terça-feira, 20 de abril de 2010

136. Televisão

“Eu vi muita televisão quando criança, o jeito foi fazer televisão para depois dizer que foi tudo pesquisa” (Mat Groening – Criador de “The Simpsons”).

Zapping, audiência, concorrência, comercialização, sedução, criatividade, curiosidade, slogans, programação, mídia, chamada, promoções, intervalo, fascínio, propaganda, novela, anúncio, mídia televisivo, baixaria, teaser, neste, quadro, grade, peoplemettres, ibope e ibope, publicidade, canais, mercado, espectador, sonho, consumo, identificação, informação, interatividade, notícia, produção, redação, locução, edição, computação gráfica, gerente, direção, Deus, zapping.

O texto acima parece desalinhado, mas para os profissionais de Comunicação e os estudantes da área, os termos empregados formam uma melodia clara, da qual a maioria dos telespectadores comuns não reconhece os acordes. Uma melodia da televisão.

Televisão? Este é um blog sobre Teologia! Não. Não é um blog sobre Teologia. É um blog. Neste blog escrevo principalmente acerca da Teologia, mas este blog é sobre a verdade que eu vejo. Verdade que pode estar errada, pois ainda está em construção e o processo é demorado, mas a apresento como enxergo. Agora enxergo TV. Falarei da TV.

O objetivo de um curso de Comunicação Social é mudar o olhar dos alunos quanto aos meios de comunicação, tal mudança, no entanto não consiste em positiva ou negativa, provocando aceitação ou negação da TV, rádio, jornal, internet ou outros tantos, mas sim despertar uma visão crítica do que é veiculado, ensinando a perceber sutis mensagens subliminares que permeiam as informações transmitidas e atingem os indivíduos, no caso deste texto, especificamente os telespectadores.

É notória a necessidade dos seres humanos de receberem informações, de conhecerem o novo e a disposição dos mesmos ao recepcionarem aqueles que trazem tais informações. O próprio Mercúrio era recebido com festas e folgas. O papel que a TV ocupa é parecido com o da figura mitológica do semideus; estando presente em quase todos os locais do mundo, a TV torna-se o maior veículo de comunicação existente, passando à frente do rádio, substituído pela imagem, e da Internet não disponível para todos, principalmente por questões financeiras.

É de conhecimento comum no meio evangélico que o pastor evangélico Billy Graham já foi visto na TV por mais de um bilhão de espectadores, marca que expressa a facilidade na transmissão de informações da TV.

Tal abrangência e rapidez fizeram a TV adotar o conceito de que a informação é preciosa e pode se utilizada como moeda, assim como nos tempos antigos. Se a informação é preciosa e riqueza é igual a força ou poder, a TV se tona o mais poderoso veículo de comunicação do mundo e quem a controla detém o poder mundial. Esta não é uma tese nova. Já foi abordada diversas vezes em filmes blockbuster, como “O Amanhã nunca morre” em que o 007 tem de enfrentar justamente um magnata da mídia.

Num mundo assolado por males como a fome, a violência e o desemprego, a TV vem suprir necessidades básicas utilizando como alucinador um mundo novo de informações. A questão é: a TV, e agora me refiro aos responsáveis pela mesma, estaria à altura de tal responsabilidade?

Partindo desta questão, a TV passa de aparelho no meio de tantas salas espalhadas pelo mundo, para objeto de estudo. Estudo que para iniciá-lo deve-se compreender o que a TV representa na vida, não de cada pessoa, pois seria impossível, mas sim na vida de um todo.

Pergunta-se qual o papel da TV na vida. A maioria dos responsáveis diria que nenhum. Alguns diriam ter alguma influência e poucos assumiriam o papel real. Qual papel seria esse?

