quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

121. Da maneira antiga.

Reunião de conselheiros da organização Embaixadores do Rei. Madureira. Bairro quente da cidade do Rio de Janeiro. 41 graus. Sol a pino. Uma sala com janelas fechadas por que o bloco de rua e seu poderoso carro de som não permitiam conversas.

Não gosto destas reuniões. Não são produtivas. Não lembro-me de quando foi a última reunião produtiva em que estive. No ANVER não conta. Eu era comandante de núcleo e não permitia reuniões intermináveis e sem sentido. Mania que o povo tem de que falar e falar sem objetivos poderá levar a algum lugar, principalmente a alcançar o sucesso. Soube de uma reunião em uma empresa que começou as 10:00 e só foi encerrada as 20:00. Eu sairia antes das 11:00 ou pediria demissão antes de 13:00.

Enfim, uma pessoa perguntou se algum conselheiro desejava falar algo e lá do meio da sala surgiu a voz de uma conselheira. Ela disse que o principal problema que enfrenta nas igrejas que visita é que a embaixada ou a organização Embaixadores do Rei se tornou apenas uma opção. Hoje as crianças enxergam a organização como algo em que podem ou não ir se não houver melhor opção. Ela encerrou dizendo que "temos de voltar à visão antiga! ER não é apenas uma opção!".

Tive vontade de pedir a palavra. Melhor não. O calor já me incomodava o suficiente e de que adiantaria falar numa reunião que não estava ali para decidir os novos rumos da organização?

Errei. Deveria ter falado. Não se pode desperdiçar uma oportunidade. Fica a lembrança para quando se fizer necessário.

O que eu ia falar? Fácil.

"Os embaixadores que frequentam a embaixada em que estou não crescerão na visão antiga.".

Posso apresentar a visão antiga. Demonstrar como algumas pessoas pensavam e como algumas pensam. Mas nunca vou dizer aos garotos que a embaixada é uma obrigação. Já fiz o contrário.

Sempre converso com os embaixadores da embaixada que frequento. Mesmo no ANVER, com garotos de todo o Brasil o discurso não foi alterado.

A embaixada não é obrigação. Assim como a Igreja. Até a Bíblia não é obrigação. Sempre pergunto: "Vocês acham que Deus vai castigar vocês por não estarem na Embaixada?".

E mais ainda, "Se você não se sente bem aqui, se isto aqui não é para você, então não se violente. Saia. Seja feliz.".

Alguns conselheiros poderiam ficar irritados com minha postura, mas não os considero mais importantes que os garotos.

Ficar a vida inteira na Igreja apenas por obrigação? Que vida triste. É claro que existem coisas boas na Igreja e que podem ser experimentadas mesmo por quem está lá por força contrária à sua vontade. Em algumas existe até comunhão! (Sarcasmo). Mas que tipo de felicidade se pode ter ao se manter sob um jugo durante a vida? E uso o termo "vida", pois um garoto entra na embaixada com 8 anos de idade e sai apenas com 18 anos. É uma vida!

Desde quando a vida cristã não é uma opção? Desde quando é uma imposição mantida pela força do falso amor? Para aqueles que gostam de versículos aqui vai um:

"Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo." Apocalipse 3.20

"...abrir a porta..."

Não sei não...mas me parece que é uma atitude voluntária. Vamos ler devagar? Tentar fugir da armadilha de ler o texto com medo?

"Eis que estou à porta, e bato;"

Se é a Jesus que o autor se refere, ele não o coloca como um invasor, mas sim como alguém que está à espera. Ele chama a atenção e só. Acabou a participação deste Jesus no versículo, pelo menos até que sua ação provoque uma reação. Enquanto não há reação, Jesus apenas está parado na porta, que fechada estava e fechada continua.

"...se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta..."

Agora o autor não coloca ação alguma da parte de Jesus. Se Jesus está presente, é apenas na narração dos acontecimentos. A ação é por parte de outra pessoa. Daquele que ouve e se ouvir. Se ouvir, ele pode abrir a porta. É preciso perceber que qualquer um pode ouvir sem que, no entanto seja obrigado a abrir a porta.

Pelo texto, Jesus chama sua atenção, mas não força a entrada. Ele pode ser recebido ou não. É opcional. Se Jesus que é Jesus, entendemos que não seja Jesus, mas o Jesus do autor, se apresenta como opção, por que a embaixada seria obrigação? Será que nos tornamos tão especiais que escreveríamos o versículo assim:

"Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e não abrir a porta, então eu a colocarei abaixo por que todo o poder me foi dado na Terra e no Céu e não posso ser recusado! Então cearei e obrigarei a todos que comam comigo.".

(?)

Espero sinceramente que não.

A segunda parte do versículo já é com a abertura da porta. Esta parte não cabe aqui, pois o que estudamos é a atitude e direito de escolha.

Se alguém quiser, leremos a segunda parte. Não fujo.

