quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Jesus In Índia

Foi transmitido no canal Telecine Cult da NET o documentário "Jesus in India" produção de Paul Davids de 2008. A sinopse no site informa:

" Um dundamentalista do Texas é afastado de sua igreja por questionar sobre os anos de Jesus que não aparecem na Bíblia, os chamados "anos perdidos". Em sua pesquisa por respostas, ele descobre uma teoria que diz que Jesus teria viajado pela Índia.".

O documentário é a narração da busca de Edward T. Martin pela resposta à pergunta pronunciada pela primeira vez na classe de catecúmenos de sua igreja: "Onde estava Jesus dos 12 até os 30 anos?" e que foi respondida com um categórico "Deus não quer que saibamos nada a respeito disso, ou então teria escrito na Bíblia".

Martin não apresenta uma tese sua, mas sim as possíveis explicações existentes para a "cortina de silêncio" presente nos Evangelhos. Vale lembrar que Martin não é exegeta ou teólogo, mas bacharel em Comunicação e Pedagogia e todas as suas afirmações devem ser consideradas sob este ponto de vista. Será que ele tem competência para sustentar a hipótese que demonstra no filme? Sua experiência é devida às várias viagens que fez pelo mundo e pelas conversas com líderes religiosos representantes de correntes do Cristianismo, Islamismo, Hinduísmo, Budismo e etc.

A tese sustentada no documentário é de que Jesus aos 13/14 anos de idade já era conhecido pelos seus discursos inspirados e que muitos homens da região desejavam-no para marido de suas filhas, o que ocasiona uma fuga de Jesus pela Rota da Seda (6.500 km de Israel até Índia) que era a rota comercial mais conhecida da época e passível de ser percorrida em pouco menos de um ano. Por que Jesus vai à Índia? Paramahansa Yogananda estabelece a relação entre Jesus e a Índia com a visita dos magos do Oriente, que seriam sacerdotes de Zaratrusta, na ocasião do nascimento de Jesus, descrita em Mateus cap.2,1-12.

Por esta rota, Jesus teria chegado a Caxemira (hoje, Paquistão, Índia e China) e teria estabelecido relações com os sacerdotes da região. Jesus teria aprendido os ensinamentos hindus e vivido entre os sacerdotes até que começou a criticar a vaidade dos Brahmans e a divisão em castas, sendo contratado um assassino para matar Jesus (Gostei desta hipótese, pois sendo Jesus aquele que se levanta contra a autoridade eclesiástica/sacerdotal em favor dos desprezados, a história não modifica um aspecto de Jesus que é central). Diante da possível execução, Jesus fugiria para Kapodevastu e depois para outros locais mais ao norte do Himalaia, onde afirma-se, vivam os homens sagrados. Depois de algum tempo Jesus retorna à Palestina e começa seu ministério.

Se até agora o leitor (se é que há algum) ficou tranquilo, esta tranquilidade pode ser ameaçada agora.

Jesus não teria falecido na crucificação, mas teria sido tratado por José de Arimatéia e, uma vez recuperada a saúde, ele teria retornado até a Índia, onde viveu tranquilo até o dia de sua morte.

O interessante é que Martin descobre esta relação de forma extremamente inusitada. Enquanto estava no Paquistão ele entrou num bar e bebeu uma cerveja paquistanesa denominada "Murree". Questionando o nome da cerveja e, acreditando ser alguma homenagem a um senhor inglês chamado Murree, o dono do bar, um paquistanês cristão, afirma ser uma homenagem à Maria mãe de Jesus. Martin pensou "uma homenagem à Maria mãe de Jesus num país muçulmano?". O dono do bar disse que é porque ela está enterrada no Paquistão. Simples.

Se o leitor assim como Martin (e eu) se pergunta o que Maria está fazendo no Paquistão, a resposta é uma das teses apresentadas por uma especialista consultada por Martin. Após a crucificação e a recuperação física de Jesus, ele e sua mãe vão pela Rota da Seda para a Índia e Maria morre no caminho, sendo sepultada por lá em uma colina. Os ingleses, como bons cristãos, não concebiam a possibilidade de encontrarem o túmulo de Maria e destruíram o local em que ela estaria enterrada para a construção de um forte devido à ótima localização estratégica da colina.

