domingo, 23 de agosto de 2009

Está escrito...

Cosmogonia. Não é uma palavra complicada, apenas não é muito utilizada nas igrejas. Significa uma “descrição hipotética da criação do mundo”. Adoro Cosmogonias. Também adoro Teogonias, mas será assunto de outra postagem.

O leitor (se é que há algum) atento que é, percebeu que escrevi no plural. Se for um cristão que lê, então além de ter percebido o uso plural da palavra, já não tem mais interesse no texto, pois começa errado, afinal, “Não existem cosmogonias! Só existe uma criação. E não é hipotética!”. Se a descrição foi acertada, então se prepare, pois o que vou escrever pode doer um pouco e por isso mesmo aviso antes que se o leitor quiser continuar lendo, já não tenho responsabilidade e, de fato, nem antes tinha.

A descrição da criação do mundo presente em Gênesis cap.01 e cap.02 é cosmogonia. Ela não pode ser provada. Tente prová-la e terá cinco caminhos possíveis ao final da tentativa, a saber, (a) aceitar que não é possível provar e continuar a acreditar na narrativa bíblica, (b) aceitar que não é possível provar e se decepcionar, (c) aceitar que não é possível provar e criar uma explicação para a não possibilidade de comprovação da veracidade da narrativa bíblica, (d) não aceitar a impossibilidade de comprovação do texto bíblico e criar uma explicação que comprova a veracidade do texto bíblico.

A Igreja adora as duas últimas alternativas. A questão é que comprovar que Deus juntou um monte ou um pouco de terra e modelou um corpo, soprou em suas narinas e surgiu um humano, com pele, músculos, gordura, ossos, órgãos entre outras coisas, não é necessário para a aceitação do texto como verdade.

Uma cosmogonia é uma descrição hipotética porque não pode ser comprovada e não por ser mentirosa. Dizer que o mito da criação é interessante, não significa que seja mentiroso. O mito não necessariamente é algo em que há fraude. O mito é algo que está descrito em uma realidade diferente da nossa.

Vivemos na (e não “a” como muitos querem afirmar) época em que a comprovação das histórias é imensamente valorizada e por isto busca-se compreender o contexto histórico/social/mítico do autor do texto antes de decidirmos se compreendemos o texto e, ainda bem que o fazemos, pois assim as chances de compreensão da intenção do autor (intentio-auctoris) aumentam muito.

Quanto o autor do texto está disponível, pode-se acessá-lo para que as dúvidas nascidas da leitura do texto sejam respondidas e assim não cresçam. Mas quando não é possível acessar o autor do texto, então como impedir que as dúvidas nascidas cresçam e nos devorem? Não há como. Entender o contexto ajuda, mas não garante com total certeza que a interpretação de um texto corresponde àquilo que o autor do texto deseja dizer.

Por inúmeras vezes eu escutei a frase “não foi isso o que eu quis dizer.” à qual respondo sempre com “mas foi isso que você disse.”. Após estas duas frases, a pessoa tenta explicar novamente aquilo que não ficou claro quando falou ou escreveu algo que ouvi ou li.

Será que o leitor entende porque as Igrejas preferem as letras “c” e “d”? Sem termos acesso aos autores dos textos bíblicos (De muitos nem sabemos quem foram!) como poderemos afirmar aquilo que a divindade deseja ou não? Cansei de ouvir que “Deus quer isso...”, “Deus quer aquilo...”, “O correto é isso...”, “O correto é aquilo...” e etc.

Se o leitor ligar a TV no sábado pela manhã ouvirá os muitos absurdos daqueles que afirmam saber a vontade divina, pois está escrito na Bíblia um “X”, um “Y’ ou um “Z” que usam como justificativas para suas pregações e afirmações. Assim é fácil pedir dinheiro e responsabilizar a Bíblia, como é simples também fazer qualquer coisa e achar justificativas na Bíblia.

Embora pareça que falo com desdém, que fique claro que a Bíblia é o livro mais fantástico que já li e é um livro que tenho acima de todos. Ainda não li outros livros considerados sagrados, mas assim que for possível, lerei.

A desconsideração que pode ser sentida aqui é para com aqueles que usam levianamente os textos bíblicos e que se aproveitam do povo, empurrando textos e mais textos que de modo algum confirmam as aberrações que são ditas pelas bocas dos pretensos estudiosos e “profetas” que têm a insolência de afirmarem que “a Bíblia diz.”.

A Bíblia não diz. Ela pode estar aberta ou fechada, mas seu silêncio é evidente. Ela só diz algo quando lida e interpretada.

O leitor vigilante que é, sabe que mencionei cinco caminhos, mas apenas descrevi quatro. O quinto caminho é (e) aceitar que não é possível comprovar a veracidade da narrativa bíblica e procurar entender qual o sentido da narração.

O texto está escrito e todo texto tem alguma intenção. Nenhum texto é escrito sem intenção e perguntar qual o significado do texto é uma opção bem simples, embora de difícil caminho, que pode ser feita.

Como estamos lendo e interpretando a Bíblia?

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