Não sou tão prepotente para achar que a embaixada ou a igreja seja a única opção. Não as considero como únicas opções. São apenas opções. A denominação Assembléia de Deus não tem este tipo de trabalho, logo eu posso dizer que todos os garotos de lá estão perdidos? Não. Com certeza devem existir outros tipos de trabalho com esta faixa etária.

Devia ter dito lá,, na reunião, o que escrevi aqui, no blog. Foi uma opção. Errada. Outro dia talvez tenha a oportunidade de optar corretamente, mas seja como for ainda será opção. Minha. Individual.

E que as opções dos garotos também sejam suas e individuais.

4 comentários:

  1. Permita um comentário de quem realmente não conhece o trabalho dos Embaixadores do Rei. É apenas uma opinião, comparando ao que conheço na Igreja Católica.

    Creio que para crianças até, pelo menos, uns 12 anos, os pais precisam sim decidir em lugar de seus filhos. Neste período, a personalidade e a maturidade de uma criança está em construção e, na minha opipnião, não está ainda preparada para tomar decisões quanto a questões importantes de sua vida. E a espiritualidade está entre estas questões mais importantes. Afinal, os pais também são responsáveis por escolher a escola em que estudará, etc...

    Você mencionou que os Embaixadores do Rei recebem pessoas de 8 a 18 anos. Não sei se é a única opção de formação cristã para quem freqüenta a sua religião ou se existem outras nesta faixa etária. Se não é a única, a posição desta pessoa na reunião é, no mínimo preocupante. De qualquer forma, acho que é necessário um período de formação cristã e que isto precisa ser decidido pelos pais, queira a criança ou não (como eu disse, no máximo até uns 12 anos).

    Na Igreja Católica, temos a Catequese que é justamente para ensinar os fundamentos da fé cristã às crianças e fazê-las reconhecer Jesus vivo e ressuscitado na Hóstia Consagrada que irão receber na Primeira Comunhão. Podemos e acho que devemos sempre questionar processos e métodos a serem aplicados dentro destas formações para que possam envolver realmente as crianças, mas realmente na minha cabeça, a decisão deve ser tomada pelos pais e responsáveis dentro da fé que professam.

    Agora, a partir desse início, o adolescente (não mais criança) deve sim optar, ter a liberdade de seguir este ou aquele caminho (inclusive na Igreja ou não). Os pais devem orientar e mostrar prós e contras de uma decisão ou outra, mas a liberdade e as responsabilidades precisam ser exercitadas nesta fase da vida.

    Desculpe me meter falando de uma organização que não conheço. Fiz um paralelo com o que conheço na minha Igreja para poder opinar.

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  2. Quanto à falta de foco nas reuniões, concordo com você... Não há coisa pior!!!

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  3. Concordo que é dos pais a decisão de como educar os filho, mas acredito que esta educação não pode ser fechada. Não é por que os pais acreditam em XYZ que vão criar os filhos educan-os a acreditarem em XYZ.

    Tenho por certo para mim que os pais não podem se eximir da educação dos filhos, mas que esta deve ser regida pela liberdade.

    A todo momento o pai diria: "Meu filho, isto é o que eu entendo como certo. É nisto que acredito. Vou te apresentar isto e as demais coisas em que não acredito e vou te explicar por que não acredito ou não compreendo, mas só você vai optar pelo que vai acreditar quando tiver mecanismos para isso. Saiba que eu não quero te forçar a acreditar em nada. Quero apenas que você conheça o caminho que escolhi para minha vida e depois, no futuro, decida o seu com conhecimento de tudo.".

    Eu acredito que assim seria mais honesto. Talvez não visse tantas brigas em família por que filhos rejeitam as escolhas dos pais e pais que sempre se entenderam como inquestionáveis se perguntam a razão de ter dado errado. As famosas frases: "O que deu nesse menino?", "O que eu fiz de errado?"...

    Quanto a se meter numa organização que não conhece, é justamente por isso que sua opnião é importante. Estás de fora e podes enxergar coisas que os que estão de dentro já não conseguem ver.

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  4. Bom, enfatizo que falei de crianças até 11 ou 12 anos, não mais que isso. O problema é que os pais acabam estendendo este comportamento até... aí, não dá...
    Outra coisa é que, evidentemente, deve-se tentar primeiro entrar num acordo entre pais e crianças e, não havendo, aí sim, os pais são soberanos.
    Ainda acho que nessa fase que mencionei, os pais devem sim escolher o que seus filhos irão aprender quanto à fé, pois apresentar todos os caminhos possíveis nessa fase faria uma miscelânea total na cabeça delas e, por outro lado, simplesmente não ensinar nenhuma seria, na minha opinião, omissão.
    Por fim, acho que precisa ser cuidadosamente revisto é como estes "fundamentos da fé" estão sendo passados. Falando de novo de algo que eu vejo perto de mim, a catequese está começando a passar por esse processo através do que está sendo chamado de Catecumenato.
    Com esta base, aí sim pode-se colocar em discussão outros caminhos e o porque dos pais não seguí-los.
    Bom, é meu ponto de vista.
    Um abraço!!

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