segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

114. Um longo caminho.

Não posso dizer que foi um longo caminho. É certo que o caminho foi árduo e demorado, mas não posso dizer que "foi". Não foi. É.

Levei muito tempo para chegar onde estou e sinto que ainda não cheguei ao final. Sinto que as dúvidas se multiplicam e que as certezas dobram.

O estudo da Teologia não pode ser responsabilizado por eu ter tomado um determinado caminho. Quando ainda estava na igreja e frequentava os cultos, EBD's e demais atividades já sentia o erro em algum lugar, mas não conseguia perceber.

O estudo da Teologia apenas mostrou uma possibilidade que encontrar os erros e acertos. Como bem disse, após uma de suas aulas da matéria de "Hermenêutica", o professor Dr. Osvaldo Luiz Ribeiro, "se você ouviu tudo isso e nada aconteceu pode ir embora para casa, mas se ouviu e era tudo o que você sempre quis ouvir, então...". Eu sempre quis ouvir. E ouvi.

Sempre sou surpreendido quando vejo pessoas que cresceram comigo na Igreja.

Muitas estão lá ainda e estas me intrigam. Como conseguem?

Outras tantas estão fora. Sem estudos de Teologia.

E pergunto-me:

Como podem abandonar tudo tão facilmente?

É uma questão errada. Se foi facilmente ou não eu não posso saber a não ser que pergunte. Mas sei que abandonaram tudo ou quase tudo. Abandonaram aquilo em que foram educadas desde o nascimento.

Fico surpreso de ver estas pessoas no estado em que se encontram.

Algumas abrem sorrisos espontâneos e bonitos de serem apreciados. Ontem mesmo recebi dois desses sorrisos e fiquei contente por estas pessoas estarem bem ou pelo menos por parecem bem.

Outras exibem um semblante descaído. Triste. Pergunto o que há e a resposta é tímida e inaudível.

Em meu longo caminho quase tenho a presunção de dizer que sei a razão da felicidade e da tristeza, mas me contenho. Seria errado, por mais certo que estivesse.

A questão é que parei, li, pensei e gastei muito tempo parando, lendo e pensando e fui aos poucos chegando às conclusões que se tornaram em decisões e ações, afinal, acreditei piamente em muita coisa durante muito tempo e abandonar seria extremamente difícil. E foi.

Mas e estas pessoas? Às vezes por causa de um namoro, por causa de um trabalho, por causa de uma briga abandonam tudo em que sempre acreditaram. É claro que a intensidade do sentimento no namoro justificaria, assim como a necessidade do dinheiro conseguido pelo trabalho executado e, de igual maneira, a dor da briga justificaria. E digo que as razões são justificadas por que cada um sabe a alegria e a dor que sente.

Não posso dizer que não se deve abandonar algo por um motivo X, mas que se deve abandonar por um motivo Y.

A pergunta é: será que acreditaram em algum momento em tudo aquilo que ouviram durante anos?

Não me cabe julgar, mas é extremamente interessante como algo profundamente aterrador para alguns, é banal para outros.

O diálogo entre estas diferentes pessoas em seus diferentes caminhos seria incrível para todos. Poderia não ser agradável, mas conheceríamos as razões de cada um. Sem acusações. Apenas argumentos sendo colocados, analisados, debatidos e aceitos

É um sonho. Talvez distante. Talvez não.

2 comentários:

  1. Li uma vez que, em vez de pensar no conhecimento como uma espécie de líquido que vamos acumulando, poderíamos imaginá-lo como um parque de trens. As informações que recebemos acionam as chaves que alteram as conexões entre os trilhos. Acho que essa imagem pode ajudar a explicar porque podemos mudar tanto em tão pouco tempo. Para mim é estranhíssimo reler coisas que escrevi há um ano e pouco, e é mais esquisito ainda saber que eu era sincera, tão sincera quanto sou hoje dizendo o contrário... Aquela velha ideia de que se alguém deixou de crer é porque nunca se converteu de verdade não faz mais sentido pra mim. Antes os trens passavam, agora não passam mais... Simples (e complicado) assim.

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  2. Gostei da visão do conhecimento como parque de trens...gosto de pensar como trilhas numa floresta.

    Às vezes nas trilhas que faço não encontro uma placa sequer. Vejo o verde e só. Então escuto algum rio, algum pássaro ou vejo alguma árvore que liga as conexões no cérebro (Edgar Morin) e imediatamente a situação se torna nova. Posso analisar a situação de forma diferente e em questão de minutos ou segundos o que antes era "perdido", agora é "localizado" e o que era "E agora?" passa a "ok. Por aqui.".

    Não questiono a fé das pessoas que vejo. Apenas tenho a profunda curiosidade de entender como são. Como podem agir como agem. Será que são sinceras? É a fome de saber de uma criança que levanta a pedra (lembra?).

    E reler o que escrevo é hilário! "Como posso ter escrito isso?", mas é o que o prof.Dionísio disse no 1o período, a saber, o texto após escrito não pertence mais ao autor, ele cria vida e ganha significados que o próprio autor desconhece.

    Ao ler o que escrevemos no passado, estamos, de fato, lendo outra pessoa.

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