A resposta é simples e impressionante, como a TV gira em torno de audiência e comercialização, a troca da concessão federal por entretenimento e informação sofre alterações pelo desejo do mercado, o que é veiculado fica restrito ao fato de dar audiência, e esta só é conseguida se o telespectador identificar-se com o programa, ou seja, estabelecer uma relação de proximidade. Com esta identificação o papel da TV varia de pessoa para pessoa, mas todas se sentem próximas, como se pudessem confiar, e realmente confiam no pequeno aparelho que lhes acorda pela manhã e lhes embala o sono à noite.

Investida da autoridade que as igrejas, os partidos e as escolas perderam, a televisão faz soar a voz de uma verdade que todo mundo pode compreender rapidamente.

Com um discurso rápido e tendo como ponto forte a imagem que passa a ideia de que se vê o que realmente é da forma que está ou que esteve acontecendo, a TV torna-se amiga de todos. Com as variedades de seus programas, torna-se interativa e tem-se uma piada quando se quer rir, uma canção quando se quer cantar ou uma informação quando se quer saber, mesmo que não se queira saber tudo, mas só um pouco.

Esta relação de intimidade do público com a TV possui uma falha, sendo um compromisso baseado no segredar, o telespectador não informando o que assiste na TV e a TV não revelando o que o telespectador faz enquanto a assiste, ambos confiam um no outro, mas a TV não cumpre tal acordo se os segredos do seu público puderem gerar audiência.

A condição de “ter audiência” isenta a TV da culpa, se é que a tem, de revelar os segredos que quem lhe pediu sigilo, o interessante é que nenhum telespectador pede por tal sigilo (é algo que soa natural), e poucos se sentem ofendidos por serem vistos na TV, mesmo que seja para escárnio, tem-se como exemplo as comuns pegadinhas nos programas atuais.

O ponto a ser abordado com cuidado é quem está por trás da TV em quem se confia? Quais os interesses daqueles que dominam o veículo que nos fascina e sabe os nossos segredos?

Os EUA, detentores da maioria dos satélites em órbita, comandando as ondas e possuindo o monopólio da informação, demonstram força através do controle das informações que o restante do mundo deseja, e poderiam ser considerados como os detentores do poder, mas analisando a variedade dos canais, a TV americana disputa entre si a audiência de forma muito mais arisca que os demais países, enquanto no Brasil uma emissora detém mais da metade da audiência do país.

Não sendo uma questão tecnológica, pois os investimentos das emissoras são compatíveis podemos afirmar que foi ensinada uma forma de ver TV e um estilo como o certo.

A TV que faz circular tudo o que pode ser convertido em assunto e despreza tudo aquilo que não interessa ao público, criou um quadro de programação intrínseco na história de cada um. Exemplo disso é que a maioria da população sabe exatamente os horários das novelas, ou dos jornais ou ainda o significado do “PLIM-PLIM”.

Implantada tal ideia em cada indivíduo, tem-se um telespectador fiel. O passo seguinte é criar novos hábitos e necessidades a ponto de se tornarem essenciais. Os programas passam a ser produtos e a TV se torna um sonho que fala de consumo.

Sempre de forma discreta, os telespectadores passam a ser conhecidos pelo poder de compra que possuem. Eis então revelados os interesses daqueles que estão por detrás da televisão, mudar cada indivíduo para que as necessidades dos patrocinadores e anunciantes sejam saciadas.

A TV no desejo de comercializar é capaz de criar, renovar, transformar, mudar e alterar o curso natural de tudo que pode ser transformado em notícia. Curso natural? Parece até uma falsa ideia. Mas existe algo mais natural do que alguém dizer o que viu? Infelizmente os donos do poder influenciam criando falsos axiomas.

Se os problemas são resolvidos em casa, como diz o ditado, lá existe um aparelho de TV mudando conceitos. Se forem resolvidos no trabalho, lá se comenta o que foi visto nos telejornais e isto quando não se têm aparelhos de TV nos locais de trabalho, algo muito comum hoje em dia, e assim por diante em todas as áreas do cotidiano.

