segunda-feira, 12 de outubro de 2009

077. Diálogo Religioso V

Continuação das postagens 072,074,075 e 076:

Conclusão

Toda vez que uma pessoa tentar entender a lógica de um ritual ou a origem da fé de outrem estará se ensartando numa experiência arriscada.

Se a pessoa curiosa professa uma fé diferente da que tenta compreender, é quase certo que sua tentativa culminará em fracasso.

Há no ser humano um dualismo construído que, como muralha, impede a percepção do outro como sendo alguém com quem se possa dialogar e, aqui se utiliza o conceito de sincretismo de Pierre Sanchis, construir homologias de relações entre os dois universos que reforçariam ou enfraqueceriam os paralelismos e semelhanças, mas que acima de tudo redefiniriam a identidade social.

Tal dificuldade acomete o ser humano, pois é necessário que se permita a abertura do íntimo de sua fé a outro, o que é percebido pelo Dr. Viktor E. Frankl como extremamente difícil a ponto de explanar que “os mesmos pacientes que, ...facilmente se dispõem a falar de sua vida sexual, até dos detalhes mais íntimos, mesmo perversos, mostram “inibições” quando se toca na sua experiência religiosa íntima.” (FRANKL, 2007, p.45-46).

Certo é que o ritual assistido foi muito agradável com exceção das músicas não estarem no folheto o que provocou incômodo de não poder acompanhar a assembléia nos cânticos.

A homilia feita pelo padre foi elucidativa em diversos aspectos, principalmente com relação à adoração de imagens e é até imaginável pensar que o mesmo fora avisado da presença de um protestante na missa, se tal ideia não fosse grotesca em si por já conter traços fundamentalistas preconceituosos.

A missa de Corpus Christi é uma celebração total do corpo de Cristo e possui tal importância que um jovem da CCFR afirmou que o momento da comunhão “não perde em nada para a vinda de Cristo”, pois a crença dos católicos é que é o próprio Jesus Cristo em alma, corpo e divindade está presente nos elementos. Para um protestante alcançar esta significação e sentimento dos católicos, é assaz necessário incluir em sua visão o conceito de Marcel Mauss, aceitando que esta missa, assim como todo rito, se situa “definitivamente no ato de acreditar em seu efeito, através das práticas de simbolização.” (SEGALEN, 2002, p.27).

A tarefa que está diante de todos, sejam católicos, protestantes ou fiéis de qualquer outra denominação ou religião é uma tarefa complexa. O diálogo religioso precisa ser aberto para que a indiferença e o obscurantismo que tanto mal já provocaram sejam eliminados. Talvez o passo inicial seja uma visita a uma missa ou a um culto evangélico. Quando perguntados qual era a visão geral acerca dos protestantes, seis jovens da CCFR se limitaram a dizer que “os evangélicos não são unidos a não ser quando querem falar mal dos católicos.”. Se esta é a visão geral que há entre as denominações da mesma religião, a possibilidade de troca de ideias e de ajuda está ainda muito distante.

É preciso que se abandone em parte o conselho de Bailey de que “antes de entrar em contato com as pessoas, pense como se estivesse entrando em uma floresta cheia de perigos e que rogue a Deus pelo ‘manto da prudência e da probidade”. (apud WEBER, 2007, p.178). Rogar a Deus por prudência e probidade deve ser feito, mas não devido aos perigos e sim para que, ao entrar em contato com o outro, seja possível encontrar nele o seu semelhante.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BERGER, Peter Ludwig. O dossel sagrado: elementos para uma teoria sociológica da religião. 2.ed. São Paulo: Paulus, 1985. (Coleção sociologia e religião; 2)

D'ELBOUX, Roseli Maria Martins. Uma promenade nos trópicos: os barões do café sob as palmeiras-imperiais, entre o Rio de Janeiro e São Paulo. An. mus. paul. , São Paulo, v. 14, n. 2, 2006 . Disponível em: . Acesso em: 05 Jul 2009.

FRANKL, Viktor Emil. A presença ignorada de Deus. 10.ed. São Leopoldo: Sinodal; Petrópolis: Vozes, 2007. 131p.

http://www.flickr.com/photos/carlosmonte/96718511/in/photostream/Acesso em: 06 Jul 2009.

OLIVEIRA, Pedro A. Ribeiro de. Adeus à sociologia da Religião Popular. Religião e Sociedade, Rio de Janeiro, v.18, n.2, p.43-61, dez.1997.

SEGALEN, Martine. Ritos e rituais contemporâneos. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2002. 164p.

WEBER, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. São Paulo: Editora Martin Claret, 2007. 238p.

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