quarta-feira, 7 de abril de 2010

134. E chove...

Saí de casa às 05:30 de segunda feira para ir à FABAT. Cheguei lá exatemente às 20:29. Normalmente o percurso consome 1h30min...

Muito mais, não é mesmo?

Não.

Saí da FABAT às 21:40...não havia transporte, chovia demais, centenas de pessoas na Praça Saesn Penã no bairro da Tijuca. De fato, nunca vi aquela praça com os pontos tão cheios. Centenas de pessoas espremidas em pontos de ônibus e marquises.

Esperei que algum ônibus ou van aparecessem, mas nada. Os poucos ônibus que conseguiram chegar não me serviam. As vans, pouquíssimas, saíram lotadas, com pessoas de braços e costas a sair pelas janelas.

Fiquei no ponto. Vi a Rua Conde de Bonfim se tornar um rio. Vi sacos de lixo passando pela rua, blocos de concreto serem arrastados, esqueletos de armários descendo a rua e indo em direção aos bairros mais baixos, como o Estácio. Soube de um senhor, que por lá estivera, que muitos carros enguiçaram e os ônibus não tinham manobrar, ou seja, nada de esperança.

22:00, 23:00, 00:00, 01:00, 02:00...encharcado, com frio (por que os pontos de ônibus da cidade foram projetados da forma que são? Não conseguem proteger as pessoas da chuva!) e a lutar contra as baratas. (????) Com os bueiros a transbordar, as baratas não ficariam lá então era um festival de tapas e de pessoas se coçando, mulheres gritando de nojo e susto (sem qualquer conotação machista. Se um homem tivesse gritado, eu colocaria "pessoas gritando") com baratas subindo pelas pernas, entrando em roupas, cabelo...

Enfim, vencido pela fome que me atormentava o corpo sinalizou. Dor de cabeça. Já eram várias horas sem beber ou comer nada. Saí do ponto e andei pelas ruas da Tijuca com água no joelho e em alguns locais na cintura! Encontrei uma padaria ainda aberta e tentar limpar o estrago da chuva. Pude comer algo do dia anterior que estava frio e sem gosto. Parei em outro ponto de ônibus. Conversei com algumas pessoas que estavam na mesma situação. Algumas foram até a padaria que indiquei para terem um banquete como o meu, outras simplesmente foram embora para o trabalho, já que não havia mais tempo de voltar para casa.

Um senhor me disse que viera andando da Central. Uma mulher veio andando da Lapa. E muitas outras histórias foram se somando até que a risada sobrou. Disso eu gosto no perfil brasileiro. Sempre sorrimos. Sempre gargalhamos de nós mesmos. Embora isso seja terrível por que com o riso nos acomodamos, ainda assim diminuimos a dor do momento.

Algumas dores, no entanto, não passam tão facilmente. Vi agora há pouco que no Bairro de Santa Teresa alguns bombeiros localizaram uma criança soterrada. Falaram com ela. Chegaram a tocar a mão da criança, mas outro implacável deslizamento ocorreu e a criança faleceu. Seus poucos 08 anos de idade conferem uma tristeza que abala a qualquer um. FORÇA! Aos bombeiros que lutam nas frentes, a todos os envolvidos com as ajudas e a todos nós que vemos uma cidade considerada quase referência de um país no mundo ser castigada por uma chuva que já dura 48 horas.

Ouvi alguns dizerem que "com a natureza não se brinca". Não vamos fechar os olhos para a realidade do que está acontecendo agora. A chuva era inesperada? Sim. Mas lembro que Cuba enfrentou um furacão sem que uma pessoa morresse. É preciso estar preparado. Educação par a população que joga lixo nas ruas e atrapalha o escoamento da água e investimento do Governo para garantir a segurança da população.

São 113 mortos até agora. Mais de 60 desaparecidos. Uma multidão de pessoas desabrigadas. Escolas e universidades paradas. Bairros sem energia. Bairros isolados. Pessoas isoladas.

Tenho 4 opções para sair do bairro em que vivo para ir à faculdade. As 4 opções estão interditadas pela Defesa Civil. Ainda bem que as aulas foram canceladas. Não teria como chegar lá. O Rio de Janeiro está mergulhado no caos.

04:40 UMA VAN!!!!

Um motorista audacioso e uma cobrador disposto resolveram tentar e conseguiram atravessar o Alto da Boa Vista. Vieram e levaram a van superlotada. No caminho não havia energia no Alto. Várias árvores caídas fizeram com que mudássemos o caminho, saíssemos da van para que ela conseguisse subir na calçada e assim foi a viagem. Em determinado momento a van parou sem possibilidade de continuar. Uma árvore, caída em fios de alta tensão impedia a passagem totalmente. Teríamos de descer o Alto da Boa Vista no escuro, na chuva e a pé. Chega. Descemos da van. 7/8 caras. Tiramos os galhos e afastamos a árvore que permaneceu lá , mas agora com a possibilidade de passagem da van. Voltamos para a van e descemos o Alto. A chuva e o vento eram tão fortes que eu tremia quando voltei à van.

Cheguei em casa as 05:50.

08h e 10min depois de ter saído da FABAT.

Agora sim, muito mais.

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