Para obterem sucesso, os donos do poder formam exércitos de profissionais altamente qualificados que tem por obrigação conhecer o íntimo de cada telespectador em cada situação para agirem da forma certa, no momento certo em que o indivíduo cai na falácia que lhe é apresentada.

A TV, no entanto na luta para tentar mostrar a maior variedade de produtos e informações a serem consumidos, enfrenta um obstáculo, o efeito zapping.

Tendo por característica a rapidez, a TV criou um desejo no público pela velocidade e agilidade no trato com as informações, tal rapidez foi adquirida pelos telespectadores com a invenção do controle remoto, objeto pequeno e de simples manuseio, o controle, como diz o próprio nome, além de trazer praticidade, pôs “o controle” da programação nas mãos do telespectador. Num instante menor que o segundo, o possuidor do controle vê o que diversas emissoras estão transmitindo, e em um curtíssimo espaço de tempo, está a par de uma quantidade de informações muito grande.

Mas utilizando-se desta velocidade, que é reflexo da TV, o telespectador corta, tomando o papel de editor de imagens e sons, o que já apresenta uma versão resumida dos fatos, absorvendo menos do que o que foi considerado essencial para ir ao ar. Desta forma, não se sabe nada e acha-se que se entende tudo. Talvez se saiba o que aconteceu e não o porquê. Talvez nem sequer o que aconteceu de fato.

Da mesma forma vêem-se rapidamente produtos brilhantes e coloridos que vão e vem sem chamar atenção. A TV luta contra o que implantou para poder comercializar os produtos que a mantém. Esta é uma questão interessante. A TV luta contra aquilo que criou. Uma geração de mini donos da grade de programação. Quem pensa que a luta das emissoras é contra as concorrentes está muito enganado. A luta é contra o telespectador, eterno insatisfeito que não se mantém mais fiel a qualquer emissora.

Outro ponto importante é que num momento que dura de um frame a um segundo não há tempo para analisar a informação, e quem pode afirmar que o que foi visto é verdade, ou simplesmente o que querem que seja visto?

Nunca saberemos ao certo se o que estamos vendo no filme é exatamente o que ficou registrado.

As informações são aceitas como verdades. Não há análise e abrem-se possibilidades para entendimentos equivocados e opiniões tendenciosas. As tragédias humanas viram comerciais, mas se as vítimas pudessem falar o que diriam? Não se sabe, mudou-se de canal.

Tudo na TV tem um propósito. Nada acontece por acaso, seja uma imagem ou um som, sempre há uma razão que explica a ação. Para entender, deve-se ver, perceber, observar, notar e questionar. Recomendo o excelente Observatório da Imprensa. Mas a ele cabe a mesma cautela. É mídia. Cuidado!

A TV pode ser utilizada de muitas formas importantes na vida global proporcionando à humanidade usufruir muito mais do que momentos de lazer, descontração e informação. A TV pode ser uma ferramenta utilizada para educar e ajudar, revelando a verdade e não só a aparente verdade.

O criador do desenho animado “The Simpsons”, simplesmente viu televisão durante toda a sua vida, e resolveu transmitir tudo o que aprendeu em forma de desenho, hoje, cada episódio vale US$1,6 milhão.

A TV como concessão que é, pertence a quem detém as ondas de transmissão, mas quem está por trás na aceitação ou recusa é o telespectador como você ou/e eu.

Qual o papel da TV na sua vida? O que você assiste? E principalmente, por quê?

2 comentários:

  1. Você já viu "Boa Noite e Boa Sorte"? É um bom exemplo de como a TV pode ser educativa e informativa, mesmo sem ser "neutra" (neutralidade é coisa que não existe). E também mostra as dificuldades que alguém tentando fazer isso enfrenta...

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  2. Não vi...mais um filme para a minha lista!

    Neutralidade não existem mesmo. Tive uma professora que trabalhava numa emissora de TV. Ela sempre explicava a rotina e dizia "Nada é por acaso! Tudo tem um propósito!". Ela se referia a propósitos que não eram os de apresentar uma TV neutra...

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