quarta-feira, 12 de agosto de 2009

34. Do Apocalipse

Estou nas últimas páginas do maravilhoso livro “Cosmos, Caos e o mundo que virá – As origens das crenças no Apocalipse” de Norman Cohn, tradução de Claudio Marcondes, pela Companhia das Letras.

Cohn apresenta os mitos mais conhecidos entre as regiões do Antigo Oriente Próximo, a saber, Egito, Mesopotâmia, Índia Védica e do Crisol Sírio-Palestino, com a apresentação e comparação entre O Exílio e o pós-exílio, Apocalipses judaicos, Ugarit, Zoroastrismo...

Como acontece todas as vezes que leio um livro do qual gosto, começo a sentir o desgosto de vê-lo findar-se em minhas mãos, e acredite o leitor (se é que há algum) que já interrompi leituras no último capítulo de um livro apenas para mantê-lo ainda vivo por mais algum tempo.

Não vou descontinuar a leitura deste. E não o farei porque habilmente, Cohn reservou para o final os capítulos que mais tocam aos cristãos: “O livro do Apocalipse” e “Judeus, zoroastrianos e cristãos”, esperto, muito esperto.

Mas não é apenas pela esperteza do autor que estes capítulos estão no final do livro. Se o leitor (agora do livro e não do blog) não possuir em sua bagagem as duzentas e poucas páginas anteriores, pode não aceitar a lógica do pensamento de Cohn.

O Apocalipse tal como está escrito na Bíblia, é descrito em várias igrejas como iminente. Os terrores dos monstros e das perseguições descritas no 27º livro do Novo Testamento são de assustar qualquer um e, eu era um deles. Sempre fiquei temeroso depois da exposição dos desafios que os cristãos enfrentariam quando o Anticristo surgisse e quando todos ao meu redor andariam com a marca da Besta. O que eu poderia fazer? É o cenário que sempre pintam para aprisionar e, existe melhor maneira de manter prisioneiros senão pelo medo? Sim, existe.

A melhor maneira de manter prisioneiros é através da falta de conhecimento. Não saber o que há atrás das muralhas é ainda pior do que saber e temer, pois como temer aquilo que não se conhece? Aqui entram os medos ocultos, infantis. Sabe quando se está numa sala escura e têm-se a certeza de que algo se moveu num canto? Nada se moveu. A imaginação que viaja e constrói figuras onde elas não existem.

Com o Apocalipse descrito na Bíblia é o mesmo. Não estou escrevendo que as palavras do último livro bíblico sejam apenas construções fantasiosas para influenciarem nossas mentes a imaginarem monstros que nos manterão sempre trancados em nossas igrejas.

Estou escrevendo que são aqueles que continuam unindo os pontos dos desenhos apocalípticos que tentam manter a todos aprisionados. Alguns fazem assim, pois como a criança que aprende a desenhar unindo os pontos numerados, apenas sabe fazer isso e não enxerga que pode construir desenhos diferentes.

Outros percebem que aqueles pontos apenas traziam um desenho que poderia ser melhorado ou piorado ou simplesmente feito diferente e, quase sempre, aumentam a “grande tribulação” e dizem que já chegou ou que chegará em breve ou que, quando vier, será muito mais sinistra do que as palavras bíblicas descrevem.

Entre tantos desenhos, tenho de agradecer ao prof. Dionísio Oliveira Soares por ter desconstruído alguns dos meus medos com relação ao Apocalipse. Não que ele tenha em algum momento feito algo que não fosse apresentar a matéria, mas agradeço-o por ter apresentado a matéria! Estou cada vez mais grato por não encobrirem a verdade, ou melhor, as possibilidades de verdade.

Enfim, participei de uma matéria na FABAT em “Tópicos Livres”, cujo conteúdo apresentado foi o livro de Daniel, presente no Antigo Testamento. O prof. Dionísio apresentou leituras comparadas em capítulos chaves e o contexto sócio-histórico da formação do livro e foi possível entender que o apocalipse desenhado em Daniel era muito diferente daquele que tantas vezes ouvi da boca dos “ministros do evangelho”.

Não vou arriscar apresentar o conteúdo das aulas ou do livro aqui, pois seriam necessárias diversas páginas e não sei se o leitor (se é que há algum) tem tamanha paciência.

Recomendo a leitura do livro de Norman Cohn e da comunicação do prof. Dionísio, “O livro de Daniel: Aspectos sócio-históricos de sua composição”, publicada na revista Atualidade Teológica, Revista do Departamento de Teologia da PUC - Rio Ano XII, n.29, maio a agosto/2008.

Dos medos que antes me apavoravam, hoje apenas sorrio.

Daqueles que antes incutiam o medo, hoje espero que falem comigo, quando, sem qualquer compaixão colocarei o dedo em suas caras e direi: “Falem. Falar e pregar lhes são permitidos, mas não é mais o menino apavorado que está aqui”.

2 comentários:

  1. então acha q tudo existe por acaso?se acredita no deus q te deu a vida,deve acreditar no da biblia.tudo esta acontecendo e poucos estão se importando e é assim q poucos se salvarão!!!

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  2. Norman Cohn, como voce mesmo afirma, é historiador, não teólogo!! Como pode um historiador ser base para estudo de teologia? O Prof. Dionísio é o mesmo que você cita no item 80, pelo visto, racionalista! Como pode um racionalista, que não crer nem que Daniel existiu (um personagem literário, como você disse), ensinar teologia e fé? Lamentavel esse tipo de ensino nos seminários e faculdade teológicas. Vejo que você está absolutamente perdido, orientado por pessoas sem fé, que não tem conhecimentos espiritual, mas racional (historiadores, racionalistas etc). Por isso você diz que tinha "medo", e que esses racionalistas tiraram seu "medo"... Será que eles não tiraram a sua fé? Você precisa deles para crer na Bíblia, para crer em Deus? Ou sera que na verdade voce nunca teve fé! Pense com mais seriedade nessas questoes, analise melhor suas leituras.

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