensa e etc.

Agi mal. Muito mal. Fui um irracional e me assustei amargamente quando percebi que tudo aquilo contra o que lutei para vencer e apagar retornou tão facilmente. Tenho o receio de que volte e que eu retorne ao caminho de onde vim. Espero que esta experiência contribua para que eu tenhas forças para não retornar e poder continuar.

Para aqueles que nunca ouviram a música, posto aqui a letra e explico as razões de me sentir ofendido. É o personagem Jesus cantando:

Eu quero saber se te posso pedir
Afasta de mim o cálice
Eu não quero seu veneno
Que me queima

Eu mudei
Já não sei onde errei
Tinha tanta fé quando comecei
Estou tão triste, tão cansado do caminho já andado
Tanto sofrer

Que mais queres Pai? Que mais posso fazer?

Se eu morrer
Será que vai cumprir todo teu querer?

Deixa que me cuspam, batam, preguem na cruz

Quero saber, Senhor
Quero crer, Senhor

Mas se eu morrer
diz-me então
que minha morte não será em vão
Que não é inútil este amor, esta paixão

Eu quero crer, eu quero crer, Senhor
Não duvidar, não duvidar, Senhor
Eu quero crer, Eu quero crer, Senhor

Acreditar, acreditar, Senhor

Se eu morrer, o que irá acontecer?
Se eu morrer, o que irá acontecer?

Quero saber, quero saber, Senhor
A razão por que devo morrer

Diz-me então
que minha morte não será em vão
Que não é inútil este amor, esta paixão

Pai, quero saber por que tenho que morrer
não importa onde ou quando,
mas sim o porquê

Por ti eu morro, por ti eu morro
Mas quero acreditar
não duvidar, Senhor
Acreditar

Quando comecei tinha tanta fé
Estou tão triste, tão cansado
Do caminho já andado

Tenho medo, estou sozinho
Estou tão triste, tão cansado

Pai, o jogo é teu e eu sou apenas eu
Beberei o teu veneno
Prega-me na cruz, Senhor
Seja feita a tua vontade
se é este o teu amor
Se é este o teu amor


O musical é dos anos 70, então é lógico que seja contestador. Ainda mais por ser norte americano. Guerras no mundo todo incluindo a espacial e a armamentista, revoluções, recessão na economia, década da discoteca, estréia de alguns dos filmes mais famosos da história como "Tubarão", "O Poderoso Chefão", "Guerra nas Estrelas"... enfim, uma década que tem grande relevância na história mundial.

Agora vamos às razões da ofensa sentida.

1) "eu não quero seu veneno". Provavelmente se refere ao conteúdo do cálice, no entanto no final da música ele afirma que o cálice é dado por Deus e se refere ao veneno de Deus e não do cálice, "Beberei o teu veneno". Dizer que Deus dá veneno a uma pessoa é contrariar a ideia de que ele seja bom ou amor. (Lucas 18.19 e I João 4.8).

2) "eu mudei, já não sei onde errei, tinha tanta fé quando comecei". Afirmar que Jesus mudou é contrariar a passagem de Hebreus 13.8, de que "Jesus é o mesmo ontem, hoje e eternamente". Dizer que Jesus errou é contrair a passagem de II Coríntios 05.21 em que "aquele que não conheceu o pecado, o fez pecado por nós, para que nele fôssemos feitos filhos da justiça.". Se Jesus não tinha mais fé no decorrer de sua jornada, então suas palavras acerca da fé são no mínimo hipocrisia como em Mateus 17.20 quando considera a falta de fé dos discípulos a razão de não terem conseguido realizar a expulsão de um demônio. E o que fazer com a passagem de Romanos 1.17 em que a fé é a razão vida do justo?

3)"se eu morrer, será que vai cumprir todo o teu querer?". Mais uma vez Jesus está em dúvidas e agora coloca sua missão em dúvida. Se Jesus estava em dúvida de sua missão, então a passagem de Lucas 24.46 é o testemunho de sua conversão? "ahhhh agora que eu morri e ressucitei, então 'convinha que o Cristo padecesse...'".

