terça-feira, 13 de outubro de 2009

079. Os primórdios do Cristianismo

De acordo com o capítulo V do livro “UMA HISTÓRIA ILUSTRADA DO CRISTIANISMO”, Vol.1 de Justo L. González, os primeiros conflitos entre o Império Romano e os cristãos aconteceram com a ascensão do imperador Nero. No entanto, antes de relatarmos a natureza desses conflitos primevos, faz-se necessário recordar a poderosa presença do Império Romano na vida judaica.

O Império Romano reconhecia a religião judaica e não interferia nos ritos judaicos, desde que um dos principais cultos romanos não fosse desprezado, a saber, o culto ao Imperador, que era a demonstração de fidelidade que todo cidadão romano e povos conquistados deveriam demonstrar. Quando as querelas entre judeus e cristãos começaram, o Império Romano entendia os conflitos como particulares às leis judaicas e, portanto sem a necessidade de uma decisão romana a cerca de qualquer assunto referente ao judaísmo (Atos 18.14-15).

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E, querendo Paulo abrir a boca, disse Gálio aos judeus: Se houvesse, ó judeus, algum agravo ou crime enorme, com razão vos sofreria,

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Mas, se a questão é de palavras, e de nomes, e da lei que entre vós há, vede-o vós mesmos; porque eu não quero ser juiz dessas coisas.

Mas quando as animosidades entre cristãos e judeus se acirravam, o Império Romano atuava para assegurar ou restaurar a paz, assim, a ação romana em conflitos com os cristãos é muito anterior às impostas pelos imperadores, embora não seja caracterizada como uma perseguição aos cristãos. No entanto, dois fatores contribuíram fortemente para a distinção entre as duas religiões. O primeiro foi o aumento de cristãos gentios e a diminuição de judeus dentro da igreja e o segundo foi a revolta judaica contra o domínio romano que resultou no arrasamento da cidade de Jerusalém. Quando esta revolta atingiu o clímax, os cristãos, principalmente gentios, buscaram demonstrar que não pertenciam ao movimento perturbador. Assim, as diferenças entre cristianismo e judaísmo fizeram-se sentir em cristãos, judeus e romanos.

1º Conflito: A perseguição de Nero

Nero se tornou imperador no ano 54, mas após dez anos de reinado, era desprezado pelo povo, poetas e literatos que o consideravam louco, provavelmente devido aos seus desejos mais absurdos sempre saciados por sua corte. Quando um incêndio rompeu dez dos catorze bairros de Roma, o imperador foi incriminado de ter ateado fogo na cidade para seu bel prazer. Mesmo com todos os esforços do imperador para controlar o incêndio, as suspeitas permaneciam, então, Nero deu provas de sua sagacidade. Ao perceber que dois dos bairros que não haviam queimado eram as zonas de maior número de judeus e cristãos, Nero apresentou os cristãos como responsáveis pelo incêndio.

Os cristãos eram odiados pelo povo e a culpabilidade deles, que parece sem nexo à primeira vista, foi aceita como verdade. De fato, o povo detestava os cristãos, pois existiam rumores quanto a práticas abomináveis realizadas pelos cristãos, tais práticas eram boatos sem fundamentação que ganhando força, levaram à crendice, desses atos, Justo L. González escreve no capítulo VII. Tal crendice auferiu tamanha força que dos cristãos se achava que odiavam a humanidade, evidentemente esta idéia também é baseada na não participação dos cristãos nas atividades pagãs comuns aos romanos, o que indicava que os cristãos eram desinteressados na manutenção da ordem e do bem estar geral.

Mas a brutalidade da perseguição impetrada por Nero foi tamanha que ficou óbvio que os cristãos não eram mais torturados e mortos pelo dolo do incêndio ou pelo fato de serem cristãos e carregarem o estigma de um nome odioso por suas práticas abomináveis, mas, “via-se que eles não eram destruídos para o bem público, mas para satisfazer a crueldade de uma pessoa.” (Anais 15:44). Tácito deixa claro que os cristãos serviram como um “bode expiatório” para resguardar o imperador Nero.

2º Conflito: A perseguição de Domiciano

Após Nero ser deposto, seguiu-se um tempo de relativa calmaria para os cristãos. Este período durou mesmo após o ano 81 quando o novo imperador Domiciano assumiu o trono. No entanto, no final do reinado, Domiciano ampliou o alcance da perseguição para, além dos cristãos, os judeus.

A cidade de Jerusalém estava arrasada e Domiciano determinou que as contribuições anuais, anteriormente enviadas a Jerusalém, fossem enviadas às arcas imperiais. Esta medida não agradou os judeus que deixaram claro o lugar de primazia de Jerusalém e não de Roma, alguns judeus inclusive se recusaram a pagar o tributo. Tal atitude desagradou Domiciano que passou a perseguir os judeus exigindo o pagamento do imposto. Como as definições e distinções entre cristianismo e judaísmo não estavam aclaradas, a perseguição foi imposta a todos que exerciam “costumes judaicos”, logo, atingindo cristãos e judeus.

Mas a questão tributária não era a única natureza do conflito, o imperador Domiciano era adepto das antigas tradições romanas e sua política visava restaurá-las, mas o cristianismo, como nova religião, representava uma ameaça a estas remotas tradições. Não se podia entender um cidadão romano que não estivesse ligado às antigas tradições religiosas, de fato, “Essa mesma religião, que fundara as sociedades e as governara por muito tempo, igualmente moldou a alma humana e emprestou ao homem o seu caráter.” (Coulanges, 1864, p.238). O cristão se via obrigado a não participar das atividades relacionadas às antigas tradições da religião romana, mas, o teatro, o exército, as letras, os esportes, a política, tudo estava relacionado aos cultos pagãos.

Domiciano percebe que o crescimento do cristianismo significaria uma diminuição do número de participantes nas atividades do Estado e isto, imaginava, seria o enfraquecimento de Roma, portanto, a perseguição de cristãos se tornava necessária para garantir a continuidade do próprio império.

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