quarta-feira, 10 de março de 2010

124. Da Vida religiosa e da guerra

Cenário:

Carro a caminho de uma reunião de conselheiros, passando pela Igreja Mundial do Poder de Deus na Avenida Suburbana no Rio de Janeiro.

Personagens:

Quatro Conselheiros

Falas:

"Olha o tamanho da igreja..."
"É o cara fez uma baita placa..."
"Também...já sai da IURD com dinheiro..."
"Olha...eu acho que não tem que falar não! É que nem forças armadas! Cada um vai para onde se identifica...uns com artilharia, outros com comunicação, outros da infantaria...o importante é salvar almas!"

Comentário:

Conquanto muito me agrade que alguém diga para deixar as demais denominações em paz e que busque um ideal maior direcionado à importância das pessoas, (neste caso da alma eu sei...mas já é alguma coisa!) não posso ignorar a temática militar da concepção.

Cenário:

Uma rua do bairro Estácio.

Personagens:

Dois ou três embaixadores e dois conselheiros.

Fala:

"Missão é guerra. Você quer convencer o outro que aquilo que você prega é o melhor."

Comentário:

Novamente a concepção militar e agora dita com orgulho e a falar de "missão" como o movimento de Missões da Igreja Batista, ou seja, o esforço conjunto da igreja para levar a mensagem do evangelho ao mundo.

Alguns acreditam que todos os debates são guerras. Acreditam ser necessário vencer o interlocutor. Não considero esta uma abordagem sábia. Vencer? Vencer uma conversa? Quem está interessado em vencer um diálogo? Políticos. ahhhhhhh a vida é política!

Sim. É no contexto das relações interpessoais que se forma o indivíduo, mas não necessariamente é preciso que se façam dessas relações apenas motivações interesseiras com base na lei da vantagem.

Pior ainda quando é a lei da vitória ou derrota. Quando é necessário vencer tudo. Vencer todas as questões. Agora é "conquistar almas", "Vencer o inimigo (Diabo)", "Deus dará a vitória", Vitória em Cristo"...Perder se tornou inaceitável! E a música tem em seu refrão o "restitui..." e a outra tem as belíssimas referências "Se Deus não abrir o mar, Ele me fará andar sobre as águas."...

ok...

Ele abriu o mar e todos que passaram pelo mar morreram no deserto.
O que andou sobre as águas foi crucificado.

Alguém lembrou disso?

Usaram a outra passagem? A de Josué? Ok...sem problema. Não vou discutir o que havia antes da Criação...apesar de que seria muito bom...HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA! (Momento de total irreverência).

A questão é que o vencer "a batalha da fé" está cada vez pior. Tenho receio de que com um fim da república as coisas desadem à uma perseguição dos evangélicos. OPS!!! Eu disse "com um fim" aqui em cima? Em Nova Iguaçu uma milícia liderada por um evangélico (MEDO) expulsou os donos de centros de umbanda e candomblé, a conhecida macumba, da região e transformou as casas usadas nos rituais em templos evangélicos, de tal modo que a igreja é conhecida como Igreja do XYZ (nome do líder da milícia). Esta mesma milícia foi responsável por 100 mortes na região...

Constantino da Baixada!!

"É guerra!". É mesmo. E estou perdendo feio. Digo aos garotos que tentar convencer o outro de que sua visão é a única certa é, no mínimo, arrogante. Apresentar como a sua escolha de fé é muito mais simples e tem o mesmo efeito.

Estou perdendo...e feio!

Vida religiosa não combina com guerra...

Debater, argumentar, apresentar os pontos de vista e discordar, mas sem a intenção de vencer. Apenas com o desejo de compartilhar.

Obrigado por me permitirem compartilhar com vocês estas poucas linhas.

Um comentário:

Obrigado pelo comentário, seja crítica, elogio ou sugestão. O que importa são suas palavras.

Então é aqui?

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