Daí, Martin parte para a obra de Notovitch que em 1887 afirma ter ficado no mosteiro de Henvis Compa em Ladak e que lá ele conheceu o documento "A vida do santo Issa, o melhor dos filhos dos homens". Issa é o nome pelo qual Jesus é conhecido no Oriente.

Depois em 1922 o swami Abhedananda afirmou ter lido e traduzido o mesmo documento.

E é o documento que sustenta a tese que se torna o principal problema.

Este documento nunca mais foi visto.

Martin visita o mosteiro, mas o monge que o atende gentilmente informa que após a ida de sua santidade Dalai Lama para o Tibete, todas as traduções foram interrompidas e não há autorização para que os documentos fechados por cordas sejam abertos até que sua santidade Dalai Lama retorne. Sabe quando ele foi para o Tibete? Há 40/50 anos!!! A filmagem mostra os livros fechados por pequenas cordas. Frustrante.

O documentário ainda apresenta outras questões, como o túmulo de Youz Asouf, o possível tempo de estudo de Jesus com um antigo Shankaracharya, a existência de um documento que menciona o encontro entre o Issa (Jesus) e o rei Satavahana Shalivahana.

Além das dificuldades devido ao tempo decorrido (quase 2000 anos!!) há ainda a dificuldade dos fundamentalistas de todos os lados e as dificuldades políticas entre países em guerra constante. Em alguns momentos o produtor Paul Davids e o autor Edward T. Martin não podem se aproximar de certos locais devido à população que considera o perguntar a cerca do "profeta Jesus" um insulto ao "Santo Alcorão".

Embora levante mais questões do que responda, o documentário lança algumas possibilidades de respostas às questões que incomodam os cristãos. Recomendo.

Para ver o trailer, clique aqui.

3 comentários:

  1. Mas esse doc ignora, por acaso, a questão de Tomé em viagem missionária na India, e que poderai ter originado muito da lenda ou apropriação cultural de Jesus Cristo na India?

    "Eusébio de Cesareia[7] cita Orígenes como quem afirma ter sido Tomé o apóstolo dos partos, mas Tomé é mais conhecido como missionário na Índia por meio dos Atos de Tomé, escrito em torno do ano 200 d.C."

    "As várias denominações da moderna da Igreja oriental dos Cristãos de São Tomé atribuem suas origens à sua tradição oral, datada de fins do século II, que alega ter Tomé chegado a Maliankara, próxima à vila de Moothakunnam, na região de Paravoor Thaluk, em 52 d.C. Esse vilarejo está localizado a 5 km de Kodungallur, no Estado indiano de Kerala, e contém as igrejas dedicadas a São Tomé popularmente conhecidas como Ezharappallikal (Sete igrejas e meia). Essas igrejas estão em Cranganor, Coulão, Niranam, Nilackal (Chayal), Kokkamangalam, Kottakkayal (Paravoor), Palayoor (Chattukulangara) e Thiruvithamkode – a meia-igreja."

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  2. Olá ANG,

    Infelizmente o documentário de Martin é limitado à tentativa do autor de comprovar a tese de Jesus ter sido instruído e depois falecido na Índia.

    É evidente que faltam muitas provas e até bom senso ou boa vontade de Martin em averiguar outras versões de histórias que possibilitariam uma inserção de Jesus na Índia.

    Dentre as versões, com certeza uma das mais interessantes seria a viagem de Tadeu (por ordem de Tomé) descrita por Eusébio na História Eclesiástica.

    Se realmente o rei de Edessa, Abgar, o Negro, em 340 d.E.C ouviu todas as palavras de Tadeu e o recebeu em casa, muito do que é atribuído a Jesus na Índia, seria na verdade de um discípulo. (1)

    Embora que Eusébio não seja confiável como historiador, suas palavras tem certo peso e devem ser analisadas, mas estão ausentes no documentário.

    A história de Tomé na Índia é complicada, pois está envolta numa aura de milagres e feitos grandiosos e não sei se a conhecida história do "Palácio Celestial" do rei Gondofares pode ser levada a sério, por mais que a existência do rei seja comprovada..(2)

    Seja como for, faltam no documentário estas possibilidades.

    Possivelmente, adotando uma postura cristã tradicional, o "Jesus" na Índia pode ter sido de fato um discípulo na Índia, mas sem o exame dos livros sagrados que estão no mosteiro, não há como precisar.



    (1) História Eclesiástica, 2008, p.66-70.
    (2) Uma História ilustrada do Cristianismo vol.1, 2008, p.44-47.

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