segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

112. Do ano novo e suas comemorações...

Nunca atribuí muita importância para as festas de Natal e Ano Novo. Não que não entenda o sentido e a importância da festa natalina e que não me alegre com o recomeçar da vida após um ano em que todas as "promessas" não foram cumpridas.

A questão é que sempre entendi estas datas como comerciais demais. Nunca acreditei em Papai Noel. Crente não acredita num bom velhinho. Acredita em Jesus e seu nascimento em Belém. Esta forma de enxergar o Natal garante a total imcompreensão com os shoppings lotados e as inúmeras propagandas na TV e com a falta de intimidade com o famigerado HO, HO, HO.

A questão é que estas festas sempre estão presentes. Fazem parte do calendário cristão mundial, então não há como fugir delas.

Tentei um caminho inverso, a saber, compreender qual a importância destas datas.

É claro que não vou falar do óbvio aqui. Não vou falar que o Natal é o nascimento do salvador da humanidade. Este conceito já é marretado nas cabeças das crianças à exaustão.

Do Natal, nada falarei.

Das festividades de Ano Novo, destas falarei.

O que se faz para comemorar a passagem de um ano para o outro? Se reune com a família, com os amigos, faz-se um banquete, veste-se de branco ou com roupas novas...há a contagem regressiva, os fogos de artifício, as saudações ao santos, as orações às divindades...e muitas outras formas de comemorar esta passagem de um ano para outro.

Pergunto: O que de fato muda com a passagem de 2009 para 2010 ou de 1900 para 1901?

Sabe qual a resposta? Nada. Absolutamente nada muda. Ok, ok...algum mais espertinho quererá dizer que mudam os calendários...

Mas e a vida? A vida não muda. As escolhas (promessas de ano novo) feitas nesta época do ano teriam a mesma validade ou importância se feitas na metade do ano passado ou na metade do ano novo. Correto?

Não. As escolhas não teriam a mesma validade e importância e por uma razão simples. Elas são escolhas de um indivíduo em um determinado momento. Se o momento não favorece a escolha, ela não será significativa. Quem atribui significado às datas são as pessoas.

Se uma pessoa não se importa com o Natal o que se pode dizer da importância do Natal? Nada. Falemos de como os Judeus comemoram o Natal?

Pode-se apresentar argumentos, mas o significado está na pessoa. Qual o significado que o Hanukká tem para mim por exemplo? Eu o compreendo e é muito interessante. Mas daí a comemorá-lo...

Se o significado está na pessoa e não na data em si, então cada pessoa tem um significado para o seu Ano Novo.

Meu pai acredita e disse isso no culto realizado no dia 31, que é a data representativa da esperança em Deus.

Minha mãe acredita que é a data que representa as bençãos de Deus.

Não sei no que minha irmã acredita. Sei que ela gosta.

E no que eu acredito? Eu vou até os antigos e me sinto em casa. Mais ou menos. Gosto da interpretação deles.

Pois bem, qual é a interpretação dos antigos?

Quando falo dos antigos, falo dos egípcios.

Os egípcios ou aqueles que habitavam a região onde hoje é o Egito, viviam em função do Rio Nilo.

Quando o fluxo do Nilo era normal a vida brotava em todas as regiões próximas. O Nilo trazia a abundância de alimento. Os animais chegavam à região. As pessoas podiam plantar e criar animais.

Quando havia a seca do Nilo a vegetação morria, os animais fugiam ou morriam, as pessoas passavam fome, adoeciam e morriam.

Quando havia a cheia do Nilo as águas, símbolo do caos, destruíam tudo à volta. A plantação, as moradias, os animais, a vegetação e trazia também as grandes feras do Nilo. Era o caos.

Com o tempo e com a observação do cotidiano, as pessoas puderam decifrar as épocas do Nilo. E o calendário foi formado de acordo com a época de cheia do Nilo.

Com mais tempo e, são centenas e centenas de anos, as pessoas puderam aprender como domar, na medida do possível, as enchentes do Nilo.

O calendário ficou preciso.

Mas antes de aprenderem como conter as forças do poderoso deus egípcio, embora naquela época ainda não fosse um deus como hoje se entende, o momento em que o Rio Nilo secava e a vida parecia acabar era entendido como o fim do mundo.

Os habitantes da região acreditavam que o mundo ordenado estava desmoronando. Que a vida estava cessando e que era necessário fazer algo para reverter este desastre. Provavelmente os deuses estavam enfurecidos por alguma razão. E o deus Nilo estava se retirando do meio deles.

E o que fazer quando o mundo parece acabar?

Agradar os deuses e implorar misericórdia. Para tanto, a melhor maneira seria trazer ofertas para os deuses. Ofertas a serem colocadas no Nilo seco ou para formarem um grande banquete com todos os habitantes presentes. Misericórdia a ser implorada por todos que lembram os grandes benefícios dados ao longo de todo o tempo em que o Nilo estava ótimo.

