segunda-feira, 12 de outubro de 2009

076. Diálogo Religioso IV

Continuação das postagens 072,074 e 075:

Resenha

No texto de Pedro A. Ribeiro de Oliveira, “Romanização e privatização: o catolicismo de massas”, o autor destaca uma das mais fortes formas de catolicismo praticado no Brasil, distinguindo-o do catolicismo tradicional e do catolicismo de libertação, através da apresentação de suas características particulares facilmente encontradas se observados os comportamentos de católicos brasileiros.

A Igreja Divino Salvador pode ser enquadrada na forma especificada pelo autor como catolicismo de massa, pois apresenta o núcleo da devoção aos santos percebido quando o padre informou em sua homilia que “é muito bom beijar os santos” e que é necessária a veneração.

Há o controle do sagrado pelo corpo sacerdotal da igreja, não sendo possível a administração dos elementos eucarísticos por leigos, a não ser ordenados pelo padre. Os elementos sacramentais são dirigidos aos fiéis como forma de salvação e isso se prova pela ênfase do padre de que a Eucaristia tem poder para perdoar pecados.

Em conversa com a CCFR, foi assegurado com entusiasmo que a missa poderia ser seguida em qualquer igreja católica no mundo, pois a Igreja Divino Salvador estava de acordo com todas as demais igrejas que seguiam a orientação de Roma, o que reforça o pensamento de Oliveira de que a romanização visa instalar em todo o orbe o mesmo modelo romano de catolicismo.

Oliveira declara ainda que haja um combate contra as superstições, crenças e práticas tradicionais que se referem a santos antigos festejados com banquetes e folias e afirma que há uma substituição por santos aos quais é dedicado um culto rigoroso, moralizante e sacramental. Quando o padre afirma a ineficácia das muitas rezas, é claramente de acordo com o combate às superstições destacadas por Oliveira.

O autor ainda alerta que este processo fez surgir um novo tipo de catolicismo que adaptou certos elementos do catolicismo romano ao catolicismo popular, denominado catolicismo privatizado, no qual é possível encontrar a devoção aos santos com práticas sacramentais tendo por mancal a relação entre o fiel e o santo protetor. Este catolicismo privatizado que assegura uma relação individual é percebida na CCFR quando uma das jovens participantes afirmou que ninguém impediria outro de participar dos sacramentos, ou obrigaria a participar de várias missas, pois, completou outro jovem, “as pessoas não podem ser julgadas pelos mesmos parâmetros” e cada um dá o seu melhor de acordo com o que sente.

A liberdade do indivíduo, no entanto não é total, pois como lembra Oliveira, o lugar dos santos é a igreja e esta fica sob o controle do padre que pode impor certas normas para o culto. Na Igreja Divino Salvador, durante cerca de uma ano foi impedido pelo Pe. Contini que os instrumentos estivessem plugados às caixas de som devido a ocorrências consideradas desagradáveis. Embora tal proibição desagradasse aos jovens, a ordem foi seguida e as missas foram celebradas apenas com um violão ou à capela.

Oliveira enfatiza que o catolicismo privatizado é voltado para a “construção do sentido de biografias individuais”, em que a dimensão maior ou de classe não é clara, ainda que possa surgir, mas que é em uma relação clientelista que o fiel encontra alento para suportar as condições da vida.

Por fim, Oliveira afirma não se tratar de um novo sincretismo católico, mas da incorporação ao catolicismo privatizado de crenças e práticas instrumentalizadas com o objetivo de colocar o sagrado a serviço das necessidades imediatas do fiel e que a maioria dos brasileiros segue autonomamente este caminho por que a Igreja Católica ainda detém o acesso à vida além da morte e que para desligar-se de tal garantia seria necessária excessiva certeza de que outros meios podem garantir a famosa “vida eterna”.

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