4) "Quero crer". Se Jesus queria crer então por que diria para crer em Deus e crer nele também, se nem ele sabia se de fato acreditava? (João 14.01 é claro, "Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim." e Mateus 14.31 então?)

5)"Se eu morrer o que irá acontecer?". Se Jesus não sabia então aplicou uma pegadinha no condenado da cruz ao lado, pois disse que no mesmo dia ele estaria com ele no paraíso (Lucas 23.43). Mas se Jesus se referia ao que aconteceria na terra após sua morte, então foi mentiroso ao declarar aos discípulos que deveriam ter bom ânimo em meio às aflições face ele (Jesus) ter vencido o mundo. (João 16.33).

6) "A razão por que devo morrer". Este Jesus não faz a menor ideia do que morreria pelos pecados da humanidade. E Mateus 26.49? Jesus diz claramente que os acontecimentos são a cumprimento das Escrituras! Ou ele sabia ou então leu as Escrituras de forma errada e se enganou feio...

7)"Pai, o jogo é teu". Ok. Essa é pesada. Então a vida humana é um jogo de Deus? Ele está em algum lugar jogando dados e rindo daqueles que morrem na cruz? Ou chorando? Dizendo algo como "Errei nessa! Na próxima eu acerto!". Será que a paixão de Cristo foi só um lance no jogo de Xadrez (ou foi Damas) divino? Bem...a julgar por Jó, sabemos que a divindade gosta de uma boa disputa! (Jó 01.11-12).

8) "Se este é o teu amor". Por fim Jesus declara não saber qual é o amor de Deus senão que ele (Jesus) beba o veneno divino e seja pregado na cruz. Onde está o "Aba" de Marcos 14.36? Aliás, esta passagem é justamente de Jesus no Getsêmani...e o "paizinho"? E o cuidado de pai para filho? Não. O cuidado sentindo pelo Jesus Superstar é veneno e pregos na mãos e pés!

Enfim, poderia levantar muitas razões mais para ficar ofendido. Poderia analisar a música linha por linha. Jesus é uma figura sagrada para um batista, assim como a Virgem Maria é para um católico. É preciso ter muito cuidado com símbolos sagrados. Ofender o outro é muito fácil, ainda mais quando se trata de religião. Ofender a fé de alguém é triste. Brincar com o sagrado do outro é brincar com o que de mais precioso há para o outro.

Mas esta música não brinca.

A música é séria. Faz duras críticas. Apresenta um Jesus só, perdido e em dúvida. Talvez por isso tenha me incomodado tanto. O símbolo mais forte do fraco cristianismo que ainda sobrevive em mim, retratado como um homem qualquer. Mas, Jesus não foi um homem? E se passou pelas mesmas dificuldades que os homens passam, então por que não sentiria a agonia que o ser humano sente?

Em meio à conversa que tive com a pessoa que me mandou o link, estando eu alterado, a pessoa disse exatamente as seguintes palavras: "Talvez o objetivo fosse esse. Colocar Jesus como homem para que percebêssemos a dimensao do que sofreu". Caí. E foi uma queda violenta.

Já li algumas propostas de leituras dos Evangelhos e uma das que mais gosto é aquela que lê Jesus como alguém que não veio morrer e que sua ressurreição é justamente a indignação de Deus contra o homem pecador. Deus não aceitaria a morte do homem Jesus e o ressucita para provar aos homens que sua vontade é completamente diferente do que imaginavam.

Estava tão enfurecido por ver passagens que conheço há anos serem desrespeitadas que não pude enxergar o que os autores da música foram capazes de fazer. Apresentar o lado mais humano de Jesus.

O Jesus que veio e sofreu é geralmente esquecido pelo Jesus glorificado e sumo-sacerdote apresentado em Hebreus.

Ouvi a música novamente. E novamente. E várias vezes desde então. Se entendermos Jesus como um homem e não como Deus, a música é perfeitamente aceitável. É linda. Comovente. Para piorar a minha situação, quem disse que Jesus era Deus? Jesus? Ele disse que ele e o Pai eram um (João 10.30). Só. Até chegar ao Concílio de Nicéia que formulará o conceito de Jesus como sendo da mesma essência de Deus vão-se quase 300 anos em que Jesus não é considerado Deus por todos as pessoas e nem por todos os cristãos.