É interessante que estes festivais religiosos aconteciam quando a época de retorno do Nilo estava próxima.

Eles acreditavam que ao realizar a cerimônia o mundo era ordenado novamente. E que não mais acabaria e realmente não acabava. Eles reiniciavam o mundo a cada ano.

Hoje se não fizermos um banquete o mundo não acabará. Se não houver fogos de artífico na Praia de Copacabana o mundo não acabará. Se não estivermos vestidos de branco o mundo não acabará. Se não saudarmos os santos e as divindades (atrevo-me a dizer) o mundo não acabará.

A questão é que o mundo e a vida permanecem. Continuam. Independentemente do que fizermos. Podemos tentar melhorar as condições, prolongar o tempo até, mas nenhum de nossos rituais têm o mesmo significado que os antigos entendiam como verdade absoluta.

E qual o significado de nossos rituais hoje?

Eu entendo que estamos fazendo exatamente a mesma coisa que os antigos. Estamos reiniciando o mundo. Não o planeta ou a região em que vivemos.

Reiniciamos o pequeno mundo em que vivemos. O mundo das relações. O mundo das relações com os amigos que se reúnem nesta época. O mundo das relações com os familiares que se reúnem nesta época. O mundo das relações com pessoas das quais lembramos e às quais enviamos cartões coloridos com desejos de felicidades.

É este mundo de relações que é reiniciado quando viajamos para estar com pessoas queridas. Quando afirmamos que é preciso estar com estas pessoas no começo do ano para celebrar as conquistas do ano anterior e compartilhar os desejos futuros.

Não tenho absolutamente nada contra aquelas pessoas que vão às praias super lotadas e ficam na companhia de pessoas que não conhecem. Acredito que estas pessoas estão iniciando um mundo com estas pessoas. Mas esta é uma visão bem otimista. A verdade é que muitos estão embriagados a ponto de não se lembrarem do que fizeram ou de com quem estavam. Com relação a estes eu me pergunto:

Que mundo eles iniciam ou reiniciam?

Qual é o significado das comemorações para estas pessoas? Acredito que elas apenas aceitam os significados passados como certos.

Por que comemorar algo se não entendo o significado? E por que tentar beber ao ponto de não me lembrar do que aconteceu no dia da comemoração?

Conversei com um colega no dia 30. Ele iria à praia. Ele também encheria o carro de gelo e cerveja. E comemoraria. Algum problema com isso? Nenhum.

Eu prefiro entender e comemorar ou não o reinício de alguns mundos, mas eu não sou exemplo para ninguém.

3 comentários:

  1. Fiquei sem palavras diante das suas....
    Bjão........................Tulipa

    ResponderExcluir
  2. Achei interessante sua forma de tratar este tema. Realmente, a data tem apenas o "poder" de realizar aquilo que ela significar para as pessoas.
    O que vejo de especial em uma data assim é a idéia de um recomeço, assim como deveria ser o início de cada mês, ou até de cada dia, como lidam grupos como os Alcoólicos Anônimos e Narcóticos Anônimos - "Por Hoje Não". Mais recentemente, a Comunidade Canção Nova também propaga idéia semelhante com o "Por hoje não vou mais pecar" mas, sem me prender a um grupo ou outro, enfatizo a idéia de recomeço, embora realmente qualquer minuto ou segundo possa ser recomeço.
    Racionalmente, posso estabelecer qualquer momento para ser este recomeço, mas o "psicológico" acaba precisando de sinais e os símbolos podem ajudar bem (ou prejudicar bem) neste momento.
    Neste campo de sinais e símbolos, poderíamos falar indefinidamente, mas acho que não é o momento...
    Parabéns pelo blog. Não li muitos temas passados, mas creio que estes mais recentes desde que passei a acompanhá-lo são uma amostra interessante do que os demais devem ser.
    Já que falei de recomeço, considero hoje um começo de meus comentários por aqui.
    Um abraço!

    ResponderExcluir
  3. A cada dia percebo que o melhor a fazer nesta vida é tentar vivê-la apenas "um dia de cada vez".

    E por falar em recomeço e em relações sociais, sinto-me honrado em receber duas estréias neste modesto blog.

    Sr. Antonio José, católico, que tive o prazer de conhecer por intermédio de meu amigo Carlos e a bela Tulipa, evangélica, que tive o prazer de conhecer pelo orkut...

    Sejam muito bem vindos e espero que pelo menos um pouquinho deste blog sirva para matar o tempo quando necessário.

    Obrigado pelos gentis comentários!

    Harlyson

    ResponderExcluir

Obrigado pelo comentário, seja crítica, elogio ou sugestão. O que importa são suas palavras.

Então é aqui?

Pesquisar este blog