Infelizmente isso não veio à minha mente no momento da conversa e por isso peço desculpas (já pedi, mas peço novamente) à pessoa com quem conversei. Sinto muito.

A música é linda. A interpretação é fantástica. Gonçalo Salgueiro é um cantor e ator fenomenal. Queria colocar o vídeo aqui, mas não consegui, pois o detentor do vídeo no youtube proibiu este tipo de postagem. Passo o link e peço a todos que se dêem este presente. Caso você não tenha clicado no link do começo da postagem, clique agora, veja o vídeo. Para ver o vídeo, clique aqui.

Como sei que existem muitas pessoas que não têm paciência para clicar em links e que o youtube pode ser bloqueado em alguns lugares, consegui o vídeo abaixo de uma apresentação de Salgueiro num programa televisivo português. Ele canta a mesma música.

A conclusão da música tanto é uma entrega total do Jesus à vontade divina quanto uma crítica mordaz ao Cristianismo. Então a vontade de um Deus de amor é matar o próprio filho? É fazê-lo sofrer? Intenso. Precisa de uma resposta dos cristãos. Eu não darei a minha. É preciso ter fé para responder esta e eu não vou dizer se ainda tenho alguma, mas a questão está aí.

"Quando comecei tinha tanta fé, estou tão triste, tão cansado do caminho já andado. Tenho medo, estou sozinho, estou tão triste, estou tão cansado", é comovente e é possível se identificar com este Jesus sofredor.

Vi e tenho visto estudantes de Teologia que começaram com tamanha fé a ponto de se julgarem inabaláveis, agora, depois de anos de estudo estão esgotados, cansados do longo caminho que percorreram e por que não parece haver uma saída ou solução, com medo por suas crenças serem abaladas diariamente, sozinhos, pois não há com quem contar quando se descobre que a verdade não está nas mãos e ninguém pode ajudar a procurar, tristes por que viveram uma vida inteira (e pode ser 1 ano ou 20 ou 100 anos) de um cenário pintado .

Eu sou um destes estudantes de Teologia, por isso me identifico com este Jesus sofredor.

Os autores da música conseguiram mostrar um Jesus humano acima de qualquer representação que eu já tenha visto. Sua dor e angústia podem não estar descristas da mesma forma que estão nos Evangelhos, mas é de admirar que se tenha conseguido tamanho grau de realidade. É possível perceber a aflição.

Quem dera que cristãos do mundo todo questionassem Deus desta forma como está no vídeo. Ouvi uma pregação há muitos anos em que uma pastor dizia da experiência de um homem. Este, teve sua oração mais sincera proferida no enterro de sua filha, morta ainda criança, quando ele olhou para o céu e disse "Eu te odeio.".

De que adianta não chorar para pensar que se está mantendo a fé? Por que não questionar a existência de Deus? Por que não gritar por uma resposta? Por que se calar diante da inefável presença divina e tolerar os desesperos da vida?

O Jesus da música chora. Questiona. Grita. Não se cala. Gostei deste homem Jesus sofredor, mas eu sou um cristão às avessas.

Espero que vocês também gostem.




132. Da dificuldade de postar...

Lá se vão quase 10 dias sem uma única postagem aqui...desculpem!

Não é fácil ter tempo livre para postar aqui. A faculdade e a situação da faculdade estão tirando minha paz aparente e tenho outras atividades que, somadas, contribuem para a falta de tempo e de ânimo para estar aqui.

Não sou tão prolixo para encher este blog com inúmeras postagens desnecessárias e sou favorável à filosifia de que se vale a pena fazer algo, então vale a pena fazer bem feito!

Tendo dito isso, tentarei postar pelo menos uma vez ao dia. Nem que seja um vídeo ao menos ou até uma piada. Este blog nunca se atreveu a apresentar somente assuntos sérios. Ninguém aguenta um blog tão chato assim! Eu sei que não aguento!

Tendo explicado superficialmente minhas razões, despeço-me com uma até já.

Então é aqui?

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